JUSTIÇA

Em novo depoimento, Tacla Duran acusa procurador Carlos Fernando

Com base nesse depoimento, o juiz Eduardo Appio encaminhou cópia da audiência para o Superintendente da Polícia Federal do Paraná.

Por JORNAL DO BRASIL COM JORNAL GGN
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Publicado em 10/05/2023 às 06:20

Alterado em 10/05/2023 às 08:28

O ex-procurador Carlos Fernando dos Santos Lima Reprodução

LUIS NASSIF - Em depoimento dado nessa segunda (8) à 13a Vara Federal de Curitiba, o advogado Tacla Duran detalhou parte de suas denúncias sobre a suposta venda de proteção da Lava Jato.

O depoimento foi solicitado pelo ex-vice-presidente do Equador, Jorge David Glas Espinel, para o processo que sofre no seu país, em função das denúncias da Lava Jato sobre a ação da Odebrecht. Devido às decisões do Supremo Tribunal Federal, não se autorizou a menção a suspeitos com prerrogativa de foro – como o hoje senador Sérgio Moro e o deputado federal Deltan Dallagnol.

Mesmo assim, Tacla detalhou o que ele chama de achaques por parte da Lava Jato, através do advogado Carlos Zucolotto, compadre de Sérgio Moro.

Em seu depoimento, Tacla mencionou o medo de executivos de serem presos. Especialmente o diretor da Odebrecht no Equador, que não tinha o que delatar, mas acabavam levantando qualquer fato para evitar a prisão. O diretor no Equador forjou elementos para poder justificar um acordo de delação.

Segundo Tacla, ele procurou o advogado correspondente do seu escritório em Curitiba, Carlos Zucolotto, que passou a solicitar dinheiro para poder fazer acordo com os procuradores da Lava Jato.

Em junho de 2016, Tacla Duran teria procurado o advogado Marlus Arns de Oliveira – que trabalhava com a APAE (Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais) de Curitiba, em contato direto com a diretora jurídica Rosângela Moro.

A indicação foi de Wu Yu Sheng, doleiro que trabalhava diretamente com a Odebrecht e que jamais foi processado pela Lava Jato de Curitiba, apesar de ter aparecido em vários depoimentos e ter dado suporte para todas as denuncias do Departamento de Operações Estruturadas, a fonte das propinas da Odebrecht. Ele recomendou Marlus, relatou a alta taxa de sucesso na celebração de acordos com a força tarefa, E usou a expressão de que “o dr. Marlus fazia parte da panela dos advogados amigos dos procuradores”, como Antonio Augusto Frederico Bastos.

Contou também que Frederico Bastos liderava um esquema de taxa de proteção, que era cobrado do doleiro Dario Messer e outros doleiros, desde o caso Banestado. Segundo Tacla, os advogados da Odebrecht já sabiam que Figueiredo Bastos estava por trás da operação do doleiro mais ligado à Lava Jato que era Alberto Youssef. Ao mesmo tempo, Figueiredo Bastos coordenava a delação de Ricardo Pessoa, da UTC, que era sócio de fato de e direito de Alberto Youssef.

Wu Yu também teria relatado que ele também participou das operações de pagamento dessa taxa de proteção. Depois, Wu teria pago 500 mil dólares ao próprio Marlus Arns para não ser processado em Curitiba. Pagou parte por dentro parte por fora, pelo Banco Paulista. Disse que a operação vinha desde o Banestado, por conta da atuação do então procurador Carlos Fernando Santos Lima e seu pai. Segundo Tacla, o pagamento era feito ao próprio Carlos Fernando.

Wu só foi processado no Rio de Janeiro, por conta da atuação de procuradores que evitavam usar o nome de Lava Jato. Wu também teria contado que recebeu 750 mil dólares de Figueiredo Bastos enviado de uma conta do banco Vontobel, da Suíça. Tacla apresentou o número da conta. O dinheiro teria sido entregue em espécie nos escritórios de Figueiredo Bastos e Carlos Zucolotto para pagamento de Carlos Fernando e seu pai.

Outra empresa que conseguiu proteção foi Pecus S.A. envolvida na questão das máquinas dos pardais. A empresa era cliente de Zucolotto e foi delatada pelo doleiro Adir Assad, em acordo homologado pela 13a Vara. E também nunca foi denunciada. Os pagamentos de Figueiredo Bastos para Wu foram feitos em 20 de maio de 2016, em 7 de junho e 17 de junho. O dinheiro foi entregue nos escritórios de Figueiredo Bastos e Carlos Zucollotto para o escritórios de Carlos Fernando.

Segundo Tacla, se cruzar os dados do sistema da Odebrecht em vários inquéritos, se perceberá que não batem, mostrando terem sido fraudados. As fraudes teriam sido cometidos por um técnico de nome Paulo Soares.

Com base nesse depoimento, o juiz Eduardo Appio encaminhou cópia da audiência para o Superintendente da Polícia Federal do Paraná.

Obviamente, só depois de completado o inquérito e procedido ao julgamento, se saberá qual o nível de culpa ou inocência de cada um dos mencionados.