Extremos expostos
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No cassino político nacional e internacional, o “crupiê“ acaba de fechar as apostas. E a bolinha rola ensandecida, ela própria temerosa de onde irá parar. “Rien ne va plus”. Mal comparando, é como o momento fatal em que o paraquedista teme que sua queda livre não seja interrompida pelo solavanco salvador. “Rien ne va plus”.
Há em tudo e em todos o sentimento pesado da frustração. No grande cassino em que transformou a geopolítica mundial, Trump jogou em direção oposta dois drones a riscar o espaço como busca-pés a anunciar a volta ao velho e cansado mundo velho.
Primeiro a Europa, chamando-a de decrépita pelo fato de buscar, na União Europeia, tornar-se um espaço comum e um mercado relevante. Trump a rebaixa à condição de personagem assombrada no cenário internacional. De um lado, indecorosamente, considera como tábuas de salvação partidos neonazistas que surgem do lodo autoritário. De outro, faz vista grossa à ostensiva ameaça de Putin, com seu arsenal nuclear, de simplesmente exterminá-la em uma tarde do próximo outono.
Na cabeça de Trump, o episódio lhe faz merecedor do grande prêmio da Paz da FIFA. Mal sabe ele que é considerado pelos craques o rei dos gols contra. De qualquer forma, fica estabelecido que na nova geopolítica mundial a NATO ou OTAN, como queiram, encaminha-se para o arquivo morto.
O segundo Drone malemolente de Trump se desloca como estrela cadente ao Sul, onde ficam nossas praias e suas terras raras. E aqui, reveste-se de trapos o velho e bonachão Tio Sam, tendo ao ombro o azarado Zé Carioca, ambos a bordo do porta-aviões do Tio Patinhas, membro fundador da família unidas. O filme é velho e nem o eventual sapateado do Fred Astaire ou o rebolado de Carmem Miranda entram em cena. Preserva-se um certo decoro.
Há quem veja neste drone uma nova Arca de Noé. Ah! Pobres letrados de “fake News” . Lembram da pata do gato? Pois é, estamos diante dela, gatuna a se esfregar em nossas pernas como gatona astuta. Pois se há algo de importante a fazermos hoje em dia é reaprendermos a ler. Nada de leitura dinâmica, kennediana. Nada de leitura de telinha. Nada de leitura de “big-techs” assanhadas que nos tornam míopes diante de mentiras garrafais. Nada disso. Brasil se escreve com “s” de solidário, e não com “Z“ de zebra. E o “b” também não é de burro.
E se sabemos ler, devemos ler com atenção o que a nova bula trumpeana (bula de elixir paregórico e não papal) nos ensina sobre o novo catecismo dos bons crentes nas doutrinas Monroe da vida. Ali se diz que nossas terras são raras, mas, sabemos todos que são nossas, e ninguém melhor dos que os preceitos constitucionais nos ensinarão como delas melhor aproveitar.
Tudo isso, para cúmulo, a ser jogado por maquiáveis de papelão na boca de inferno, codinome de política partidária brasileira. Jogo de guerra em que sofisticados larápios puxam as cordinhas da corrupção em nome do pátria amada idolatrada. E lesada.
Porém - ainda bem que sempre há um porém -, sabemos todos que tanto nos Estados Unidos quanto no Brasil teremos eleições legislativas. Aqui todo mundo quer abocanhar o Senado para demitir juízes do Supremo. Mais uma vez, repito, “Rien ne va plus”. Os jogos estão feitos.
Resta saber se você - sobretudo você que acha votar uma perda de tempo - sairá de sua bolha de conforto para ir até a sua urna eletrônica tão mal-falada, mas de honestidade a toda prova, e nela escrever um maiúsculo NÃO a esses alucinados que nos querem levar a uma eterna guerra entre irmãos em nome de absurdas idolatrias, não a bezerros, mas a obesas vacas de tetas de ouro roubado.
Vacas daqui e amigadas com as de lá, “cowboy”.
Adhemar Bahadian. Embaixador aposentado