POLÍTICA

Hacker Walter Delgatti é condenado a 20 anos de prisão no caso que deu origem à Vaza Jato

Condenação vem poucos dias após Delgatti acusar o ex-presidente de ter planejado uma ação para descredibilizar as urnas eletrônicas

Por Gabriel Mansur
redacao@jb.com.br

Publicado em 21/08/2023 às 19:15

Walter Delgatti, hacker de Araraquara Foto: Bruno Spada/Câmara dos Deputados

O juíz Ricardo Augusto Soares Leite, substituto da 10ª Vara Federal Criminal do Distrito Federal, condenou, nesta segunda-feira (21), o hacker Walter Delgatti Neto a 20 anos e um mês de prisão, além de 736 dias-multa, no âmbito da Operação Spoofing, deflagrada em 2019, que apura vazamento de conversas de autoridades ligadas à Operação Lava Jato.

A condenação vem poucos dias após Delgatti acusar o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) de ter planejado uma ação para descredibilizar as urnas eletrônicas.

O magistrado avaliou que ficou comprovado que muitas autoridades foram hackeadas por uma "organização criminosa" que, segundo ele, de forma "inequívoca", era liderada por Delgatti.

"A amplitude das vítimas é imensa e poderia render inúmeras ocasiões de extorsões", escreveu o magistrado. "Seus ataques cibernéticos foram direcionados a diversas autoridades públicas, em especial agentes responsáveis pela persecução penal, além de diversos outros indivíduos que possuem destaque social, bastando verificar as contas que tiveram conteúdo exportado. É reincidente, conforme comprova sua ficha criminal e possui outros registros penais“, continuou o juiz.

Soares Leite também pontuou que Delgatti chegou a propor a venda do material hackeado para a imprensa por R$ 200 mil. Também foram condenadas outras pessoas que atuaram junto com o hacker:

  • Gustavo Henrique Elias Santos: 13 anos e 9 meses
  • Thiago Eliezer Martins Santos: 18 anos e 11 meses
  • Suelen Priscila De Oliveira: 6 anos
  • Danilo Cristiano Marques: 10 anos e 5 meses

A ação dos hackers deu origem à série de reportagens conhecida como Vaza Jato. As matérias decorrentes dos diálogos expuseram a proximidade extraoficial entre integrantes do Ministério Público Federal envolvidos na operação, liderados por Deltan Dallagnol, e magistrados responsáveis por julgar os processos, especialmente Sergio Moro.

As acusações contra ele são:

  • invadir dispositivo informático de uso alheio para obter, adulterar ou destruir dados sem autorização;
  • interceptar comunicações telefônicas, de informática ou telemática, ou quebrar segredo da Justiça;
  • organização criminosa; 
  • lavagem e ocultação de bens, direitos e valores

Na última quinta-feira (17), em depoimento à CPMI do Golpe, Delgatti fez graves críticas a Moro, hoje senador pelo União Brasil e membro do colegiado. Entre as denúncias, Delgatti afirmou que foi vítima de"perseguição".

“Fui vítima de uma perseguição em Araraquara, equiparada à que vossa excelência fez com o presidente Lula”, disse Delgatti ao ex-juiz. “Ressaltando que li as conversas de vossa excelência, li a parte privada, e posso dizer que o senhor é um criminoso contumaz. Cometeu diversas irregularidades e crimes", disparou.

Walter Delgatti está preso preventivamente desde 2 de agosto, devido a outro processo. Naquele dia, a Polícia Federal deflagrou uma operação contra os responsáveis por uma invasão ao sistema informatizado do Poder Judiciário. A corporação também cumpriu mandados de busca e apreensão em endereços ligados à deputada federal Carla Zambelli (PL-SP).

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