Na maré do rebaixamento do Investment Grade do Brasil pela Standards & Poors, que veio apenas confirmar as expetativas já precificadas pelo mercado nas semanas anteriores, cresce o nível de apreensão de gestores e companhias. A atual retração econômica mostra, em muitos segmentos, o patente declínio e expectativas. Segundo pesquisa referente ao 2º trimestre de 2015, divulgada pelo IBGE, o PIB brasileiro apresentou retração de 1,9% na comparação com o primeiro trimestre de 2015, já descontados os efeitos sazonais. Com esse resultado, o País se mantém no estado de recessão técnica. Na comparação com o mesmo período do ano passado, a queda é de 2,6%. Ainda segundo a pesquisa, o setor de Construção Civil sofreu o maior recuo já registrado em um trimestre na série atual das Contas Nacionais trimestrais, com 8,4%.
Na mesma linha, de acordo com informações coletadas pelo Instituto Aço Brasil, a produção de aço bruto teve queda de 3,1% em julho na comparação com o ano anterior e queda de 8,6% no caso de laminados.
Já no lado da demanda, o Consumo das Famílias caiu 3,6% no semestre - a maior queda semestral desde 2002. Não por coincidência, o Índice Nacional de Expectativa do Consumidor (INEC) divulgado pela CNI / Ibope, desde o início do ano, abandonou sua média histórica de 110 pontos, passando a 98,9 em agosto de 2015.
A imediata consequência deste esfriamento do mercado é usualmente a dispensa de funcionários, também confirmada pela pesquisa Sondagem Especial - Emprego, conduzida pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) em Julho, que afirma que aproximadamente 60% das empresas reduziram sua mão de obra. Adicionalmente, a pesquisa também concluiu que as demissões continuarão, pelo menos, pelos próximos seis meses.
Mas certamente cabe o questionamento além da solução mais óbvia. Demissões são usualmente necessárias e trazem certo alento financeiro. Contudo, os períodos de crise são excelentes oportunidades para aperfeiçoar e agilizar processos internos. É a chance para "ajustar as velas" e ganhar eficiência em cobrança, recebimento de receitas e redução de desperdício, complementando as medidas de redução de pessoal, quando necessárias.
Este caminho, muitas vezes ignorado em empresas médias e pequenas, consiste na redução do Ciclo Operacional, minimizando o tempo entre o desembolso a fornecedores (de serviços e/ou materiais) e o efetivo recebimento de suas receitas. Este ciclo é, usualmente, impactado e prejudicado por atividades desenhadas de maneira inadequada, controles ineficientes e sistemas de informação mal modelados. A consequência destes fatos, muito mais do que um mero tecnicismo, se traduz em demora no recebimento, fazendo com que este tempo seja financiado com seu próprio capital.
Analisando a curva dos Depósitos Interbancários (DIs), o mercado projeta um aumento da nossa, já alta, taxa de juros (DI de curto prazo para Janeiro de 2016 com 14,32% de juros). Neste contexto, não é nem um pouco recomendável alongar um ciclo de recebimento por processos ineficazes. É o típico caso onde, paralelamente à redução de pessoal, quando aplicável e necessária, vale a pena tomar a decisão certa e consertar as atividades operacionais mal desenhadas. Vai sair mais barato.
*Herculano Swerts, CRISC, CGEIT, CISA, PMPSócio da Premiumbravo e responsável por projetos de Gestão de Riscos e Processos/Auditoria Interna