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Somos apenas viajantes

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Tenho pensado no melhor caminho para o futuro. Paulo Leminski, em uma de suas poesias, dizia que não acreditava em caminhos, mas eles existiam. Em minha busca, li também Martha Medeiros, que define felicidade como uma combinação de sorte com escolhas bem feitas. 

Sempre acreditei que devem existir caminhos, mas me exaspera não saber onde estão. Depender da sorte e de escolhas corretas para alcançar a felicidade é equivalente a atribuir o nosso destino integralmente à sorte. Digo isso porque, na maioria das vezes, não é possível saber de antemão quando uma solução é correta. Não há um único caminho. Há diversos paralelos. Há também bifurcações e encruzilhadas. Escolher um deles significa rejeitar os demais e recusar as oportunidades que apresentariam. Para cada sim existe um não. 

É fácil reconhecer nossos erros e acertos quando olhamos pelo retrovisor, mas é difícil medir as conseqüências futuras de nossas ações. Por isso, creio que uma regra de bem viver é optar por ter remorsos pequenos ao invés de grandes. Não se pode fazer tudo durante a vida, e tudo que se faz tem um preço. Não há uma só estrada. O caminho de cada ser humano é único, mas deve ser fruto de uma escolha consciente. Mesmo que não seja a vida ideal, a possibilidade de escolher o que fazer muda tudo. Uma boa alternativa é buscar ser hoje melhor que ontem e amanhã melhor do que hoje, procurando a nossa própria verdade e, à esteira de Nietzsche, tentando nos tornar quem realmente somos.

Quando escolhemos errado, só podemos ter paciência. Não somos apenas os nossos acertos, mas também a soma de nossos erros e renúncias. Crescemos quando aprendemos a conviver em paz com o que fizemos de errado. Martha Medeiros afirma que somente nos tornamos adultos quando perdemos o medo de nos equivocarmos. Errar é inevitável. Não somos medidos pelos nossos defeitos, mas pela forma como lidamos com eles. Crescer significa decidir e conviver em paz com os resultados de nossas decisões.

Precisamos lembrar que somos apenas viajantes e de que as nossas pegadas são o caminho, e ele se faz ao andar. Ao andar, se faz o caminho e quando olhamos para trás, vemos a senda que nunca mais iremos pisar. Palavras escritas por um poeta, mas nem por isso menos verdadeiras.

* Marcelo Harger, advogado, é pós-graduado em processo civil, mestre e doutor em direito público.