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Votos do PL pela liberdade de Brazão consolidam fama de miliciano de Bolsonaro

Situação é bizarra e nenhum xadrez político explica. PF chega ao mandante do crime que repercutiu no mundo após anos de descalabros e o ex-presidente e sua turma decidem libertá-lo

Por INFORME JB com Revista Fórum
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Publicado em 11/04/2024 às 06:32

Alterado em 11/04/2024 às 06:32

Bolsonaro Tânia Rego/Agência Brasil

Henrique Rodrigues - O Partido Liberal (PL) tem a maior bancada da Câmara Federal, com 95 deputados. Na votação desta noite de quarta (10) para decidir pela manutenção ou não da prisão do “colega” Chiquinho Brazão (sem partido-RJ), acusado de mandar assassinar a vereadora Marielle Franco e seu motorista, Anderson Gomes, em 2018, a legenda que abriga Jair Bolsonaro, a maior parte dos bolsonaristas da Casa e que se tornou ninho da extrema direita no país viu 70 de seus parlamentares, por orientação da direção, votarem para colocar em liberdade o suspeito de ser o autor intelectual do duplo homicídio ocorrido há seis anos.

Jair Bolsonaro carrega há anos a fama de “miliciano”. É, de fato, reconhecida sua afeição por esse tipo de organização criminosa, e não se trata de acusação. Bolsonaro, há muito tempo, homenageou essas quadrilhas na tribuna da Câmara, enalteceu no púlpito do parlamento líderes de milícias do Rio de Janeiro e até empregou a mãe e esposa do sinistro Capitão Adriano, notório miliciano e matador de aluguel, no gabinete de seu filho Flávio. Há uma série de outros enlaces que vinculam o outrora pífio e ridículo deputado que se converteu em presidente com a bandidagem “paramilitar” das terras fluminenses. Ele, obviamente, nega e diz que nunca exerceu tal atividade criminosa, o que na prática e em sentido estrito, de fato, é verdade.

A votação da maior parte dos deputados de seu partido, por determinação de quem controla a sigla, e obviamente a figura mais poderosa e ilustre é o ex-presidente, no sentido de dar liberdade a um reconhecido miliciano do Rio que teria sido o mandante de um assassinato de repercussão mundial, serviu apenas para consolidar de forma definitiva a rotulação de “miliciano” de Jair Bolsonaro. A desculpa oficial do partido é uma rocambolesca e sonolenta interpretação infantilizada de um tal dispositivo constitucional que utopicamente preveria uma autonomia total e absoluta dos congressistas, sem interferências do Judiciário, que no caso em questão não seria levada a sério por nenhum parlamentar digno. A PF chegou, finalmente, à pessoa que teria determinado a execução de Marielle e isso, respeitado todos os ritos constitucionais e processuais que envolvem um cidadão com prerrogativa de foro, e por decisão do STF, embasada na lei, era o suficiente para expurgá-lo da vida pública e levá-lo à cadeia.

Não há xadrez político que justifique tal “decisão partidária”. Para quem tem mais de um par de neurônios, é elementar que a legenda que abriga o ex-presidente, e controlada em parte por ele, quis fazer um sinal de afago e cumplicidade com o megamiliciano que viu sua casa cair depois de tantos anos, quando ninguém mais acreditava que o crime fosse ser desvendado. Uma prova disso é o fato de 7 deputados do PL terem votado “sim”, ou seja, pela manutenção da prisão de Brazão, enquanto outros 5 se abstiveram de se posicionar e 13 sequer apareceram para votar. Em síntese, a tese era tão bizarra e o posicionamento tão absurdo que mais de um quarto da bancada não teve coragem de apertar o botão e colocar o miliciano na rua.

Elegendo cada vez mais representantes com um discurso boçal que emula a lei de Talião (o famigerado “olho por olho, dente por dente”), com promessas eternas de combate à bandidagem e empoleirados num discurso policialesco enjoativo, que jura pôr todo mundo na cadeia pelo menor deslize, a decisão dos deputados PL de soltar um homem apontado pela PF como um bandidaço do Rio, e que controla as maiores e mais corpulentas milícias cariocas, servirá tão somente para confirmar e asseverar a alcunha de miliciano que o líder máximo da banda ultrarreacionária brasileira já carrega há algum tempo.