POLÍTICA

Lula propõe moeda comum e retomada da Unasul em cúpula com líderes da América do Sul; veja propostas

Presidente reforçou necessidade de integração para desenvolvimento da região. Ao todo, 10 chefes de estado participam da reunião

Por Gabriel Mansur
redacao@jb.com.br

Publicado em 30/05/2023 às 13:49

Alterado em 30/05/2023 às 20:08

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva se reúne com presidentes de países da América do Sul, no Palácio do Itamaraty Marcelo Camargo/Agência Brasil

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) abriu, nesta terça-feira (30), a cúpula de presidentes dos países da América do Sul, no Palácio Itamaraty, em Brasília.

A reunião foi organizada pelo mandatário brasileiro com o intuito de retomar a cooperação entre as nações vizinhas e reuniu os seguintes países:

  1. Argentina (Alberto Fernández);
  2. Bolívia (Luís Arce);
  3. Chile (Gabriel Boric);
  4. Colômbia (Gustavo Petro);
  5. Equador (Guillermo Lasso);
  6. Guiana (Irfaan Ali);
  7. Paraguai (Mário Abdo Benítez);
  8. Suriname (Chan Santokhi);
  9. Uruguai (Luís Lacalle Pou);
  10. Venezuela (Nicolás Maduro).

Em seu discurso, o petista ressaltou a vontade do país de retomar instrumentos de integração regional, como a União de Nações Sul-Americanas (Unasul) e a Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac).

"A América do Sul tem diante de si, mais uma vez, a oportunidade de trilhar o caminho da união. E não preciso recomeçar do zero. A Unasul é um patrimônio coletivo. Lembremos que ela está em vigor, sete países ainda são membros plenos. É importante retomar seu processo de construção, mas, ao fazê-lo, é essencial avaliar criticamente o que não funcionou e levar em conta transições", disse.

Na fala, o presidente também sugeriu a criação de um grupo formado por representantes pessoais de cada presidente, para aprofundar o debate sobre as questões.

A proposta é que, com base nas decisões tomadas na reunião desta terça, o grupo tenha 120 dias para apresentar propostas de integração para a América do Sul. Ele enfatizou o desejo de aproximação entre os países da região para fortalecimento local.

"Enquanto estivermos desunidos, não faremos da América do Sul um continente desenvolvido em todo o seu potencial. A integração deve ser objetivo permanente de todos nós. Precisamos deixar raízes fortes para as próximas gerações", disse.

Lula também reforçou o desejo de estabelecer uma moeda local para o comércio na América do Sul, em vez do dólar.

Propostas

Lula propôs 10 temas para discussão entre os presidentes e representantes que participaram do encontro. Entre as questões para análise, estão medidas para ampliar a integração dos países da região na área energética, em acordos comerciais e na mobilidade de estudantes e pesquisadores.

Antes de sugerir as medidas, o presidente deixou claro que as iniciativas eram apenas sugestões e que os temas ainda seriam discutidos ao longo do dia pelos mandatários sul-americanos.

Veja abaixo a lista de propostas do presidente:

  • Moeda comum: criação de uma "unidade de referência comum para o comércio, reduzindo a dependência de moedas extrarregionais" e mecanismos de compensação mais eficientes;
  • Economia: colocar a poupança regional a serviço do desenvolvimento econômico e social, mobilizando os bancos de desenvolvimento como a CAF, o Fonplata, o Banco do Sul e o BNDES;
  • Regulação: implementar iniciativas de convergência regulatória, facilitando trâmites e desburocratizando procedimentos de exportação e importação de bens;
  • Atualização da cooperação: ampliar os mecanismos de cooperação de última geração, que envolva serviços, investimentos, comércio eletrônico e política de concorrência;
  • Infraestrutura: atualizar a carteira de projetos do Conselho Sul-Americano de Infraestrutura e Planejamento (Cosiplan), reforçando a multimodalidade e priorizando os de alto impacto para a integração física e digital, especialmente nas regiões de fronteira;
  • Meio ambiente: desenvolver ações coordenadas para o enfrentamento da mudança do clima;
  • Saúde: reativar o Instituto Sul-Americano de Governo em Saúde, que nos permitirá adotar medidas para ampliar a cobertura vacinal, fortalecer nosso complexo industrial da saúde e expandir o atendimento a populações carentes e povos indígenas;
  • Energia: lançar a discussão sobre a constituição de um mercado sul-americano de energia, que assegure o suprimento, a eficiência do uso de nossos recursos, a estabilidade jurídica, preços justos e a sustentabilidade social e ambiental;
  • Educação: criar programa de mobilidade regional para estudantes, pesquisadores e professores no ensino superior, algo que foi tão importante na consolidação da União Europeia;
  • Defesa: retomar a cooperação na área de defesa com vistas a dotar a região de maior capacidade de formação e treinamento, intercâmbio de experiências e conhecimentos em matéria de indústria militar, de doutrina e políticas de defesa.

Divergências ideológicas

Segundo o presidente brasileiro, a gestão anterior permitiu que diferenças ideológicas afastassem o Brasil dos fóruns regionais de integração.

"Na região, deixamos que as ideologias nos dividissem e interrompessem o esforço de integração. Abandonamos canais de diálogos e mecanismos de cooperação e, com isso, todos perdemos", disse Lula.

"Tenho firme convicção de que precisamos reavivar nosso compromisso com a integração sul-americana. Quando assumi a presidência, em 1º de janeiro deste ano, a América do Sul voltou ao centro da atuação diplomática brasileira", seguiu.

Guerra, pandemia e atos golpistas

No discurso de abertura da Cúpula de presidentes dos países da América do Sul, como é chamado o evento, Lula também citou os impactos da invasão da Rússia sobre o território da Ucrânia para os países sul-americanos.

Enumerou, ainda, a pandemia da Covid e atos antidemocráticos no Brasil e no exterior como causas de retrocessos para indicadores sociais na América do Sul.

"Todos sofremos as consequências da guerra. O conflito da Ucrânia desestabilizou o mercado de energia e fertilizantes, e provocou a volatilidade dos preços dos alimentos, deteriorando nossas condições de vida. Quando as cadeias de suprimentos globais foram afetadas por esses fatores, nossas carências em infraestrutura e nossas vulnerabilidades externas foram expostas", disse.