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Conversando com a pianista Clélia Iruzun

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A pianista Clélia Iruzun está no Brasil para vários recitais de música de câmara. No Rio de Janeiro, a oportunidade de ouvi-la tocando em duo com a violinista Nadia Myerscough será única, exatamente amanhã, dia 10, às 12h30, no Teatro 2 do Centro Cultural Banco do Brasil, com um programa Mozart, Villa-lobos e Marlos Nobre. A pianista mora há vários anos em Londres, onde tem uma vida bem atribulada com seus inúmeros concertos, seu marido e seus dois filhos. Clélia foi a brasileira escolhida no Concurso Internacional de Piano de Santander, em 1987, como a melhor intérprete de música espanhola.

Você foi muito nova estudar em Londres, e a Royal Academy of Music é um lugar definitivamente expressivo para você, com ilustres professores, local privilegiado com a impecável organização britânica. No Rio, não faltam escolas como a Royal de Londres ou a Juilliard School de Nova York? 

No Brasil não faltam boas escolas nem bons professores. Quando estudei no Rio, tive oportunidade de aprender com excelentes professores e seus ensinamentos até hoje me ajudam nas minhas concepções musicais. O que existia na minha época, em que o mundo não era tão globalizado, era uma certa necessidade de buscar um contato com centros musicais mais desenvolvidos tanto na Europa como nos Estados Unidos, não só para tocar para outros professores mas também para ouvir grandes intérpretes e orquestras. O que sinto ainda no Brasil é a falta de investimento nas escolas de musica em geral. O governo precisaria investir mais, porém empresas e pessoas físicas que tenham condições de contribuir deveriam ajudar também. Por  exemplo, conheci um maestro aqui em Londres com grande fortuna pessoal que doou à Royal Academy sua fantástica coleção de instrumentos musicais, incluindo até um Stradivarius, e ajudou também na construção de uma nova sala de concertos que levou o seu nome.  Iniciativas desse tipo certamente fariam uma grande diferença para as nossas escolas.

Seu lado brasileiro é sempre lembrado, tanto nos seus concertos de sucesso assim como em suas gravações. Você gostaria de voltar a viver no Brasil e ter sua classe de alunos? 

Sim, sempre penso que um dia vou voltar ao Brasil e gostaria muito de ensinar uma nova geração de pianistas brasileiros. Recentemente dei masterclasses na Escola de Música da UFRJ e gostei imensamente do contato com os jovens pianistas. 

Você é uma brilhante camerista, seu sucesso com o Quarteto Coull é uma realidade. Tanto na Europa quanto nos Estados Unidos, todos sabem o valor da música de câmera. Na sua opinião, qual será o motivo de pensarem no Brasil - mesmo que poucos, mas o pensamento existe -, que música de câmara é acompanhamento?

A musica de câmara talvez seja a forma mais completa de se fazer música.  É muito diferente de um solo no piano, onde existe total liberdade de interpretação. Às vezes o pianista fica isolado no seu próprio mundo e isso pode levá-lo a uma maneira de tocar inflexível e pouco criativa. Isso é obviamente minha opinião  e, diante de minhas experiências, a comunicação e troca de ideias com outros músicos é extremamente enriquecedora. Vejo claramente os efeitos positivos dessa interação no meu desenvolvimento musical. Acho que o Brasil precisa de mais espaço para música de câmara, mais salas de qualidade com tamanho e acústica apropriadas para que surjam então séries dedicadas a esse gênero. Acho que então a demanda para música de câmara surgirá e como resultado o prestígio.