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Um adversário temido volta às bancas

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Café, jornal, cigarro. Cigarro, não mais, mas jornal sempre foi fundamental. O JORNAL DO BRASIL ia além, era vício. Bibliotecas eram paraísos para Jorge Luís Borges; o JB era alimento para os cariocas e leitores de outros estados que corriam de banca em banca atrás de um exemplar. “Correio da Manhã”, revistas “Senhor” e “Realidade”, “O Pasquim” e tantos tabloides de literatura atormentaram os nostálgicos, mas não voltaram. O JB voltou. Para fazer barulho bom e peso na leveza das redes. Pedra fi rme em água fl uida. Um adversário temido volta às bancas. 

Caixa de ressonância, guia seguro, imprensa séria, comprometida, consistente, inovadora, tudo combina com o JB. Repórter bom que briga com a matéria e com o editor. O redator que acredita: a matéria mais importante do jornal é a dele, ou a dela – como uma vez eu disse para a então estreante colunista Clarice Lispector.

Os livros não interessavam aos tablets, e os apressados preconizavam: vão acabar. Não acabaram. As vendas de livros até aumentaram 6% no ano passado, no Brasil. E se as vendas dos jornais caem, há sempre um Warren Buff ett que acredita e compra, compra, compra jornais. O jornalismo está impregnado do espírito sequencial, de passagem, de prolongamento e continuidade. Nosso ofício, que começa e se esgota a cada fl uxo, a cada novo dia, é o exercício da permanência, da duração. Por melhor ou pior que tenha sido a edição anterior, o que vale é a seguinte. E depois dela, a outra. É um nunca acabar, ou eterno renascer.

Um grande jornal faz-se com a consciência do tempo e a capacidade de atrair o leitor, todos os dias, para a maravilhosa aventura de saber um pouco mais. Há um caminho aí que é o de fazer pensar. Oferecer alternativas de pensamento e marcar presença, fazer história. Pensar grande. Mario Sergio Conti, em coluna recente, lembrou de “Memórias de um Antissemita”, o romance de Gregor von Rezzori: “O sangue jorra como antes. A única dignidade que se pode manter no nosso tempo é a dignidade de estar entre as vítimas”. No caso do JB, é brigar pelas vítimas. Não é fácil, mas é possível. Agora mais do que nunca.

*Jornalista e escritor, foi editor-chefe do JORNAL DO BRASIL de 1962 a 1973