Greve na Petrobras atinge 40 plataformas

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Por Gilberto Menezes Côrtes

A plataforma P-74, que opera no pré-sal da Bacia de Santos

No primeiro dia de greve dos funcionários da Petrobras, decretada pela Federação Única dos Petroleiros (FUP), que representa os sindicatos dos trabalhadores da estatal em todo o país, várias refinarias estão operando sem rendição de turno e nada menos de 40 plataformas de produção de petróleo e gás estão com as atividades afetadas.

Até agora estão em estado de greve cerca de nove plataformas que operam atreladas a navios plataformas FPSO que concentram o recebimento da produção dos gigantescos campos do pré-sal. São elas a P-35; P-38; P-40; P-43; P-48; P-51; -54; P-56 e P-62

As FPSOs separam a água que vem com o petróleo das profundezas do mar e estocam o óleo e o gás, sendo o excedente reinjetado nos poços. A plataforma Almirante Tamandaré produziu o recorde de 270 mil barris equivalentes de óleo e gás no campo de Tupi em outubro.

A greve foi declarada após as negociações não avançarem em três pontos: o fim dos planos de equacionamentos dos déficits da Petros (o fundo de pensão da companhia, que aumentou os descontos mensais dos salários); o aprimoramento no plano de cargos e salários e garantias contra mecanismos de ajuste fiscal; e a de defesa de modelo de negócios alinhado ao fortalecimento da estatal para barrar o avanço de parcerias e terceirizações que, segundo a FUP “precarizam o trabalho” e abrem espaço às privatizações.

Outra reclamação diz respeito à distribuição de R$ 37,7 bilhões em dividendos de janeiro a setembro, mas a companhia só ofereceu reajuste real de 0,5% (acima da inflação) no Acordo Coletivo de Trabalho, em discussão.

As plataformas atingidas

Já houve desembarque de trabalhadores da P-58 e P-57 (bases do Sindipetro ES), da P-40 e da P-56. A orientação é que todos que aderirem à greve nas refinarias e nas plataformas entreguem a operação às equipes de contingência e peçam para serem liberados e desembarcados.

Plataformas em greve:

P-09; P-18; P-19; P-20; P-25; P-31; P-33; P-35; P-37; P-38; na P- 40 uns 90% aderiram à greve; P-43; P-47; P-48; P-51 (100% de adesão...primeiros 13 descerão somente no final do dia...ficarão ainda cerca de 40 para desembarcar);P-52;  P-54; P-55; P-56; P-57 P-58; P-62; P-66; P-67; P-68; P-69; P-70; P-71; P-74; P-75; P-76; P-77; P-78; P-79; PNA1; PNA2; UMMA; UMVT; UMGR; UMS-ES

Refino e outras bases no país:

Amazonas: Terminal Aquaviário de Coari – 100% de adesão dos trabalhadores da operação.

Rio Grande do Norte: EDIRN – adesão de 90% dos trabalhadores da sede administrativa da Petrobrás em Natal.

Bahia: Campos de produção terrestre – adesão dos trabalhadores das bases de Fazenda Bálsamo (Esplanada), de Santiago (Catu), de Taquipe (São Sebastião do Passé), de Buracica (Alagoinhas) e de Araçás. Na Torre Pituba, onde ficam os trabalhadores da sede administrativa da Petrobras em Salvador houve atraso na entrada do expediente.

Minas Gerais: - Refinaria Gabriel Passos (REGAP)– sem rendição no turno; a - Termelétrica de Ibirité (UTE-Ibirité) –ficou sem rendição no turno; e a Usina de Biodisel Darcy Ribeiro (PBio/Montes Claros) também sem rendição no turno.

Rio de Janeiro: Refinaria Duque de Caxias (REDUC) – sem rendição no turno: a Unidade de Tratamento de Gás de Cabiúnas (UTGCAB/Macaé) teve corte de rendição no turno em andamento.

São Paulo: a Refinaria de Paulínia (Replan/Campinas), a maior do país, opera sem rendição no turno; na Transpetro Paulínia houve adesão à greve e regime de Poliduto operando com contingência. A Estação de Compressão de Paulínia (TBG), sem a entrada de grupo de contingência, ficou parada.

A Refinaria de Capuava (Recap/Mauá está sem rendição no turno. A Refinaria Henrique Lages (Revap/São José dos Campos) também opera sem rendição no turno e a Transpetro São José dos Campos teve também adesão à greve.

