Do estado de Ogun, na Nigéria, nasceu Fela Anikulapo Ransome Kuti, homem que deu origem ao estilo musical afrobeat, uma bem sucedida fusão do jazz, funk e cantos tradicionais africanos. Além do conteúdo energético e de cunho político, suas canções possuem mais de 10 minutos de puro afrobeat, algumas chegando a ter 30 minutos. Fela Kuti foi, além de músico e compositor, um multi-instrumentista e ativista político.
Kuti tocava saxofone, teclado, trompete, guitarra e ainda fazia solos de bateria. Suas belíssimas canções foram gravadas, a maioria, em dialetos nigerianos, o que acabou limitando o sucesso do estilo à sua região. Mesmo assim, esse artista completo galgou vários caminhos e chegou a patamares muito além das fronteiras do continente africano.
Recentemente, nós, brasileiros, fomos lisonjeados com a edição nacional da biografia do multi-instrumentista, intitulada Fela – Esta vida puta. A obra narra a vida de Fela Kuti em primeira pessoa, decorrente de horas de entrevistas do autor, o escritor cubano Carlos Moore, com o nigeriano. No início deste mês, o biógrafo lançou o livro no Memorial Chico Science, local escolhido não por acaso mas devido à influência exercida por Fela Kuti no movimento manguebeat, encabeçado pelo pernambucano Chico Science.
Além disso, a vida do ativista foi retratada em um musical de sucesso na Broadway, intitulado Fela!, produzido pelos artistas Jay Z e Will Smith. Assim, a história de Fela Kuti rodou o mundo e o consagrou como sendo um dos maiores nomes da música africana. Homem amado e perseguido até a sua morte, Fela tornou-se a voz do seu povo ao trazer os ritmos africanos para a era eletrônica, e criar uma obra vasta e densa com um valor inestimável.
O músico, declaradamente engajado na política, também desafiou autoridades e conduziu a revolução no seu país e, assim, esteve nas páginas culturais e políticas dos jornais da Nigéria. Outro capítulo à parte na vida de Kuti são as suas 27 mulheres, que o acompanharam durante a idade adulta. Em 1986, o músico contraiu Aids em um dos seus períodos na prisão. No ano de 1997, Fela Kuti passou para o plano superior e confirmou a convicção de que todos tinham em relação à imortalidade da sua obra artística, e, assim, seus ideais, suas composições e sua bravura entraram para a história.
*Advogado e escritor