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Análise de um esquema de trânsito

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Cumprindo a minha cruzada cívica que exerço no JB desde 1968 de analisar o trânsito, sempre de maneira construtiva, cumpre-me tecer um comentário sobre o esquema de trânsito para o entorno e acesso ao estádio Mário Filho (Maracanã), durante os jogos da Copa do Mundo.

Estou fazendo esta análise sobre o esquema divulgado pela Prefeitura com a bagagem de quem, na última partida de classificação para a Copa de 1970, foi o responsável pelo mesmo trabalho técnico e executou-o, para acomodar um público recorde, no Maracanã, de 160 mil pessoas. Para piorar as coisas, no mesmo dia ocorria o Grande Prêmio Brasil, no Hipódromo da Gávea, o que nos obrigou, a nós do DETRAN GB, a atuar em duas frentes.

O Diretor Geral do Detran orientou de helicóptero o policiamento e os motoristas para o evento futebolístico e o Diretor de Engenharia, também de outro helicóptero, orientou  o esquema de policiamento para a Gávea. Tínhamos, na época, uma equipe de policiamento altamente capacitada, pois eram profissionais da Polícia Militar que tinha um batalhão, o Tiradentes, somente para o trânsito. Além disso, contávamos com a colaboração da Rádio Nacional, que nos emprestou o seu notável e saudoso locutor Jorge Curi que,  ao meu lado, falava o que eu lhe instruía, a fim de orientar os motoristas e o policiamento. Lembro-me de que ao vermos, na nossa ronda aérea, o ônibus da nossa seleção saindo da concentração, em São Conrado, advertimos o João Saldanha, técnico do time, para tomar o caminho do Alto da Boa Vista, inteiramente livre, ao invés do Túnel Rebouças, que estava carregado. Contávamos também com um esquadrão de cavalaria, para organizar o conflito entre pedestres e o tráfego de veículos, no entorno do estádio de futebol. E, finalmente, eu aplicava o que aprendera, em estágio na Alemanha, na cidade de Stutgarte, em 1968, participando do comando do policiamento local para a partida amistosa, Brasil e Alemanha. Aprendi alguns truques essenciais para o sucesso estrondoso que obtivemos, aqui, no Rio, naquela ocasião e, note-se, não havia o metrô.

No esquema atual, preocupa-me haverem colocado todos os “ovos na mesma cesta”, ou traduzindo, confiarem somente o transporte ao metrô. E se funcionar a “lei de Murphy”, acontecendo , como ocorre às vezes, uma pane no sistema?

Sugiro humildemente aos senhores responsáveis que não desprezem o transporte de ônibus, estacionado-os em vagas marcadas e numeradas, no entorno do estádio, em número compatível com a disponibilidade, distribuindo, com a devida antecedência, as autorizações. Outrossim, por que não, utilizar o sistema “park and ride”, quando o usuário estaciona o seu carro longe da área interditada, num local pré-determinado, e pega um ônibus que esteja a este sistema coligado, autorizado a estacionar no entorno, na área interditada aos demais veículos?

Evitariam a proibição antipática às empresas de turismo de não cumprirem o que, dentro de uma expectativa da lógica internacional, esperavam o fornecimento de  transporte para o local do evento, aos seus clientes, em sua maioria turistas.

Existe espaço suficiente em volta do estádio para esta medida. Aliás, adotada por nós quando do público de 160 mil torcedores. Agora não há nenhum motivo de pânico, é apenas a metade daquela época.

E, para encerrar, o pequeno truque, alemão, que evita o conflito da saída de público e dos ônibus: estes últimos, que gozaram do privilégio e do conforto na chegada, só poderão sair, finda a partida, após o escoamento do público, a critério do policiamento.  Em Stutgarte, a espera, e era também, para os automóveis, admitidos nas áreas de estacionamento, junto ao estádio, foi de 30 minutos. O que se perde esperando se ganha depois, com as vias mais livres. 

É esta a minha contribuição para opinar onde não fui chamado e que faço, gratuitamente, até por patriotismo, afinal, o mundo inteiro estará nos vendo pela TV.