Paraná: A Refinaria Presidente Getúlio Vargas (Repar/Araucária) opera sem rendição no turno. No Terminal da Transpetro de Paranaguá (Tepar) – houve corte de rendição e a contingência assumiu a unidade. Na Nesix , trabalhadores do núcleo de pesquisa da Petrobras também aderiram à greve.

Na Fábrica de Fertilizantes Nitrogenados (Fafen-PR) houve atrasos nas trocas de turno.

Santa Catarina: no Terminal de São Francisco do Sul houve corte de rendição e a contingência assumiu a unidade. No Terminal de Biguaçu – trabalhadores aderiram à greve.

ATUALIZAÇÃO DA NOTÍCIA 15H40

Petrobras se precavem no 2º dia de greve geral

Analistas da própria Petrobras, diante da convergência de posição entre as duas centrais sindicais da estatal, a Frente Nacional dos Petroleiros (FNP) e a Frente Única dos Petroleiros (FUP), já estão preparando cenários para a duração da greve, que completa o segundo dia, nesta terça-feira.

FNP e FUP estão alinhadas no essencial, divergindo no tom, não no conteúdo. Assim, a combinação atual: maximiza pressão; reduz margem para soluções superficiais; encurta a janela ótima de acordo.

Para a empresa e o governo, o tempo trabalha contra.

As ameaças ao pré-sal

O pré-sal responde hoje por mais de três quintos da produção total de 3,14 milhões de barris/dia equivalentes de petróleo e gás da Petrobras. As atividades em alto mar dependem de plataformas fixas com pessoal embarcado que se reveza em turnos (duas semanas, em média), tudo alimentado por fluxo permanente de “supply boats”, (SMS - Saúde Meio ambiente e Segurança) bem como as gigantescas FPSOs. Só o campo de Búzios, no pré-sal da Bacia de Santos, produziu a média de um milhão de barris/dia em outubro.

Por isso, a companhia avalia que a “contingência mantém a produção no curto prazo, mas aumenta custo, fadiga e risco de SMS” (as atividades de suporte ao pessoal embarcado).

Mas adverte que, em caso de impasse prolongado “O conflito tende a migrar rapidamente do sindical para o institucional e político”

Janela de oportunidade.

A avaliação é de que a “janela ótima para um acordo seria “antes da segunda semana”. Ou seja, coincidindo com a véspera do Natal.

Áreas sob riscos:

Os pontos mais críticos de uma greve de mais de 10 dias seriam:

1-nas atividades de apoio SMS no suporte das plataformas “offshore” e FPSOs (“impacto muito alto”);

2- no escoamento da produção no mar se faz pelos terminais, se houver “Gargalos logísticos em terminais”, poderia haver um “efeito dominó”;

3- Redução pontual de produção por prudência operacional;

4- Judicialização e politização do conflito;

5- Dano reputacional por narrativa de “normalidade absoluta”.

As premissas:

Usar a contingência, compra tempo, mas não resolve o conflito: Cada dia adicional de greve encarece a solução e amplia o risco.

Por isso, a estratégia racional é negociar cedo, preservar (as atividades de apoio às plataformas de exploração “off-shore” (SMS) e evitar politização desnecessária.

A conclusão básica é de que o custo de não agir cresce de forma não linear após a primeira semana.

As condicionantes

Se durar até sete dias: a produção será mantida, mas com tensão crescente entre os funcionários e as áreas de gerência e a administração central.

De 7 a 15 dias: limites da contingência, ajustes conservadores em FPSOs.

Acima de 15 dias: risco técnico e político elevado, cortes mais frequentes.

A posição da Petrobras

A Petrobras informa que foram registradas manifestações em unidades da companhia em virtude de movimento grevista. A Petrobras afirma que não há impacto na produção de petróleo e derivados. A empresa adotou medidas de contingência para assegurar a continuidade das operações e reforça que o abastecimento ao mercado está garantido.

A empresa respeita o direito de manifestação dos empregados e mantém um canal permanente de diálogo com as entidades sindicais, independentemente de agendas externas ou manifestações públicas.

A Petrobras está em processo de negociação do Acordo Coletivo de Trabalho desde o final de Agosto deste ano. Na última terça-feira (09/12) a companhia apresentou sua última proposta, que contempla avanços aos principais pleitos sindicais. A Petrobras segue empenhada em concluir a negociação do acordo na mesa de negociações com as entidades sindicais.