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Impasse impede ida de desabrigados para tendas em Teresópolis

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Depois de três meses do desastre provocado pelas chuvas na região serrana fluminense, pelo menos 236 pessoas ainda vivem em abrigos em Teresópolis. Em uma das unidades, o Renascer, os moradores reclamam das condições de infraestrutura e pedem para que a prefeitura disponibilize as barracas cedidas pela organização não governamental inglesa ShelterBox, mas a prefeitura e a organização brasileira responsável pelas tendas em Teresópolis, o Rotary Club, divergem sobre a demanda pelas barracas.

A avaliação é de que cada vez menos pessoas precisam das tendas, já que muitas recebem o aluguel social ou retornaram para suas casas. No entanto, o Rotary acusa a prefeitura de "falta vontade política" para a instalação das unidades. "Sem projetos, não temos como manter as tendas aqui", afirmou o sócio-representativo do Rotary Teresópolis, Roberto Estevão, explicando que, para montagem do equipamento, a prefeitura precisa ceder um terreno, banheiros e energia elétrica. "Temos 245 tendas estocadas, mas que deverão ser enviadas para a Bolívia, que manifestou interesse no equipamento, em cerca de duas semanas", alertou.

Diante dos furtos constantes, da falta de privacidade, das condições de alimentação e de organização, moradores do abrigo Renascer acreditam que as barracas ajudariam a dar condições melhores de vida às pessoas que perderam suas casas. "Lá, a gente tem a chance de manter a família unida e sair sem se preocupar", disse a desempregada Cristiane da Silva Correa, 35 anos.

A desabrigada Simone Xavier, 32 anos, lembra que, mesmo recebendo o aluguel social de R$ 500, muitas famílias não conseguem se mudar. "Primeiro, os aluguéis subiram muito. Segundo, os donos exigem um depósito muito alto. E, terceiro, os proprietários têm medo de alugar para a gente com medo da descontinuidade do pagamento do governo", lamentou.

Com a mulher em crise de depressão e duas filhas pequenas, o desabrigado Marcelo Pires também acredita que as barracas podem dar mais independências às famílias. "Estamos abandonados aqui. Às vezes temos problemas com fornecimento de água, os chuveiros queimam e a comida vem em condições ruins. Queremos sair, mas não temos para onde", relatou.

A presidente da organização não governamental Nossa Teresópolis, Rita Telles, também pede que as barracas fiquem na cidade. Segundo ela, pessoas que estão em abrigos temporários como igrejas e casas de parentes não foram consultadas sobre as tendas. "Enquanto a prefeitura não apresenta uma política habitacional, a solução das barracas é interessante", afirmou.

Cada tenda da ShelterBox tem capacidade para hospedar dez pessoas e dispõe de uma cozinha separada com utensílios como purificador de água, fogareiro, panelas, talheres e pratos. As tendas também foram disponibilizadas nas enchentes de Pernambuco e Alagoas, em 2010. Segundo a prefeitura de Teresópolis, desde a tragédia, 38 tendas foram instaladas em dois terrenos.