Prefeitura de SP: Nunes dá R$ 4 milhões a evento da igreja Lagoinha, dos Valadão
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Por Henrique Rodrigues - A Prefeitura de São Paulo, comandada pelo bolsonarista Ricardo Nunes (MDB), destinou um total de R$ 5 milhões em recursos públicos para apoiar dois eventos ligados a igrejas evangélicas no fim do ano, incluindo R$ 4 milhões para a Convenção Batista Lagoinha, pertencente à família de milionários Valadão, e R$ 1 milhão para uma celebração na Igreja Renascer em Cristo. Esses repasses ocorrem enquanto a capital paulista lida com problemas crônicos, como residências sem energia elétrica por conta de quedas de árvores e enchentes constantes em várias áreas.
O primeiro evento financiado pela prefeitura aconteceu sábado (27), com apresentações musicais em um espaço chamado Renascer Arena, que funciona há dez anos como locação para a Igreja Renascer em Cristo, apesar de ter sido construído originalmente como ginásio de um clube de futebol local. Os contratos públicos cobriram os cachês de sete artistas gospel, somando exatamente R$ 1 milhão: Aline Barros por R$ 220 mil, Anderson Freire por R$ 180 mil, Imaginaline por R$ 140 mil, Preto no Branco por R$ 120 mil, Jottape por R$ 100 mil, Nesky Only por R$ 90 mil, André e Felipe por R$ 80 mil, e Soraya Moraes por R$ 70 mil. Os documentos oficiais de contratação não fazem referência explícita ao caráter religioso da programação.
Já o aporte maior, de R$ 4 milhões, veio da Secretaria Municipal de Turismo como patrocínio para o Vira Brasil – São Paulo, organizado pela Convenção Batista Lagoinha, que tem em sua liderança o pastor André Valadão, conhecido por seus hábitos luxuosos e estilo de vida nababesco, a ser realizado na Neo Química Arena, estádio do Corinthians, durante a virada do ano. Desse valor, R$ 2.792.690 foram direcionados ao aluguel do local. O evento oferece entradas gratuitas em um setor e pagas em outros, com preços que chegam a R$ 3 mil e R$ 7 mil, além de taxas adicionais.
A iniciativa repetiu uma edição anterior no Allianz Parque, que provocou queixas de moradores próximos pelo barulho prolongado até a madrugada. Naquele momento, a prefeitura inicialmente negou a licença, mas reverteu a decisão após a Câmara Municipal aprovar rapidamente uma mudança na lei de controle de ruídos, alteração que foi anulada pela Justiça em setembro, mantendo as restrições originais em vigor.
Para a versão deste ano, a localização mudou para a arena corintiana após envolvimento pessoal de Nunes, que compareceu a um culto evangélico em 30 de novembro para anunciar o suporte ao lado de Valadão. “Queria te agradecer. Quando você estava nos EUA, você falando por vídeo, você falando da sua vontade de fazer essa grande festa para o povo… Estou muito feliz de estar ajudando. Eu te amo, cara”, declarou o prefeito na ocasião. Inicialmente, Valadão pagou R$ 40 mil por uma solicitação de licença no estádio anterior, mas o plano foi ajustado.
O pedido formal de patrocínio, encaminhado por Valadão à prefeitura em 13 de dezembro, descreve o objetivo como “Realizar um grande evento de virada de ano que una arte, cultura e propósito, transformando São Paulo em um ponto de encontro para famílias brasileiras, jovens e comunidades celebrarem o novo ano com esperança e alegria. O projeto busca fortalecer a cultura brasileira, inspirar pessoas por meio da música e promover um ambiente de integração social, valorização cultural e celebração dos laços que unem o povo brasileiro”.
Gastos com atividades associadas a denominações evangélicas geram questionamentos por todo o Brasil desde a ascenção do bolsonarismo como movimento ideológico-religioso. Numa megalópole como São Paulo, onde há inúmeras prioridades orçamentárias, especialmente diante das necessidades urgentes da população, como reparos em redes elétricas e medidas contra inundações regulares na cidade, um gasto exorbitante como esse, para satisfazer o ego de pastores influentes, causa revolta e reclamações generalizadas por parte dos munícipes.
