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Pecado original

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Com o título: “Além dos limites”, tomei conhecimento, na semana que passou, de uma matéria da mídia escrita, da denúncia do abuso de velocidade, muito acima da limite, pelos ônibus que circulam na nossa cidade.

Ao lê-la, vi que os responsáveis entrevistados, com destaque o presidente da Rio Ônibus, esclarecem que são tomadas medidas restritivas, com a fiscalização pelo GPS, reciclagem dos motorista , etc.

Omitiu a existência de incentivo financeiro para que façam mais viagens no seu período de trabalho ao volante, razão principal de andarem acima da velocidade regulamentada pela sinalização gráfica vertical. 

Publicaram, na reportagem, as diversas médias de velocidades em diferentes percursos. Tudo isto, creio eu, pelo ocorrido num ônibus que trafegava na estrada do Alto da Boa Vista, e que provocou violenta reação dos passageiros ameaçados pela condução do motorista. Quase acontece um acidente, face a intervenção de um passageiro policial, que tentou conter o ímpeto do motorista, àquela hora, visivelmente estressado.

Sempre repito, e nunca é demais fazê-lo, a citação do livro essencial e básico para quem pretende administrar o trânsito, de Sir Alker Tripp, policial da Scotland Yard e que dirigiu o trânsito de Londres na década de 30, do século que passou, definidora de uma filosofia de ação: "No trânsito, tudo que puder ser conseguido através de medidas construtivas, não deve ser imposto mediante restrições legais.” É a base de uma administração eficiente e que estabelece uma filosofia de trabalho, infelizmente, não ensinada, em nenhum curso de engenharia de tráfego. É este o pecado original de tudo que se sofre nas administrações do trânsito que se sucedem.

No caso dos ônibus, quando fui responsável pela segurança e a fluidez do tráfego no Rio, procurei sempre seguir o aconselhamento do mestre Alker Tripp. Exagerei, colocando o seu conselho em placa de gesso, na subida da escada de acesso ao DETRAN GB, no vetusto prédio da Praça Tiradentes.

Cônscio de como enquadrar os ônibus, que andavam como agora soltos, mandei pintar no seu teto fato que conservam até hoje, e colaboradores voluntários os fotografavam das janelas de seus apartamentos, documentando suas infrações nos principais eixos da cidade. A par disto, eu, pessoalmente, de helicóptero os vigiava, quando podia, periodicamente.

Nas pistas do Aterro do Flamengo, uma ronda permanente de motociclistas os colocava em fila, com um simples toque de sirene.

Como eram obrigados a andar em fila, só se tolerando a ultrapassagem quando o ultrapassado estava parado embarcando ou desembarcando passageiros, colocamos, obrigatoriamente um adesivo na sua janela traseira, reproduzindo a velocidade máxima permitida, de 60 km. Não satisfeitos com este lembrete permanente, em entendimento com a Bosch, selamos as suas bombas injetoras em 60km, verificado periodicamente em suas garagens, quando também mediam a presença de CO, nos seu gases de descarga.

Como toque final, o desligamento de suas buzinas, que utilizavam como caixa de ressonância, infernizando a cidade, garantindo o silêncio e mais cautela ao dirigir. Aplicava o que determina o Código de Trânsito Holandês: só buzine se não puder usar o freio.

Não tive tempo de lhes tirar o pára–choque dianteiro, como os ônibus londrinos, mas sugiro que agora o façam. Irão pensar duas vezes antes de “enfiar o pé” no acelerador.

Estas foram as medidas construtivas, possíveis de se fazer, porque não se visava a arrecadação de multas, uma vez que aprendemos que uma alta arrecadação de multas reflete uma deficiente administração de trânsito, onde o policiamento deve ser preventivo e educativo.

Falei e disse.