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Wikileaks não morreu, diz porta-voz em encontro de blogueiros

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"O Wikileaks não está morrendo, como afirmaram boatos recentes", afirmou nesta sexta-feira o porta-voz da organização, Kristinn Hrafnsson. Ele participou do debate sobre o papel das novas mídias, durante o primeiro Encontro Mundial de Blogueiros, em Foz do Iguaçu (PR). "Estamos suspendendo as ações por um momento, enquanto concentramos nossos esforços em levantar dinheiro para manter as operações", informou.

Hrafnsson lembrou que empresas como PayPal e Visa, entre outros, estão bloqueando as doações. "Esse bloqueio econômico é inédito na história, pois não se baseia em nenhum julgamento ou decisão judicial", protestou, rotulando as atitudes das empresas como ataques à liberdade de expressão. O porta-voz destacou que o Wikileaks já entrou com processos legais contra o fato, e que essas ações judiciais também aumentam os custos da organização. Segundo ele, em 28 de novembro o site será reaberto para que os usuários submetam informações de maneira mais segura. "Vamos lutar para continuar fazendo nossa missão, que é expor escândalos e corrupções e aumentar a transparência, porque sem ela a democracia é uma palavra vazia", afirmou.

Sobre o significados das informações que o Wikileaks vaza, Hrafnsson ressaltou a necessidade de que sejam contextualizadas pelas mídias tradicionais que as divulgam, de modo que ganhem sentido e impacto junto ao público. O porta-voz criticou a atitude de grandes jornais como New York Times e The Guardian, entre outros, que teriam apenas publicado os dados, e mais do que isso teriam marginalizado a ferramenta como fonte de informações. "Eles tinham toda a autonomia editorial, mas exigíamos ter espaço para falar sobre o método usado para a entrega do material", observou.

O porta-voz da organização conclui sua fala destacando a importância dos blogs na divulgação e contextualização de dados vazados. Retomando a posição da mídia tradicional criticável, colocou que blogueiros e outros órgãos de informação independentes têm maior comprometimento e em geral são mais críticos, além de estarem, em geral, livres de pressões polícias ou financeiras, como, segundo ele, seria o caso de grandes veículos de comunicação. "Vocês blogueiros e nós do Wikileaks estamos de mãos dadas e temos a oportunidade de trabalhar juntos no futuro", declarou.

Depois de Hrafnsson foi a vez de Ignácio Ramonet, criador do Le Monde Diplomatique, tomar o microfone. Ele começou afirmando que os blogueiros são novos atores da comunicação, revelados graças ao surgimento das novas mídias. "Hoje já não se pode conceber o jornalismo sem levá-las em conta", declarou. Apesar do cuidado necessário para não apenas reproduzir as informações dos meios de massa, acrescentando sempre uma reflexão aos posts, ele entende que os blogs contribuem para a construção de uma inteligência coletiva. "Não é mais a lógica do jornalista solitário, desbravados dos dados, como aconteceu em Watergate, agora as mídias funcionam com uma estratégia da comunidade", disse.

"Hoje em dia os meios de comunicação e os jornalistas não sabem qual é a sua função, porque essa função se dispersou quando milhares de novos atores assumiram o papel de comunicadores", ponderou. Para Ramonet, a mídia de massa é calcada no controle da informação, o que não é mais possível com a web e a disponibilidade da informação. Ele usou a Primavera Árabe como exemplo de que nem governos autoritários conseguem mais controlar o fluxo informacional da rede. "Hoje, os cidadãos têm uma capacidade para organizar-se nas redes sociais que lhes permite combater o totalitarismo", ilustrou.

"Acredito que o segredo de estado será cada vez mais difícil de proteger, e é preciso se adaptar a uma sociedade em que esse segredo será cada vez mais rejeitado pelas pessoas, principalmente quando ele proteger comportamentos condenáveis, como corrupção e nepotismo, entre tantos outros", finalizou.

O jornalista e blogueiro brasileiro começou a fala recapitulando um pouco da história do jornalismo no Brasil, com ênfase aos artigos e espaços de opinião. Trazendo dados até as últimas eleições, Nassif criticou os partidos políticos que teriam organizado ações "terroristas" em blogs e no Twitter, difamando concorrentes. "No ano passado se viu mais jogo sujo, não foi uma blogosfera espontânea", opinou.

O início dos blogs, "caótico", teria sofrido do mesmo mal. "A blogosfera, nos primeiros momentos, permitia espalhar boatos, difamar reputações, mas isso faz parte do faroeste do início do processo", comentou. Hoje, o ambiente seria mais organizado, e permitiria, em vez de calúnias, a exposição de uma diversidade de pontos de vista políticos.

Nesse sentido, para o jornalista, os blogs teriam papel importante nas "grandes transformações" por que passa a sociedade brasileira, que incluiriam a ascensão de novos atores políticos e o desenvolvimento regional, em locais fora da faixa litorânea. "Ao longo de outras transformações, os desequilíbrios decorriam da falta de voz dos atores políticos", afirmou, destacando como a situação, hoje, é diferente.

Nassif finalizou retomando a questão do domínio da informação, e disse que os veículos de mídia tradicionais não estão dispostos a abrir mão desse controle, "porque usam isso como arma comercial e política". Mas que os blogs, por outro lado, fariam a mediação da informação, com espaços para a defesa de opiniões de direita e de esquerda. "São os blogs e portais, não da mídia tradicional, que vão pegar o conjunto de informações, com um filtro, e tentar estabelecer áreas de democratização, de discussão, que permitam ter um confronto de ideias", concluiu.