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Uma praga urbana?

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Com este título, sem a interrogação, o jornal O Globo comentou a matéria sobre o fracasso do “choque de ordem” em disciplinar o estacionamento explorado pelos flanelinhas, que eu prefiro chamar de “os camelôs” do estacionamento. Este problema social, como, aliás, tem o trânsito, como o terceiro do mundo, é muito parecido com o do tóxico e a nossa juventude. Se os pais não cuidam dos filhos, um traficante o adota. Se o poder público não organiza o estacionamento, como um todo, adotando uma política racional, os guardadores clandestinos o fazem, sem racionalidade e caminhando para a formação de quadrilhas, não raras vezes com a colaboração de maus policiais militares.  Cansei de ver, da janela de meu escritório, quando o tinha na esquina da Avenida Beira Mar com a Avenida Antônio Carlos, todas as sextas feiras, uma viatura da Polícia Militar vir recolher, com o flanelinha da área, a féria da semana.

Que eu saiba, o último estudo sério de um plano de estacionamento foi realizado em 1968, na nossa gestão no DETRAN, quando um grupo de urbanistas, engenheiros de tráfego e um representante da direção da Associação dos Guardadores Autônomos e outro da Fundação dos Terminais Rodoviários, que em conjunto, exploravam o estacionamento nas vias de circulação, elaborou um magnífico estudo para o então Estado da Guanabara. Deste estudo nasceu uma planta colorida geral da cidade, onde estavam definidas, em cores diferenciadas, as diversas áreas onde se poderia estacionar e o regime de tempo para fazê-lo. Nasceu também o “Disco de Estacionamento”, para o controle dos locais de estacionamento rotativo, copiando o que existia de Paris desde o final da década de 40.Tão importante e inédito foi este trabalho que, ao ser apresentado ao governador Negrão de Lima, mereceu dele, embaixador que foi e, portanto com vivência internacional, a seguinte observação para o grupo: “Parabéns por este trabalho civilizado”. Ainda coube a nós, quando fora do governo, introduzirmos o tipo de papeleta de registro do período de estacionamento, copiado de Israel, e que foi adotado quando da criação naquela cidade, da área de estacionamento rotativo, no seu centro comercial, com o nome de “Zona Azul” e que, chegou até o Rio, quando de nossa volta ao DETRAN, em 1975.

Causa-me estranheza que o controle de ordem neste importante detalhe do tráfego urbano, uma vez que, todo estudo de tráfego começa com a pesquisa de “origem e de destino”. Não se pode abandonar o controle do destino dos fluxos de carros, sob pena de estarmos cooperando com a desordem que, aliás, já se implantou, no centro do Rio, não esteja a cargo da autoridade responsável, no caso a CET Rio. Deveria ser encargo exclusivo do policiamento de trânsito, orientado por aquele órgão. O controle da irregularidade, erradamente chamada de “praga urbana”, não é nada de impossível, só exige competência, trabalho e a presença da autoridade responsável, tanto a policial como a de engenharia de tráfego, nas ruas, em apoio e até fiscalização do policial, a quem cabe coibir a presença dos guardadores clandestinos, hoje, segundo o próprio noticiário, já organizados e quadrilhas.

Não é uma praga urbana esta irregularidade que, não acredito exista em São Paulo, por exemplo, a julgar pelo que vi quando lá vivi o melhor e mais bem remunerado período de minha vida profissional.

Se desejarem qualificar alguma praga urbana, elejam a omissão do poder público, responsável pelo bem estar do pagador de impostos, que somos todos nós, as vítimas desta sim, verdadeira praga.

Celso Franco, oficial de Marinha reformado (comandante), foi diretor de Trânsito do antigo estado da Guanabara e presidente da CET-Rio.