PM colocou arma no rosto de jovem negro e não abordou irmão branco no Guarujá

Testemunha relatou o fato para o Conselho Nacional de Direitos Humanos, que recomendou o fim da Operação Escudo na Baixada Santista

Por JORNAL DO BRASIL com Alma Preta Jornalismo

Protesto contra a Operação Escudo, no Guarujá

Pedro Borges - Moradores do Guarujá e de outras cidades da Baixada Santista, em São Paulo, relataram para o Conselho Nacional de Direitos Humanos (CNDH) uma série de abusos praticados pela Polícia Militar durante a Operação Escudo, que registrou 24 mortos desde o início, em 28 de julho.

Uma comitiva do órgão vinculado ao Ministério dos Direitos Humanos do governo federal visitou o litoral paulista no dia 14 de agosto para ouvir a versão da população sobre os fatos. Os relatos das testemunhas, em forma de anonimato, sem identificação por medo de retaliação, constam em um relatório apresentado à sociedade na sexta-feira (1) e que recomenda o fim da operação no litoral paulista.

“Tenho um filho negro e um filho branco. As mães se preocupam que o filho saia bem agasalhado, eu me preocupo se eles estão levando ou não RG, porque sei que meu filho negro será abordado por um policial. Uma vez invadiram a minha casa e só estava o meu filho negro. Ele foi abordado e obrigado a se ajoelhar sob a mira de um fuzil. O meu filho branco chegou, posteriormente, e perguntou o que estava ocorrendo. Os policiais prestaram informações e continuaram apontando a arma para o meu filho negro. Para um filho, um fuzil; para o outro, a informação”, afirmou uma das testemunhas.

Outro relato conta de um homem que teve a casa invadida. Esse rapaz, segundo os moradores, foi executado, junto de um cachorro que o acompanhava. Os policiais também teriam invadido outras casas, sem pedidos judiciais, para fazer campana. Em uma das residências, jovens e crianças se sentiram "reféns" dos agentes de segurança pública.

Há depoimentos de pessoas que sinalizam para um "batizado" de um policial da Rota, tropa de elite da Polícia Militar de São Paulo. Diante de um detido, um agente veterano da Rota ordenou que o novato executasse a pessoa abordada pela polícia.

O documento com os relatos das testemunhas foi apresentado durante uma audiência na Defensoria Pública do Estado de São Paulo, que contou com a presença de autoridades, parlamentares e integrantes de diferentes movimentos sociais. A discussão foi coordenada pelo defensor público André Carneiro, representante do CNDH.

O Conselho também recomendou que o estado de São Paulo forneça apoio psicológico para as famílias vítimas da violência policial em cidades da Baixada Santista como o Guarujá e cobrou uma investigação completa acerca de todas as mortes registradas.