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Seguradoras põem danos no RS nas mãos de Deus

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Por GILBERTO MENEZES CÔRTES
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Publicado em 10/05/2024 às 15:25

Alterado em 10/05/2024 às 15:25

No Aeroporto Salgado Filho, há aviões de pequeno e grande porte que ficaram submersos e dificilmente poderão ser recuperados Foto: Ricardo Stuckert

A tragédia climática do Rio Grande do Sul, fora a dolorosa contagem das perdas de vidas humanas, só poderá ser medida, na dimensão da destruição da infraestrutura das cidades e nos danos materiais das empresas e das famílias residentes nas centenas de municípios arrasados, quando as águas baixarem – o que ainda não está previsível no horizonte. E o pior é que os danos bilionários não devem ser cobertos pelas seguradoras.

As seguradoras têm como normas (em letras miúdas, isto está esclarecido) não cobrir danos causados por causas naturais (raios, enchentes) ou acidentes que podem ter suas causas classificadas como Ato de Deus (Act of God) na literatura mundial do setor segurador. A tendência é que o aquecimento do clima mude a qualificação do que é “normal”. Mas ainda não é assim.

Os proprietários de automóveis costumam fazer seguro contra roubo, incêndio e colisões dos veículos. Mas quando os veículos, assim como as casas, são destruídos pelos grandes incêndios florestais ocorridos na Europa e em regiões dos Estados Unidos, como decorrência do aquecimento global, as seguradoras se eximem da responsabilidade.

Batalha judicial à vista
Nessa inundação, nas cidades e na zona rural do Rio Grande do Sul, quase todo mundo perdeu veículo, carro, caminhão, trator, colheitadeira.

Houve ainda enorme perda total ou parcial de instalações residenciais, comerciais, rurais e industriais.
Mas quase ninguém vai receber seguro, adverte amigo auditor de empresas, que prevê “uma enxurrada literal de processos no judiciário”, tentando enquadrar as seguradoras.

A extensão dos danos
O Rio Grande do Sul é o 4º PIB do país e tem a 5ª população do país, espalhadas por 497 municípios. A capital Porto Alegre tinha 1,332 milhão de habitantes. É a capital brasileira com o maior índice de idosos, acima de 19% do total.

Segundo os dados parciais do IBGE (o Censo populacional de 2022 ainda apresenta 203 milhões de habitantes, mas as próprias projeções do instituto apontavam 216 milhões), o Rio Grande do Sul tinha 10,882 milhões de habitantes (era superado, no levantamento parcial) pelos 11,444 milhões do Paraná.
Só de veículos automotores licenciados com placas (a estatística não contempla o maquinário agrícola e industrial/comercial) nem motos elétricas e scooters, os gaúchos eram proprietários de 7,869 milhões de veículos. Muitos estão submersos há mais de uma semana na Grande Porto Alegre.

As grandes fábricas locais
A inundação de fábricas pode afetar um projeto de produção de hidrogênio verde de uma multinacional. Pela interrupção do polo petroquímico de Triunfo (RS), a Braskem paralisou as operações no polo petroquímico de Camaçari (BA). Isso vai afetar a oferta nacional de polietileno, poliestireno, PVC e outros produtos petroquímicos. A Petrobras ainda não informou o balanço dos danos de suas refinarias gaúchas.
Na indústria automotiva, há fábricas de autopeças na Grande Porto Alegre e em Caxias do Sul. Caminhões (carrocerias) e ônibus tem as maiores fábricas por lá. Há ainda várias fábricas de máquinas e equipamentos agrícolas.

O caso dos aviões
No Aeroporto Salgado Filho, há aviões de pequeno e grande porte que ficaram submersos e dificilmente poderão ser recuperados. Aviões da Azul estavam com água até as turbinas. Motor de carro submerso costuma ser condenado.

No caso de um avião, como não há oficinas de grande porte em Porto Alegre ou no Sul, as turbinas teriam de ser retiradas para inspeção no Rio ou em São Paulo ou até no exterior. Isso causaria outro problema: onde alocar os aviões desativados?

Anacronismo ambiental
Nos dias 20, 21 e 22 de março, Porto Alegre recebeu, pelo 3º ano seguido, como “a capital brasileira da inovação”, o “South Summit Brazil”, encontro global realizado nos armazéns do Cais Mauá, no Centro Histórico da capital. O evento voltou a discutir desafios tecnológicos, como os causados pelo aquecimento global.

No entanto, em menos de 40 dias, mesmo após o susto do fim do ano passado, o sistema de comportas para conter as cada vez mais previsíveis cheias do Rio Guaíba e seus afluentes, ainda é o mesmo dos anos 70 e está sucateado.

No improviso, a prefeitura empilhou sacos de areia para evitar as enchentes. Mas a força das águas foi tal que arrombou as comportas e ultrapassou a barricada de sacos de areia.

As soluções do passado não foram capazes de impedir a inundação do local onde se discutiu o futuro da cidade e do mundo.