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Trânsito - agradável dilema

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Pela vez primeira, em muitos anos de colaboração no JB, tenho um agradável dilema sobre qual assunto devo abordar. Como podem entender, não é fácil semanalmente abordar um assunto de interesse público na área do trânsito que não seja a fácil crítica pela crítica, sem apontar a solução. Desta vez, não. Tirado do noticiário da grande mídia, tenho para escolher: a inaceitável omissão do poder público no descontrole do estacionamento nas vias públicas; a intolerável teimosia, pouco inteligente, de não otimizar o sistema de controle dos semáforos, alimentando-os com informações , “on line”, do próprio tráfego; a informação que recebi, de precioso presente que ganhei, do Código de Trânsito do Panamá de como lá funciona a lei seca, procurando educar e não apenas visando a fabulosa arrecadação que gera. Finalmente, e que será enfocado, o caos do trânsito na Barra, onde resido e, daí, minha escolha,

O planejamento urbanístico do mestre  Lúcio Costa, encomendado pelo governo Negrão de Lima, como o de Brasília, tornou os habitantes de ambos os locais, compostos da cabeça, o tronco e rodas, valorizando o transporte individual, em detrimento do coletivo.

Tenta-se, agora, após se perder o bonde ou o VLT da história, na medida em que não se ocupou o canteiro central da Avenida das Américas, com este excelente meio de transporte, como existiu durante anos ligando a Usina da Tijuca ao Alto da Boa Vista, em linha permanente única, dotada de uma área de desvio, no seu percurso, a fim de propiciar a circulação das duas composições. Agora é tarde, mesmo que o forte lobby dos ônibus concordasse, os arbustos ali plantados, hoje frondosas árvores, teriam que ser removidos provocando a ira dos ambientalistas e do Partido Verde. Restaria o caríssimo transporte de VLT, em pista elevada, como em Miami e, não sei se haveria verba ou interesse em fazê-lo.

Tentei na última década de 90 do século que passou a adoção do transporte marítimo, a exemplo do que ocorre na Costa Brava do sul da Espanha, utilizando o Overcraft, embarcação que não joga e desenvolve 75 km/h sobre o mar, planando a um metro sobre sua superfície, sobre um colchão de ar. Procurei, por uma questão de justiça, os empresários de ônibus (que me detestam) a fim de interessá-los na exploração. Marcamos uma reunião com o representante daquela embarcação, para uma explanação sobre a novidade, que chamei de “Linha Azul” mas, apenas, dos quarenta possíveis interessados existentes, só compareceram quatro representantes dos empresários, sem o menor conhecimento para se entusiasmarem com o assunto.

Nesta semana, a grande mídia, abordou com o título: “O trânsito é uma Barra” o sofrimento a que nós, moradores, sofremos diariamente, para irmos cumprir as nossas necessidades mínimas no comércio do bairro, sem considerar apenas o sacrifício da saída e entrada do bairro.

Os entrevistadas, todos eminentes professores, opinaram sobre as melhorias que advirão com o metrô pronto, em 2016, e o término das obras em curso.

Continuarão, no meu fraco entender, o conflito de interesses, entre o tráfego de passageiros, infrabairro e o dos  extra bairro, o que nos obrigará, por uma questão de conforto, a continuarmos a sermos seres com cabeça , tronco e rodas, utilizando o nosso carro, face a super lotação do transporte de massa disponível.

A solução única em curto prazo do racionamento do uso do espaço das vias existentes, principalmente, a Avenida das Américas, o seu “eixo monumental”, via coletora e de trânsito rápido,o sistema URV, proposto por mim desde 1995 e, não sei se por ciúmes, face à sua lógica simplista ou covardia política dos governantes  não é nem mencionado pelos professores entrevistados. Até lá continuarão as críticas, o nosso sofrimento e as soluções teóricas sugeridas por teóricos que nunca “entraram em campo” para atuar.

Como fecho de ouro a magnífica observação do saudoso e inigualável engenheiro de tráfego, com fundamentação urbanística, Gerardo Penna Firme, quando disse: “O teórico tem diversas explicações para justificar porquê a sua solução não deu certo. O prático, não tem nenhuma explicação para justificar  porquê deu certo”.