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Benjamin Grosvenor brilha no Municipal

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Crítica

Benjamin Grosvenor, piano

Recital realizado dia 21 de maio às 17h

Theatro Municipal do Rio de Janeiro

Domingo com a cidade agitada, blitz, passeata, confusão, engarrafamentos, e eis que solenemente sobe ao palco do Theatro Municipal do Rio de Janeiro, convidado da Série Concertos Internacionais da Dell’Arte, o pianista britânico Benjamin Grosvenor, de apenas 24 anos, dono de  uma carreira, além de promissora, muito bem iniciada, para deletar o público que estava no Municipal. Realmente o local era uma verdadeira redoma onde só se ouvia o belo da literatura do piano pelas mãos do artista.

O recital começou com a Arabesque Op.18 de R.Schumann, aliás lindamente, com uma concentração imensa e intimismo profundo, quando de repente tocam as trombetas, ou trompetas, que nada mais são do que o toque de chamamento para o  início de cada concerto, marca registrada da casa. Muitos sustos, uns pensaram até que fosse alarme de incêndio, mas o pianista não se alterou, olhou para o lado direito e continuou a desenvolver a execução de sua música, o que já demonstrou o alto controle que tem sobre si mesmo e sobre o teclado.

Passado esse primeira susto, que muitos levaram, é apresentada a Sonata para Piano K.333 de W.A.Mozart com um estilo bem claro tanto no entendimento do texto quanto na execução, onde era transparente sua bela e fluente técnica, seus pianíssimos raros para uns e comuns para os ouvidos mais exigentes, tão desejados nos grandes artistas, repito nos grandes artistas, um verdadeiro cristal de emoções e beleza. Finalizando a primeira parte do programa a Sonata Op.27 nº2 de L.V.Beethoven, a tão suspirada Sonata ao Luar, que todos amam e que diversos pianistas executam, o que o artista, apesar de correr um pouco no movimento final, traduziu com grande beleza sonora e sobriedade poética.

Começou a segunda parte com a exuberante Sonata para Piano nº2 Op.19 de A.Scriabin, também chamada Sonata Fantasia, que foi traduzida com imenso esplendor. A obra executada, já com uma escrita para um piano cheio, onde os graves e a região grave eram explorados plenamente, mostrou definitivamente que Grosvenor é um grande pianista, além de sua impecável técnica, demonstrou através de seu belo texto uma poesia encantadora, com a realização de pianíssimos lindos e de fortes redondos e muito bem posicionados. Para quem não sabe é muito mais difícil executar um pianíssimo do que um fortíssimo, porque é preciso ter um controle imenso de sonoridade e peso de dedo assim como dominar a ténica específica. Trechos com sentimentos dos mais intimistas foram perfeitamente traduzidos, da mesma forma que trechos plenos, isto é, abrangendo o teclado inteiro, foram muito bem realizados com uma sonoridade muito redonda nos fortes e sobretudo nos graves. Após a realização impecável, é a vez de E.Granados, através de suas Goyescas Op.11, mais uma vez mostrando  como Grosvenor tem a total sabedoria e conhecimento sobre os estilos da literatura musical, hoje em dia cada vez mais raro. As filigranas da música espanhola tiveram em seus dedos o que de mais refinado poderia se esperar. Finalizando o programa a Rhapsodie Espagnole de F.Liszt.

Foi uma bela tarde, onde o tumulto da cidade podia ser grande, mas estávamos em uma redoma, ouvindo o melhor da música clássica, com um pianista jovem no palco, com uma  profunda sabedoria, uma execução refinada e virtuosa e acima de tudo uma inteligência musical impressionante. Sua concentração sensibiliza os mais exigentes ouvintes.

É um exímio pianista, natural, virtuosístico, concentrado, dono de uma invejável palheta sonora e também de uma brilhante carreira.

O Bravo da coluna ao pianista Benjamin Grosvenor.