SAÚDE
Sim, você ainda precisa usar máscara
Por Jane E. Brody, The New York Times - Life/Style
Publicado em 03/03/2021 às 08:24
Alterado em 03/03/2021 às 08:24
Como escritora profissional de saúde e cidadã preocupada, minha dor cresce a cada novo relato da devastação causada pelo novo coronavírus, causa de uma dor pessoal e econômica imensurável - e que continua crescendo - para suas vítimas.
Em um período recente de cinco semanas, cem mil americanos morreram devido a complicações da covid-19, número que levou quatro meses para ser atingido no período de março a junho do ano passado.
Minha angústia é ampliada pelo fato de que sei que não precisava ser tão ruim. Uma medida simples - o uso consistente de coberturas facial em público - poderia ter ajudado a conter a agonia. Em dezembro, o Centro de Controle e Prevenção de Doenças reiterou os conselhos dados pela primeira vez em julho: "Use uma máscara que cubra o nariz e a boca. Todos devem usar máscara em ambientes públicos e quando estiverem perto de pessoas que não moram na mesma residência, especialmente quando outras medidas de distanciamento social forem difíceis de manter."
A agência enfatizou que a máscara protege tanto o usuário quanto aqueles que este encontra no dia a dia.
Agora, com o surgimento de uma variante altamente contagiosa do vírus e as tentativas caóticas de distribuir e administrar vacinas para centenas de milhões de americanos vulneráveis, sem um bloqueio total, o uso universal de máscara é a maneira mais eficaz de retardar o aumento implacável de hospitalizações e mortes por covid-19.
Serão necessários muitos meses para imunizar todas as pessoas com uma vacina contra a Covid. Enquanto isso, estamos enfrentando outro tsunami de infecções mortais por coronavírus enquanto a nova variante atinge a população ainda desprotegida.
Como muitas outras medidas não tomadas pela última administração para minimizar a disseminação do coronavírus, o uso de máscara foi deixado a cargo dos estados. A máscara se tornou um jogo político, e o ex-presidente ridicularizou publicamente os adversários que as usavam. Algumas autoridades eleitas chegaram até a alegar, ridícula e infundadamente, que elas não só não impedem a propagação do vírus, como também o fortalecem. Eu me pergunto se eles também ignoraram pais e professores que lhes recomendaran cobrir a boca quando tossiam ou espirravam.
Também me pergunto sobre o conhecimento econômico do nosso ex-presidente e dos governadores que resistiram a impor o uso de máscara, alguns dos quais já haviam até contraído a covid-19, mas mesmo assim clamavam pela abertura da economia. O Goldman Sachs estimou em junho passado que a adoção do uso nacional de máscara poderia ter um impacto potencial no PIB dos EUA de US$ 1 trilhão.
Ultimamente, enquanto aguardo minha segunda vacina, tenho me tornado cada vez mais consciente de quantas pessoas andam, correm ou pedalam sem máscara ou, se estiverem usando uma, o fazem de modo ineficaz. Comecei a falar mais vezes: "Por favor, use sua máscara" ou "A máscara deve cobrir o nariz e a boca". Entre as respostas ignorantes: "Não preciso de máscara quando estou ao ar livre", "Já tive Covid, portanto não vou pegá-la de novo ou passá-la a você", e minha desculpa favorita enquanto caminhava por uma calçada de 1,80 m de largura: "Estou a 1,80 m de distância das pessoas."
O distanciamento social de 1,80 m não é totalmente arbitrário, mas baseado em evidências limitadas entre os passageiros de companhias aéreas, e pode não se aplicar, por exemplo, aos ciclistas sem máscara gritando uns com os outros enquanto passam por mim ou aos corredores com os quais cruzo ao caminhar.
