Por que Alexandre de Moraes deve explicações ao país

O Estado Democrático de Direito não pode tolerar esse grau de promiscuidade entre poder público e interesses privados

Por FLORESTAN FERNANDES

Ministro Alexandre de Moraes

A coluna da jornalista Malu Gaspar, publicada hoje (22/12) em O Globo, traz uma informação extremamente grave e alarmante: o ministro Alexandre de Moraes teria procurado o presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, ao menos quatro vezes para pressionar em favor do Banco Master.

Como a própria colunista revelou na semana passada, o escritório da esposa do ministro, Viviane Barci de Moraes, mantinha contrato com o Banco Master que previa o pagamento de R$ 3,6 milhões mensais, por um período de três anos, a partir de janeiro de 2024. O contrato estabelecia que o escritório representaria o banco junto à Receita Federal, ao CADE e ao Banco Central.

No entanto, informações obtidas por meio da Lei de Acesso à Informação revelam um dado ainda mais inquietante: não existem registros públicos de reuniões ou contatos do escritório de Viviane Barci com o poder público, especialmente com o Banco Central, em favor do Banco Master, controlado por Daniel Vorcaro. Essa ausência de informações não é um detalhe administrativo irrelevante. Ela impede saber com quem o escritório teria tratado, em que circunstâncias e por quais canais institucionais.

Caso se confirmem registros de intervenções diretas do ministro Alexandre de Moraes junto ao Banco Central, seu afastamento poderá deixar de ser uma questão política da extrema-direita e se tornar uma exigência legal. A suspeita é grave demais para ser relativizada ou tratada com silêncio.

Diante da contundência das revelações feitas por Malu Gaspar, é inaceitável que tanto o Ministro, quanto o escritório de sua esposa permaneçam calados. O silêncio, neste caso, não protege reputações, apenas reforça a percepção de que o cargo público pode ter sido instrumentalizado para viabilizar um lobby milionário em benefício privado.

Como alertou um jurista de reconhecida autoridade, se essas informações forem confirmadas, não se trata de mera irregularidade administrativa ou de um conflito de interesses menor. Estaríamos diante de indícios de crimes graves, como tráfico de influência e possível organização criminosa. O Estado Democrático de Direito não pode tolerar esse grau de promiscuidade entre poder público e interesses privados, ainda mais quando envolve um ministro do Supremo Tribunal Federal.

É urgente que o ministro Alexandre de Moraes, impecável na defesa da democracia e do Estado Democrático de Direito no processo que culminou com condenação e prisão do núcleo principal da tentativa de golpe de Estado, venha a público prestar esclarecimentos claros, objetivos e documentados à sociedade brasileira.

Florestan Fernandes é jornalista

Este artigo foi publicado originalmente no site Brasil 247

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