Kakay: A 13ª Vara de Moro era um sumidouro de dinheiro
Busca e apreensão na 13ª Vara de Curitiba tem como foco o ex-juiz. 'Ele chegou ao Supremo, mas não como queria'
Por Yuri Ferreira - Em entrevista ao programa Fórum Onze e Meia desta sexta-feira (17), o advogado criminalista Antônio Carlos de Almeida Castro, o Kakay, não economizou palavras sobre Sérgio Moro.
Para o jurista, a imprensa brasileira não está dando a devida atenção à decisão do ministro Dias Toffoli, do Supremo Tribunal Federal (STF), que determinou uma busca e apreensão na 13ª Vara Federal de Curitiba após denúncias de Tony Garcia — a mesma onde nasceu a Operação Lava Jato e onde o hoje senador pelo União Brasil do Paraná construiu sua notoriedade.
“Um ministro do Supremo mandou fazer uma busca e apreensão, e essa busca e apreensão chama-se Sérgio Moro”, resumiu Kakay.
Para ele, a medida é um passo crucial para revelar “questões gravíssimas” sobre o funcionamento da força-tarefa que marcou a história política do país.
O advogado, conhecido por sua atuação em causas de grande repercussão, lembrou que já conseguiu anular todos os processos de Alberto Youssef — personagem central da Lava Jato — por decisão do mesmo ministro Toffoli. Ele questionou como reaver os valores obtidos pela 13ª Vara nas ações judiciais para que seu cliente fosse ressarcido. Mas não achou.
“Pra onde foi o dinheiro dele? Ninguém sabe. A 13ª vara, existe um sumidouro, é muito importante essa busca e apreensão que está sendo feita agora”, afirmou.
Segundo Kakay, a falta de transparência nas movimentações financeiras e processuais daquela vara foi um dos elementos mais obscuros da operação. Ele afirma que a Lava Jato criou um sistema paralelo de poder, com juízes, procuradores e delegados atuando fora dos limites da legalidade. "Ele coordenava o que eu chamo de procuradores adestrados e parte da Polícia Federal.”, disse.
Kakay acredita que a decisão de Toffoli abre caminho para uma devassa sobre a real extensão das irregularidades cometidas em Curitiba. “É importantíssima uma investigação que pode, de certa forma, mostrar ao Brasil quem realmente eram aqueles que determinavam os destinos do país”, afirmou.
Vale relembrar o relatório do Conselho Nacional de Justiça contra Sérgio Moro e assinado pelo juiz Luis Felipe Salomão, que apontou inúmeras regularidades nas práticas da Lava Jato.
O advogado também ironizou o atual momento político de Sérgio Moro, que deixou a magistratura para virar ministro da Justiça de Jair Bolsonaro (e chegou a ser cotado para o posto de ministro do Supremo Tribunal Federal), e hoje enfrenta uma série de investigações.
Além da busca e apreensão, o ex-juiz também é réu em um processo no STF por declarações ofensivas ao ministro Gilmar Mendes. Kakay considera inevitável uma condenação.
“É muito grave um juiz federal falar que ia comprar um habeas corpus. Mesmo de forma jocosa, isso é inaceitável. Eu acho que ele será condenado”, disse.
A consequência política, porém, não o entusiasma. “Essa condenação vai torná-lo inelegível, mas eu preferia vê-lo fora da disputa por uma condenação criminal referente à Lava Jato”, comentou. Para Kakay, os crimes que marcaram aquele período ainda não foram devidamente apurados.
“Ele chegou ao Supremo, mas não como queria”, provocou. "Ele precisa prestar contas sobre o que acontecia na 13ª Vara", completa.