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William Paul Young revela bastidores do sucesso A Cabana na XV Bienal do Livro

Escritor canadense fala do processo de criação do best-seller mundial. Palestras debatem ainda humor e história e os dramas do envelhecimento feminino

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Com mais de 10 milhões de exemplares vendidos nos Estados Unidos e outros 2,5 milhões no Brasil, o escritor canadense William P. Young, autor do sucesso A Cabana, foi o convidado especial da sessão Encontro com Autores, nesta sexta-feira à noite, na XV Bienal do Livro Rio. Além de pôr o responsável por um best-seller mundial em contato direto com seus leitores, a programação do evento ainda promoveu palestras sobre o flerte entre humor e história, a solidão nos dias de hoje, as mudanças no mercado editorial e os novos padrões estéticos femininos, mostrando, mais uma vez, a diversidade que rege o ambiente da maior festa literária do país.

Cercado de expectativa, o encontro de Young com seus leitores virou uma conversa franca sobre os bastidores de todo o processo de produção de A Cabana. O autor canadense revelou que o livro foi escrito apenas para amenizar os anseios de um homem em crise e presentear seus filhos, devido a um pedido de sua mulher. Com 15 exemplares impressos, Young decidiu circular a obra por amigos próximos e foi surpreendido pela recepção positiva. Estimulado, decidiu procurar um editor para publicar o livro.

Muito ligado à religião, o canadense falou sobre sua infância, quando viveu na Nova Guiné, em uma cultura totalmente diferente e sobre a relação difícil com o pai. Em meio ao bate papo, Young não se furtou nem a dar detalhes íntimos de sua vida e a relação desses acontecimentos com o processo de criação do livro. “A cabana é a casa interior, a realidade sobre nós, o lugar onde nos escondemos e guardamos nossos segredos. Com isso, porém, nós ficamos presos nela. Havia uma visão de Deus de acordo com os conceitos do meu pai e demorei muito para mudar isso. Deus vê o que está dentro e não apenas a parte de fora. O meu processo de sair da cabana começou em janeiro de 1994 e durou até o fim de 2004”, disse.

Young contou ainda que a tradução de A Cabana em língua estrangeira que mais vende é a feita em português e enfatizou a questão religiosa do livro. “Quem me curou foi um Deus que está sempre presente. Ele não impõe nada, mas lhe dá condições de se recuperar e, aí sim, ter condições de amar Deus. E isso é um processo que pode ser longo, mas Deus gosta desse processo”, afirmou.

No Café Literário, o encontro entre o humorista Beto Silva, do Casseta e Planeta, com o jornalista Leandro Narloch e a historiadora Isabel Lustosa juntou humor e história, na mesa-redonda “O Brasil pelo avesso: mais ou menos verdadeiro”. Num bate papo descontraído, o trio refletiu sobre a sátira de figuras históricas e a construção de mitos. “Nós sempre procurarmos fazer piada do que estava se passando no país. Sempre sem tomar posição, deixando que o próprio humor informasse”, disse Beto Silva. Autor dos livros Guia do politicamente incorreto da história do Brasil e Guia do politicamente incorreto da América Latina, Narloch falou sobre o seu objetivo ao escrever as duas obras. “Minha ideia foi desmistificar um pouco a história que sempre coloca um vilão e um mocinho, o rico contra o pobre. Procurei explorar a virtude dos bandidos e os erros dos heróis”, disse.

Mais cedo, os editores Carlo Carrenho e Daniel Pinksy e a professora e artista visual Giselle Beiguelman discutiram o futuro do livro impresso, a questão dos direitos autorais e da pirataria e a presença das novas tecnologias no mercado editorial. Mas o trio afirma que isso não significará a morte do livro impresso. “O livro é o mais perfeito objeto de design que já foi criado. Existe há mais de mil anos. Nós o guardamos durante toda nossa vida, ao contrário de eletrodomésticos, por exemplo, que duram bem menos”, disse Giselle. Para ela, os livros digitais não devem se limitar a ser apenas a reprodução do papel impresso numa nova forma de mídia: “É preciso pensar além da simples cópia. Os livros digitais permitem inúmeras possibilidades”

Na abertura do Café Literário, o psicólogo Alberto Goldin, a jornalista Carla Rodrigues e o professor e escritor Marcos Ribeiro discutiram a solidão no mundo moderno na mesa-redonda “Velhas e novas afetividades: redefinições contemporâneas das identidades”. De acordo com pesquisa recente do IBGE, sete milhões de brasileiros moram sozinhos. “Existem novos arranjos para se viver. Nem todo mundo quer seguir a norma de se casar e ter filhos”, disse Carla Rodrigues. O trio também conversou sobre como as redes sociais alteraram o padrão comportamental. “O homem sempre busca uma ponte com os outros e as pessoas estão cada vez mais utilizando redes sociais como o Facebook para isso. Será que isso significa que estão mais sozinhas? Não sei. Mas houve mudança”, ponderou Goldin.

No espaço Mulher e Ponto, a antropóloga, professora e pesquisadora Miriam Goldenberg, e a jornalista Heloísa Seixas discutiram o processo de envelhecimento feminino, na mesa-redonda “Elas não envelhecem mais – As novas velhas”, com mediação do psicoterapeuta Sócrates Nolasco. Na pauta, a pressão social para que as mulheres se mantenham jovens, a preocupação com a estética e como as mais velhas são, de fato, as mais felizes. “A luta contra a velhice é uma luta perdida. As pessoas, em desespero, têm tomado chá de botox e perdem um pouco a noção. Ficam com cara de peixe, de Topo Gigio.”, disse Seixas.

Míriam Goldenberg comparou as brasileiras às mulheres alemãs, e afirmou que essa preocupação com a estética é maior nas mulheres daqui. “As brasileiras envelhecem aos 25, 30 anos, porque têm muitas preocupações na cabeça. Reclamam que falta homem,que estão com celulite... Só pensamos no nosso corpo. Aos 40, elas dizem que se tornaram invisíveis, que passam por uma obra e ninguém fala nada. Já as alemãs estão preocupadas com o trabalho, com os amigos. Os homens na Alemanha têm medo de encarar uma mulher, porque elas não gostam de serem vistas como objetos sexuais”, comparou a antropóloga.

No Livro em Cena, espaço dedicado a celebrar grandes clássicos da literatura brasileira, o homenageado do dia foi o cronista Rubem Braga, que teve seus textos lidos pelo ator Marcello Antony. “Fico orgulhoso de ler um craque da crônica que eu sempre admirei muito”, afirmou o ator.

A XV Bienal do Livro Rio, uma iniciativa do SNEL (Sindicato Nacional dos Editores de Livros) em parceria com a Fagga | GL exhibtions, acontece no Riocentro até o dia 11.