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Conversando com a professora de canto Eliane Sampaio 

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Uma das grandes damas do canto no Brasil, a professora Eliane Sampaio é um ícone no ensino do canto no país. Estudou na Alemanha, teve e tem grandes alunos, e seus recitais com o saudoso pianista Jacques Klein foram definitivos e memoráveis no cenário musical carioca. 

Eliane, com todo esse invejável currículo,voce é hoje a presidente da Academia Nacional de Música, na qual desenvolve um trabalho de  excelência. Quais são os projetos da academia hoje?

Os projetos da Academia Nacional de Música são dirigidos para a área pedagógica. No momento, estamos trabalhando para tornar exequíveis três projetos – Concertos Didáticos, Revista Histórica e Iº Concurso Latino Americano de Música de Câmara. Desejo ressaltar que os dois primeiros projetos foram aprovados pela Secretaria de Cultura do Estado do Rio de Janeiro e o terceiro teve aprovação do MinC, pela conhecida Lei Rouanet.  Esbarramos, no entanto, na dificuldade em conseguirmos patrocinadores para viabilizá-los. Dirigimo-nos a várias possíveis fontes de recursos e as esperadas respostas positivas não vieram, ou declaravam que os projetos não pertenciam ao seu campo de interesse. Ainda não desistimos e estamos tentando outras possibilidades. Quero enfatizar o quarto projeto, que é a construção da sede da Academia Nacional de Música. Já tivemos três tentativas frustradas, quando a Secretaria de Cultura do Município, através de suas sub-secretarias responsáveis pelo patrimônio e concessão de bens tombados, nos concederam imóveis para restauro, os quais estavam cercados por dificuldades intransponíveis. Continuamos na luta.  É nossa intenção completar o quadro de acadêmicos titulares e, com esta intenção, lançamos um Edital, a ser consultado pelos interessados no site da Academia Nacional de Música, que é o  www.academianacionaldemusica.com.br     

Após ter se aperfeiçoado na Alemanha, onde o ensino da música é uma realidade, tanto na qualidade como nos espaços físicos das escolas de música, como você vê o ensino do canto no panorama atual no país? 

Primeiramente desejo enfatizar que este é um ponto polêmico. Na minha opinião, existem diferentes vertentes para o ensino do canto. Não sei por que no Brasil, e, especificamente no Rio de Janeiro, a técnica alemã goza de má reputação. Ela postula os mesmos axiomas das demais escolas, especialmente da escola italiana – trabalhamos dando ênfase a aquisição de uma voz rica em harmônicos, com dicção clara, que é o resultado do respeito aos harmônicos conhecidos por formantes; ao preparo do corpo para que haja uma conexão excelente entre as suas diversas partes, proporcionando ao cantor uma voz harmonicamente rica e, consequentemente, bem projetada; um apoio eficaz, musculatura distensionada, maleável e ágil. Conhecimentos musicais, históricos e idiomáticos sólidos. Expressividade e comunicação. Naturalmente que existem diferenças pessoais de professores para professores que imprimem à sua orientação didática a expressão da sua própria visão. A minha escola ideal de canto deveria preservar os valores acima descritos, sem tornar este ensino uma polêmica entre nacionalidades. É o que eu gostaria ver institucionalizado no país.      

Os Ciclos Bach fizeram parte de uma época de ouro no Rio de Janeiro. Tivemos o célebre maestro Karl Richter regendo missas,oratórios e paixões, a grande música em toda a sua plenitude. Não está na hora de revivermos esta época, com novos nomes e com elenco brasileiro, talvez? 

Eu adoraria. É uma enorme fatia do repertório para canto que cai no esquecimento, e chego a dizer mesmo que é fruto de uma prevenção gerada pela falta de cultura musical. As dificuldades técnicas, o desconhecimento estilístico, a barreira imposta pelo idioma, o não aprofundamento do estudo da harmonia e do contraponto, tornam os cantores brasileiros pouco inclinados a se familiarizarem com o repertório. Aí, eu incluiria também o repertório da canção de concerto, seja ela de origem alemã, francesa, russa, espanhola, sul americana, enfim de todas as origens. É um repertório que exige um domínio absoluto do desempenho vocal, da arte de cantar.