Idoso confessa que escreveu carta com ameaça a padre Julio Lancelloti, mas nega intenção de fazer mal

Caso foi registrado na delegacia como injúria e ameaça

Por GABRIEL MANSUR

Wilson foi flagrado por câmera de segurança da Paróquia

A ameaça escrita contra o padre Júlio Lancellotti, noticiada pelo Jornal do Brasil neste domingo (27), partiu de um idoso de 72 anos, apenas dois anos mais jovem do que o pároco. Um senhor identificado como Wilson confessou ter deixado a carta na porta da Paróquia São Miguel do Arcanjo, na Zona Leste de São Paulo. O septuagenário foi flagrado em câmeras de segurança deixando o bilhete no templo religioso, conforme reportaram a CNN e o portal Uol.

De acordo com a Secretaria da Segurança Pública (SSP), o suspeito foi encaminhado ao 8º Distrito Policial, no Brás. Durante depoimento, ele alegou que conhecia o padre e que "não pretendia fazer, efetivamente, mal a ele". O caso foi registrado na delegacia como injúria e ameaça. Agora, o padre Julio tem o prazo de seis meses para representar criminalmente contra o autor.

Na manhã deste domingo, o padre usou as redes sociais para compartilhar o bilhete da ameaça. Na mensagem escrita à caneta, a pessoa ofende o religioso com palavrões e o liga ao PT. Pelo Instagram, o sacerdote informou seus seguidores sobre o papel encontrado na porta da igreja.

"Padreco de merda, pensa que aki (sic) é partido político. Defensor dos direitos dos bandidos. Petista vagabundo. Usa o povo para te favorecer. Seu dia de reinado aki (sic) vai acabar. Pode esperar", diz o bilhete deixado na grade da igreja.

Padre Júlio Lancellotti é conhecido por seu trabalho de ajuda às pessoas em situação de rua, incluindo a evangelização, doação de alimentos e abrigo para moradores sem teto. Logo depois da postagem, vários seguidores do religioso, incluindo famosos e políticos, como o presidente Lula (PT), prestaram solidariedade ao sacerdote.

"Minha solidariedade ao @pejulio, que recebeu ameaças criminosas e inaceitáveis hoje cedo na porta da igreja, em São Paulo. Um fiel seguidor dos princípios de Jesus, Padre Júlio Lancellotti é uma referência no acolhimento e no cuidado de quem mais precisa, sobretudo das pessoas em situação de rua da capital. Tenho dito que não podemos tolerar a cultura do ódio no nosso país. Precisamos virar esta triste página da nossa história. Mais amor e solidariedade. Menos ódio e egoísmo. É disso que precisamos no Brasil e no mundo", escreveu o presidente.

Briga por terreno

Ao Metrópoles, padre Júlio afirmou que o homem foi até a Paróquia São Miguel Arcanjo dias atrás e brigou com funcionários. Ainda segundo o sacerdote, Wilson pertence à família que doou o terreno onde hoje é a paróquia, há 60 anos.

O religioso acrescenta que o homem foi até o local pedindo um documento de batismo anterior à existência do templo religioso. Ao ser informado que a paróquia não tinha o documento, o idoso teria prometido entrar na Justiça pedindo a anulação da doação.

“Ele esteve lá esses dias pedindo documentação de batismo. Foi informado que da época que ele pediu não era paróquia ainda. Ele sabia disso, mas estava implicado com o tratamento que se dá com a população de rua e ficou xingando, ofendendo e dizendo que ia entrar na Justiça para anular a doação”, afirmou o padre.

“A família é muito grande. Foi uma família muito benfeitora. Tenho até um pouco de receio de expor a família”, diz Lancellotti. Segundo o padre, o idoso não frequentava a paróquia regularmente.