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Operação Oxford Street

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Este seria o título da modificação por nós planejada em 1977, quando, prevendo a próxima inauguração do metrô, pretendíamos não deixar coincidir as linhas de ônibus sobre o  trajeto do mesmo, construído exatamente para evitar este fato. Atenderíamos, também, a melhoria da utilização da Avenida Rio Branco, peça fundamental para circulação no centro comercial da cidade (CBD), como o Rio Amazonas é para a velocidade de escoamento de seus afluentes

Iríamos copiar o que Londres, na sua via principal do seu centro comercial, a Oxford Street, já usava há quase meio século, quando, desde o horário do inicio do “rush” matutino até o limite do final do vespertino, só poderiam circular ônibus e táxis, além, é claro, de veículos de socorro. Pretendíamos fazer o mesmo na nossa Avenida Rio Branco, via que, com uma simples observação, já demonstrava ter na sua circulação um número muito maior deste tipo de veículos, em comparação com o de carros de passeio.

O Jornal do Brasil, em excelente matéria publicada na sua edição do dia 19, onde critica a atual desastrada operação da CET RIO, que deveria ter se chamado Operação Tranca Rua, em homenagem à poderosa entidade da Umbanda, onde aparece, entre outras,  a minha opinião sobre o que está acontecendo. Está lá escrito que eu considerei um absurdo adotar na Avenida Rio Brando, mão dupla. Não é bem assim. O que eu disse é que da maneira inocentemente amadorística como foi feita, era um absurdo.

Para provar o que disse, vou lhes descrever como, nos idos de 1977, planejamos fazer o mesmo, ou seja, dotar a avenida Rio Branco, no mesmo horário da Oxford Street, exclusiva para ônibus e táxis..

Em primeiro lugar, Gerardo Penna Firme, meu diretor de engenharia e eu, tínhamos o péssimo hábito de viajar para ver como se faz lá fora e estudar os livros dos grandes mestres do assunto.

Em junho de 1976, viajei até Londres para fazer uma visitação, acertada com o Cônsul Britânico no Rio, dos organismos que geriam o trânsito da maior metrópole do mundo.

Tirei todas as dúvidas, mostrei-lhes o que pretendíamos fazer aprovado, voltei feliz com a inocente ilusão de poder realizá-la, embora ciente de que iria diminuir o “potim de ouro”, que é Avenida Rio Branco, para os que exploram o serviço de ônibus. Tirar algum de  seus carros de lá  é uma ofensa imperdoável. Tão imperdoável que, aproveitando a minha ausência, assistindo a um seminário sobre o trânsito nos grandes conglomerados urbanos (urban conurbations), realizado em Berlim, em junho de 1977, intrigaram-me através da imprensa e, ao voltar, tive que pedir minha demissão, aconselhado pelo governador Faria Lima, então meu amigo pessoal. Em compensação, o secretário de Transportes, participante e articulador da minha queda, foi demitido.

De volta ao Rio, um ano antes, iniciamos a nossa pesquisa, utilizando um inteligente artifício, ou seja, em vez de calcular a velocidade resultante na via, fruto do aumento do tráfego de ônibus e de táxis, calculamos qual o máximo de ônibus compatível com a velocidade resultante desejada, de 60 k/m, que era a  da regulagem da sinalização semafórica existente.

Achado o número resultante, o dividimos pela frota que ali circulava, definindo para os donos das linhas que ali circulavam o novo total máximo de ônibus que por ali poderiam trafegar.

Assim, em cada linha, os ônibus permitidos a circular naquela via ganhariam um dístico, no parabrisas, identificando a sua autorização. Esclarecíamos assim, também, ao usuário do trajeto de seu transporte principal.

Os demais, a sua grande maioria circularia pela perimetral que, até a sua absurda morte, antes da prontificação da sua nova opção, nunca recebeu qualquer linha regular de ônibus.

A fim de facilitar o público, criamos um ônibus circular, apenas para a avenida, com maior número de lugares em pé e muito poucos assentos, singelos, sentados, para os idosos e deficientes.

Quanto aos táxis, nenhuma restrição. Apenas que atendessem ao escalonamento dos locais de parada, para receber e desembarcar seus usuários, sem interferir com os dos ônibus.

Nas travessias de pedestres, do lado cuja mão fora invertida, um aviso no piso, no início da faixa zebrada: Olhe à esquerda, e a seta, a exemplo de Londres, face ao seu salutar hábito  de cultuar a tradição de mão ao contrário do mundo (left hand drive).

Por uma questão de caridade e de respeito à inocência e ao empenho de fazer o que afinal, não sabem como fazê-lo, abstenho-me de criticar os esforçados técnicos da CET Rio. Que os outros o façam. Mas como citei Londres, vou terminar homenageando o seu famoso ex-morador da Backer Street 221b, o personagem de ficção de Sir Conan Doyle, o detetive Mr Sherlock Holmes: “Elementar, meu caro Watson”, como conselho para quem quer que tenha sido o autor do projeto atual da CET Rio.