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37º aniversário "do sistema" pela paz

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Estivemos em Caracas a convite do Maestro José Antonio Abreu, criador e alma-mater do célebre “El Sistema”. Este grande e lendário projeto comemora este ano seus 37 anos de existência e completo sucesso, sendo formado na atualidade por mais de 350 orquestras infantis e juvenis da Venezuela.

O Maestro Abreu é sem dúvida um visionário e um homem capaz de tornar realidade seus sonhos, mesmo que  aparentemente impossíveis.

Passamos aos leitores as emoções vividas na Venezuela, um país onde ao lado de uma exuberante força financeira, advinda de sua riqueza petrolífera, convive paralelamente uma população pobre, onde suas crianças vivem entre a pobreza, a desesperança e seus males como a deliquência infantil e juvenil.

O maestro José Antonio Abreu criou então, na década de 70, o projeto de ensino de instrumentos de cordas direcionado exclusivamente para estes meninas e meninos venezuelanos, despertando neles a esperança de uma vida digna através da música. Hoje este Sistema é reconhecido no mundo inteiro como o mais importante acontecimento na música do século XXI e tem recebido de autoridades como os regentes Abbado, Rattle, Barenboim e Mehta os elogios mais rasgados, e seu consequente reconhecimento. Claudio Abbado declarou publicamente após visitar Caracas: “Hoje em dia a salvação da música de concerto encontra-se nas mãos destes meninos e jovens venezuelanos e é com eles que temos de aprender, aqui na Europa”.

A maratona organizada por José Antonio Abreu entre 7 e 18 de fevereiro, foi intitulada “Con Dudamel por la Paz”, apresentando o ciclo integral das 10 Sinfonias de Gustav Mahler com a Filarmônica de Los Angeles e a Orquestra Simon Bolívar, dirigidas por aquele que se tornou, de um dia para o outro, a estrela máxima da regência mundial na atualidade assim como o mais perfeito símbolo do “El Sistema”. Com convidados ilustres do mundo da música internacional,Mestre Abreu programou, com lucidez e sua reconhecida competência lendária, uma apresentação dirigida e deslumbrante do “El Sistema”, mostrando o seu significado que além de musical,é profundamente social, entusiasmando e comovendo seus especiais convidados internacionais que assistiram, emocionados a uma verdadeira exibição da realidade da atual vida musical naquele país. No dia 15 de fevereiro, as instalações do monumental Teatro Teresa Carreño, foram palco de um fato inédito. Foram realizadas apresentações,dos melhores frutos do El Sistema, que são as Orquestras de Jovens dos núcleos das diversas cidades integrantes do movimento.

O grupo de convidados se deslocava, de um ponto a outro,com os minutos perfeitamente cronometrados pela organização, ouvindo sucessivamente as mais difíceis partituras orquestrais de Tchaikovsky, Berlioz, Berstein, Ravel, Prokofiev, Beethoven, Wagner entre outros, executadas  com uma maestria absolutamente estarrecedora. Os convidados olhavam aquelas crianças, aqueles pré-adolescentes e não acreditavam no som que produziam. A jornada culminaria com a entrada do grupo e do público no Teatro Teresa Carreño,exatamente na grande Sala Rios Reyna com seus 3000 lugares lotados, para a apresentação daquela que é o fruto culminante e mais perfeito do Sistema: a Orquestra Simon Bolívar dirigida pelo seu líder Gustavo Dudamel. Uma verdadeira apoteose de perfeição sonora e de profissionalismo orquestral levando todos ao delírio.

No dia 16 foi a vez de assistirmos concertos no novo Teatro do prédio da Fundação El Sistema, recém inaugurado, com seus 1500 lugares e uma acústica perfeita. Novo desfile deslumbrante de novas orquestras do Sistema, vindos dos mais distantes distritos da Venezuela, com o mesmo nível de profissionalismo e entusiasmo delirante pela música. O concerto finalizou com a Orquestra Jovem Simon Bolívar em uma perfeita versão da Suite West Side Story de Bernstein. Antes teve a apresentação da outra face do El Sistema: o concerto do Coral de Jovens Cegos e Jovens Surdos.

Os primeiros cantando com uma afinação perfeita e os segundos fazendo um balé com as mãos cobertas com luvas brancas,simbolizando uma mensagem comovente de paz ,que mais uma vez levaria o público às lagrimas.

O Ciclo Mahler, realizado pela primeira vez em tal nível de excepcional qualidade na América Latina,teve a participação de duas grandes orquestras. As apresentações com a Orquestra Sinfônica Simon Bolívar foram dias 7 de fevereiro,com a Sinfonia nº2 “Resurreição” (1984), dia 8  a Sinfonia nº 3 (1896), dia 9 a Sinfonia nº 5 (1902), e no dia 10 a Sinfonia nº 7 “Canção da Noite” (1905),tendo em todas estas apresentações a regência de Gustavo Dudamel. Já a Filarmônica de Los Angeles subiu ao palco,também dirigida por seu Diretor Artístico, no dia 11,com a Sinfonia nº 9 (1910),dia 13ccom a Sinfonia nº 4 (1900),dia 15 com a Sinfonia nº 6 “Trágica” (1904) e no dia 16 com as Sinfonias nº 1 “Titan” (1888) e a Sinfonia nº 10 (1910) “Adágio”,que como se sabe,esta sinfonia foi deixada inacabada por Mahler. Finalmente no dia 18 de Fevereiro,foi a culminação do ciclo, com a imensa Sinfonia nº 8 em mi bemol maior “Sinfonia dos Mil” (1910), em duas partes “Veni Creator Spíritus” e “Cena final do Fausto”, com 80 minutos de duração. Nesta sinfonia grandiosa, participaram o Coro Sinfônico Juvenil Simon Bolívar, os Meninos Cantores, a Schola Cantorum e a Schola Juvenil da Venezuela, em uma massa coral que lotou os enormes praticáveis instalados atrás da orquestra, no palco. Atuaram então a Sinfônica Simon Bolívar e a Filarmônica de Los Angeles, dirigidas pelo líder de ambas, Gustavo Dudamel,tendo como solistas Manuela Uhl Juliana Di Giacomo Kiera Duffy (sopranos); Anna Larsson, Charlotte Hellekant, (contraltos); Burkhard Fritz (tenor); Brian Mulligan (barítono), Alexander Vinogradov (baixo). No final os mais de 3000 espectadores foram levados ao delírio, uma verdadeira e imensa festa da música, um tributo que seguramente deixaria Gustav Mahler feliz de ter sua música apresentada com tão elevado grau de profissionalismo e sobretudo envolvimento emocional.

Este é EL SISTEMA uma criação do Maestro José Antonio Abreu que dedicou e dedica sua vida realizando seu sonho monumental e que desperta o respeito e a admiração do mundo musical do planeta.

O BRAVO da coluna a esta concepção que mistura a mais pura assistência social com uma espetacular atividade profissional do exercício puro da atividade musical no seu sentido mais profundo,só restando ao querido Maestro Abreu o Prêmio Nobel da Paz.