Mais de 50% dos candidatos às eleições municipais se autodeclaram pretos ou pardos

Diversidade racial e de gênero entre os candidatos se mantém, mas presença de mulheres continua baixa, segundo informações divulgadas pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE)

Por JORNAL DO BRASIL com Alma Preta Jornalismo

Dados do Censo de 2022, do IBGE, dizem que brasileiros pretos cresceram 42,3% na última década, e passaram a ser 20,7 milhões, ou 10,2% da população, ante 7,6% em 2010

Por Giovanne Ramos - O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) divulgou nesta sexta-feira (16) a relação de candidaturas para as eleições municipais de 2024. Com as informações disponibilizadas, é possível traçar o perfil dos candidatos com base em gênero, estado civil, faixa etária, grau de instrução, cor/raça, ocupação, identidade de gênero e outros critérios.

Até o momento, foram apurados 455.493 pedidos de registros de candidatura, dos quais apenas 20.031 foram julgados. O perfil dominante é semelhante aos anos anteriores: homens (66%), casados (51%), com idade entre 40 a 54 anos e ensino médio completo (38,99%).

No quesito cor/raça, os candidatos que se declaram pardos (41,34%) ou pretos (11,39%) — categorias que compõem os negros, segundo a definição do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) — somam ao todo 53% das candidaturas, superando os candidatos que se autodeclaram brancos (45,65%).

Possíveis fraudes podem ser identificadas ao longo do processo. Em 2022, dos 135 deputados federais autodeclarados negros, 57,03% foram listados como possíveis fraudadores pela banca de heteroidentificação montada pela Alma Preta.

Cerca de 0,5% dos candidatos se declaram indígenas e 0,4% se identificam como amarelos. Não há informação sobre a cor/raça de 0,7% dos registros. Quilombolas representam 1% dos candidatos, com aproximadamente 3.466 candidaturas.

Candidaturas LGBTQIAPN+ não chegam a 3%, e de mulheres somam 34%
A maioria dos candidatos se declara heterossexual (98,27%) e cisgênero (80%). Candidatos gays (0,72%), lésbicas (0,45%), bissexuais (0,32%), assexuais (0,13%) e pansexuais (0,05%) não chegam a 3% do total. Não foram registradas candidaturas de pessoas transgênero, e 20% dos candidatos optaram por não divulgar sua identidade de gênero.

Mesmo com a diminuição de candidaturas, o percentual de mulheres candidatas manteve-se o mesmo de 2020, totalizando 34% do total. Segundo o IBGE, as mulheres correspondem a mais da metade da população brasileira (51,5%).

A redução nas candidaturas femininas pode estar relacionada à aprovação da PEC 9/23, conhecida como PEC da Anistia, pelo Senado na quinta-feira (15). A PEC visa perdoar partidos que não destinaram recursos financeiros proporcionais às candidaturas de mulheres e pessoas negras nas eleições de 2022.

Considerada inconstitucional, a PEC afeta principalmente os direitos políticos das mulheres negras, que enfrentam desafios para obter visibilidade em um ambiente onde o financiamento e o repasse de verbas não são justos e proporcionais.

Os partidos têm até 16 de setembro para solicitar a substituição de candidatos, com possibilidades de alterações nos números e porcentagens apresentados.