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Difícil conjuntura

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Nesta semana que passou, em louvável iniciativa, uma emissora de TV apresentou uma série focalizando as dificuldades do trânsito urbano. Por falta de editores especializados, apenas apresentou iniciativas pessoais, ou de grupos, para resolver o mal maior, ou seja, a mobilidade. Não sei se os produtores realmente conhecem o que seja mobilidade urbana ou, ainda, o que seja trânsito resolvido. Como não fui ouvido nem consultado, resta lamentar a oportunidade perdida de esclarecer à opinião pública, num programa de mesa redonda, por exemplo, como se deve enfrentar os problemas existentes, sempre dentro da diretriz básica, de que: Tudo que  se puder resolver mediante medidas construtivas, não deve ser imposto com restrições legais”, conforma nos ensinava Sir Alker Tripp, legendário diretor de Trânsito de Londres,  na década de 30 do século passado.

Entretanto, apesar de me ser autorizado apenas escrever sobre o trânsito, consequentemente, urbanismo, não posso ignorar os efeitos desesperadores da total ausência de segurança em nossa cidade. Somos todos, os seus moradores, prisioneiros de nossas residências. Delas não nos aventurando a sair durante a noite, com sério prejuízo do comércio e do nosso laser.

Ainda nesta semana, assistimos horrorizados ao que aconteceu na maior favela da América Latina, a Rocinha, Também aterrorizante é o número de favelas existentes nos nossos morros, fruto da ausência do poder público federal, em nada fazer para controlar ou evitar a migração urbana que as cria. 

Digo responsabilidade do governo federal porque, em 1977, um grupo da elite do controle do trânsito do Brasil, do qual tive a honra de participar, foi convidado para um simpósio em Berlim, com o título: Controle do trânsito nas Megalópoles. Neste conclave, o melhor a que compareci, dentre tantos a que tive oportunidade de comparecer, tratou-se de maneira séria do problema da migração urbana, para nós brasileiros, uma novidade. Brilharam neste item os técnicos indianos. Ao cumprimentar o seu mais importante representante, respondeu-me: “Se não controlássemos a migração urbana, as cidades da  Índia seriam pior do que elas hoje são”. O excelente conferencista nos alertou de que "se nada mudasse no aspeto social nos países de onde éramos originários (e éramos todos os 25 membros originários do Terceiro Mundo), até a primeira década do século XXI, mais de 50% das habitações seria de favelados, com um aumento incontrolável da violência”.

Repito, isto nos foi alertado em 1977, no mês de julho. De volta o Brasil, todos tínhamos um conceito formado pelo nosso extraordinário professor, da necessidade do controle desta migração e a maneira, socialmente justa, de remover as favelas existentes, num programa para fazê-lo em trinta anos. Pois bem, passaram-se, daquele época até hoje, quarenta anos e nada se fez do que pregávamos àqueles capazes de realizá-lo. Muito pelo contrário, as favelas se multiplicaram em progressão geométrica

Sempre preguei que, como tínhamos o Ministério de Planejamento Econômico, também criarmos um Ministério de Planejamento Urbano, onde deveria fazer parte o Sistema de Administração Nacional do Trânsito. Tive esperanças, quando criaram o Ministério das Cidades. Ledo engano, para seus titulares, com a honrosa exceção do ministro Márcio Fortes, só foi ocupado por políticos, não conhecedores do assunto, graças à maldita política que hoje nos governa. Está sem ser aproveitado, o maior urbanista do mundo, o urbanista Jaime Lerner, como eu, desiludido por tudo o que vê acontecer. Fizeram do Ministério das Cidades um BNH gigantesco, cuidando de construção da casas populares e de saneamento básico. Como diria a grande poetisa Cora Coralina, que tive a honra de conhecer: “Felizes aqueles que divulgam o que aprenderam para que os demais também aprendam”.

É o meu consolo.