Também ouvi algumas pessoas dizerem: "Já tomei a vacina, por isso não preciso de máscara." Essa pode ser a desculpa mais perigosa de todas. Primeiro: embora as vacinas sejam boas, não são perfeitas, e há a chance de que esses vacinados não tenham verificado se possuem anticorpos fortes contra o vírus. Em segundo lugar, ainda não sabemos se as vacinas, embora altamente eficazes na prevenção de doenças e mortes, também prevenirão infecções assintomáticas, que podem espalhar o vírus para outras pessoas.
Como Jeremy Howard, cientista de dados da Universidade de San Francisco, declarou a respeito de quem se recusa a usar máscara: "Como você se sentiria se passasse o vírus a seu melhor amigo ou se matasse a mãe dele?"
Em fevereiro passado, depois que a Organização Mundial da Saúde, sem dados de apoio, aconselhou a não usar a máscara a menos que você já estivesse doente, Howard reuniu uma equipe internacional de 19 cientistas para revisar as evidências de uso, esperando descobrir "se a máscara era uma perda de tempo", relatou ele em uma entrevista. Em vez disso, a equipe mostrou que "os dados sobre o benefício da máscara são realmente convincentes". Os resultados de seu exaustivo estudo foram publicados recentemente na revista acadêmica Proceedings of the National Academy of Sciences.
Howard contou que relatórios preliminares de suas descobertas resultaram "em todos os tipos de abusos, incluindo ameaças de morte" vindos daqueles que resistem à máscara. Isso, no entanto, não o impediu de repetir que "usar qualquer tipo de máscara ajudará muito a evitar que você infecte acidentalmente os outros, o que é importante para a comunidade e para a economia. Cerca de metade das infecções por coronavírus é espalhada por pessoas que não sabem que estão doentes, e a nova variante é muito mais transmissível".
Um estudo chinês descobriu que a carga viral no trato respiratório superior de pessoas infectadas sem sintomas pode ser tão alta quanto no daquelas com sintomas, e simplesmente o ato de falar e respirar pode espalhar gotículas e aerossóis carregados de vírus. E, como o vírus reside em altas quantidades no nariz e na garganta, os espirros podem espalhar uma nuvem infecciosa dez vezes mais longe do que a tosse, ou até mais.
O que me leva à questão de saber se a cobertura facial que a maioria das pessoas usa é suficientemente protetora. Agora sei que as bandanas, as máscaras de exame e as máscaras de neoprene finas que tenho usado nos últimos 11 meses são melhores do que nada, mas não muito boas. Fornecem muitas rotas para que partículas portadoras de vírus alcancem o nariz ou a boca dos desavisados.
Eu deveria ter seguido o conselho que minha colega Tara Parker-Pope ofereceu meses atrás sobre dar um upgrade nesse acessório.
"A máscara precisa de um aro no nariz para o ajuste perfeito e material de filtragem adequado, como uma nanofibra, que captura partículas muito pequenas", ensinou Howard.
Ele e seus coautores concluíram que, para a maioria das pessoas, a máscara KN95, especialmente aquela com elásticos que se encaixam em torno da cabeça, é atualmente a melhor para evitar o contágio e a propagação do vírus.
Outra opção é a máscara KF94, ou, se não for muito desconfortável, usar duas delas para maior proteção.
A máscara KN95 atende aos padrões de certificação estrangeiros e foi projetada para filtrar 95% das partículas até 0,3 mícron de tamanho. (A máscara N95 padrão ouro, que atende aos padrões de certificação dos EUA, deve ser reservada para os trabalhadores da saúde e o pessoal de emergência, que são mais propensos a interagir com indivíduos infectados pelo coronavírus.)
A Powecom KN95 tem autorização de uso emergencial da FDA (agência norte-americana responsável pelo controle de alimentos e medicamentos). Acabei de encomendar um pacote com 11 delas na Amazon por US$ 23,80, e espero usá-las por muitos meses depois de estar protegida pela vacina. Ainda posso ser capaz de transmitir o vírus, e quero dar um bom exemplo a meus concidadãos. (com The New York Times e Agência Estado)