BEM VIVER
A relação dos dentes com o zumbido
Por TERESA CHACUR DE MIRANDA
Publicado em 12/04/2021 às 12:18
Alterado em 12/04/2021 às 12:18

Desde o início da pandemia, faço aulas virtuais de canto. No último encontro, duas alunas do grupo que integro relataram que não conseguiam cantar bem porque foram atormentadas por zumbido no ouvido e que especialistas que ambas consultaram não deram diagnósticos, nem uma solução. Ao ouvir essa queixa, comentei que, além dos médicos, os dentistas também tratam de zumbido.
De acordo com o Ministério da Saúde, o zumbido pode ter várias causas. Pode aparecer em qualquer idade. Inclusive nas crianças. Ocorre, mais frequentemente, na terceira Idade. E, atinge, atualmente, 28 milhões de indivíduos, no país. Tenho recebido muitos clientes no consultório que, além de queixas de bruxismo, relatam o incômodo do zumbido.
O zumbido, também chamado de “tinnitus” na língua inglesa, é uma sensação sonora não relacionada a uma fonte externa de estimulação. É impossível saber como é exatamente o ruído do zumbido. Pode parecer um chiado, um apito, uma cachoeira, um som de cigarra ou até mesmo de uma panela de pressão.
Esses 28 milhões de brasileiros que sofrem de zumbido no ouvido (conforme dados do Ministério da Saúde) equivalem a 15% da população nacional. Essas pessoas vivenciaram o sintoma do zumbido em alguma circunstância. No mundo, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), são 278 milhões de pessoas afetadas por esse sintoma.
Quando o problema não decorre da perda auditiva, se torna necessário investigar outros campos de gatilhos. O distúrbio se instala quando as vias auditivas passam a enviar impulsos mesmo sem haver uma fonte geradora de som. Descobrir o que leva à essa emissão de impulsos é um desafio.
A impressão de que o zumbido afeta mais os idosos é falsa, mas como cerca de 90% dos casos têm como causa principal a perda auditiva, há maior ocorrências de zumbido na terceira idade. Esse som incômodo pode aparecer, infelizmente em qualquer idade. E, também, em pessoas com audição normal.
Sem qualquer explicação, o zumbido acomete mais as mulheres do que os homens.
O mito de ser incurável não cria somente pacientes resignados. Alguns são tomados por um sofrimento tão intenso que a situação pode evoluir para transtornos psiquiátricos.
Além da poluição sonora (ruído de máquinas, música alta, barulho provocado por gritos, conversas em voz alta, etc.), outros fatores podem provocar o problema.
Entre os causadores do zumbido estão os erros alimentares, por consumo excessivo de cafeína, sal e açúcar, as doenças sistêmicas (hipertensão e diabetes), o colesterol elevado, os distúrbios cardiovasculares, doenças psiquiátricas (depressão e ansiedade), o excesso de cera no ouvido, os distúrbios na articulação da mandíbula e outras alterações odontológicas.
Quando recebemos em nossos consultórios pacientes com bruxismo e relatos de dor e desconforto, observamos que o esforço extra provocado pelo ranger dos dentes pode causar o zumbido. A fricção dos dentes faz com que os músculos comprimam a região posterior do disco articular. Que é uma área vascularizada (e com nervos) e se localiza próxima às estruturas do ouvido.
Nessa compressão, o cérebro interpreta os sinais enviados como zumbido: Uma sensação sonora interna percebida principalmente nessa área.
Os dentes são responsáveis pelo equilíbrio dos músculos, das articulações e dos ligamentos presentes na região orofacial. E, qualquer alteração levará a uma disfunção que poderá afetar o sistema otológico.
A Odontologia surgiu da necessidade de os homens e mulheres resolverem problemas relacionados à dor e à perda dentária. A arte dentária evoluiu através dos tempos até se tornar uma Ciência da Saúde.
O ouvido é um órgão muito sensível e o zumbido é um sinal de alerta de que ele possa estar sendo agredido. É um problema grave, mas frequentemente atrapalha a qualidade de vida por dificultar o sono, a concentração, a vida social e o equilíbrio emocional.
Quando o bruxismo e o apertar dos dentes gera o sintoma do zumbido, o dentista precisa atuar ajustando a oclusão dos dentes, quando necessário, e confeccionando uma placa transparente de acrílico ou silicone com a função de desencostar os dentes, evitando, assim, o apertamento e o desgastes dos mesmos. Chamamos esse dispositivo de placa miorrelaxante.
Ao promover um menor estresse e compressão dos músculos orofaciais, a placa alivia a pressão na região auricular, e, com certeza, contribui para o alívio do zumbido. Tratar a causa subjacente do zumbido pode ajudar a aliviar os sintomas, ou até mesmo fazê-lo desaparecer.
Alterações na dieta e estilo de vida, prática de exercícios físicos, técnicas de relaxamento e controle da ansiedade são fatores que irão também atuar na melhora dos sintomas. Em alguns casos, pode-se também incluir outras terapias alternativas, como a acupuntura e a musicoterapia.
Como tudo na Medicina, o tratamento será mais eficaz quanto mais precoce for iniciado. Sempre é recomendado que se procure um médico clínico ou um otorrinolaringologista para uma investigação completa. Uma vez que o zumbido pode ter causas múltiplas. No caso de dor na mandíbula, ao abrir e fechar a boca ou de dor ao toque próximo ao ouvido, o zumbido pode estar relacionado ao bruxismo e a problemas dento-faciais.
A Medicina tem, atualmente, muitas opções de tratamento. Dentistas e otorrinolaringologistas podem trabalhar juntos. O dentista vai atuar para corrigir as causas e para instituir o tratamento adequado. Mas, muitas vezes, será necessária uma atuação profissional multidisciplinar.
* Doutora em Odontologia pela UFRJ.