ARTIGOS

Transição do modelo de trabalho, o presencial voltou.

Por CRISTIANA AGUIAR
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Publicado em 01/04/2024 às 17:38

Alterado em 01/04/2024 às 17:38

Em 2017, houve uma evolução na legislação trabalhista. A Reforma trouxe regras para o teletrabalho, evocou um olhar ainda mais atento para a ergonomia e regulamentou os direitos e deveres dos colaboradores e empregadores. No entanto, o novo regime era pouco utilizado.

O que não sabíamos à época era que, dois anos depois, a COVID- 19 chegaria, colocando as pessoas forçosamente em casa em 2020. Com as necessidades e dúvidas em ebulição, aprendemos a nos adaptar e enfrentamos o novo desafio com “a roda girando”.

Muitas foram as conquistas, entre elas posso citar: mais autonomia, redução de custos, aumento da produtividade em função da satisfação e a reorganização do tempo, e até mesmo, estreitamento de vínculos.

Também tivemos perdas, um aumento do nível de estresse, elevação dos casos de burnout em função do confinamento e do elevado número de horas trabalhadas. Algumas pessoas entraram em looping (palavra utilizada para repetição infinita), eram reuniões em sequências que não as permitiam sair de frente da tela do computador.

Em 2022, chega o aprimoramento da Reforma Trabalhista de 2017, regulamentando o trabalho híbrido. Até esse momento, muitas mudanças já tinham ocorrido, as pessoas já tinham mudado seu modo de trabalhar, algumas mudaram de cidade e até de país.

Interessante ressaltar que a lei respalda a obrigatoriedade de um comum acordo para que o colaborador trabalhe de casa, mas chancela a prática de que o mesmo deve voltar ao regime presencial assim que o empregador o convocar. Tal autorização tem sido motor para muitos casos judiciais, abertos por indivíduos que, por motivos de saúde, ou por terem que cuidar de parentes, recusam-se a voltar ao regime 100% presencial.

Mas por que tantas empresas têm chamado seu “exército” de volta ao combate?

Será que o olho do dono é que engorda o boi?

Para entendermos um pouco mais sobre essa tendência, é preciso passearmos na era do feudalismo. Naquele tempo, existiam as pessoas empoderadas, ou seja, os senhores feudais, e o restante era mão de obra servil.

Muitas empresas, infelizmente, ainda carregam esse estigma, ou esse modus operandi.

No Brasil as pequenas e médias empresas são a principal força motriz da economia, por atuarem na maior fonte de renda e emprego da população, e algumas delas não se importam em evoluir em transparência ou governança, justamente para não ter que sair do modelo comando-controle, no qual os maiores benefícios são direcionados para os donos e pessoas mais próximas, e os colaboradores apenas trabalham.

Contudo, esse modelo está completamente fadado ao insucesso. Segundo inúmeras pesquisas, não se sustentará até 2050. A tendência é que cada vez mais as pessoas trabalhem com senso de missão e propósito.

Estamos na era da trabalhabilidade, na qual o meu conhecimento acadêmico é muito importante, mas eu me sustento pelo que entrego.

É o tempo do portfólio pessoal, da democratização do conhecimento e da visibilidade das ideias. As empresas que não valorizarem seus talentos, não conseguirão retê-los.

Para alguns, é o tempo do mimimi da geração mais nova, mas eu prefiro entender como ativismo.
Enquanto que para a geração dos baby boomers a regra era: manda quem pode e obedece quem tem juízo, para as gerações X e Y é preciso lançar um hashtag para o colega de trabalho. Eles não confrontam, apenas interagem entre si. Já a geração Z coloca a “boca no trombone”.

Qual está certa? Todas. A questão é saber a hora adequada para cada atitude.

O desafio é justamente construir um diálogo intergeracional, o qual permite um aprendizado constante e propicia o ambiente necessário para o nascimento da confiança.

O modelo presencial está voltando impulsionado, em parte, pela falta de confiança nas pessoas. A confiança é pequena porque não é construída, e não é construída por falta de espaços de diálogos. Não conversamos porque não estamos dispostos, e assim vai...

É preciso cortar esse ciclo vicioso e aproveitar os benefícios das equipes que trabalham por um propósito, com missão compartilhada e engajamento genuíno.

Ou será que queremos voltar ao sedentarismo, às doenças cardiovasculares e diabetes causados por horas trancafiados em trânsito e escritórios?

Alguns podem concluir que o modelo home-office também é muito estressante, e pode ser de fato.
Na verdade, a reflexão que gostaria de trazer é sobre a importância de não mais haver modelos impostos, e sim espaços de diálogos nos quais os regimes de trabalho são escolhidos respeitando as demandas e necessidades, tanto das organizações, quanto dos colaboradores.

No frigir dos ovos, no apagar das luzes, pessoas precisam de pessoas, e a conversa franca é o único caminho de acerto.

Encerro esse artigo com uma frase linda que escutei esses dias.

“Procurei a Deus e não encontrei, achei o meu próximo e nos encontramos os três.”

Se importar com o outro será sempre uma via de sucesso, é honrar o Criador.



Cristiana Aguiar. Economista. CEO da Jeito Certo Consultoria. Conselheira no Conselho Empresarial de Varejo da ACRJ. Especialista em Gestão de Negócios e Pessoas.