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Praça Sete: arena das lutas sociais

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A Praça Sete, em Belo Horizonte, é palco dos movimentos sociais e manifestações políticas. Neste mês de julho de 2013 o povo se divorciou das instituiçoes politicas. O jovens saíram do facebook, das redes sociais e foram lutar com o povo nas praças, nas ruas e na avenida. E na Praça Sete este  espaço escancara a revolta, deixando o estômago embrulhado  pelas  injustiças sociais.  O ar  aprisionado no peito  suplica  liberdade. As mãos ficam trêmulas em sentido de combate.  O espírito revolucionário toma conta da atmosfera urbana. Todo militante da capital mineira berrou, entoou palavras de ordem, ouviu e discursou, aplaudiu e gritou “o povo unido jamais será vencido!”, “fora, presidente!”, “fora, governador”, “fora, prefeito!”, “fora, Rede Globo!”, “fora, tirania!”, “fora, miséria!”, “fora, desigualdade!”.

Nestas últimas décadas, participei de muitos movimentos e fui testemunha de outros mais. Quase sempre, antes e depois da passeata, passo pelo Café Nice para beber uma  água e o tradicional e delicioso cafezinho. E nessas ocasiões não deixo de comentar e ouvir opiniões: “Belíssima passeata, justa reivindicação. Este povo me dá orgulho, sabe lutar”. De vez em quando ouço: “Por que será que este bando de folgados não faz bagunça em outro lugar da cidade? Olha como fica o trânsito! Se eu pudesse, fazia coro e dava borrachada nesse pessoal. Desordeiros”. Dessa forma vamos construindo esta cidadania tardia, mas sempre urgente e essencial.

A manifestação é uma espécie de desabafo cívico e ato de comunhão para com os indignados, miseráveis e vítimas da desigualdade social. Desde a minha juventude, no final da década de 70 e início dos anos 80, participo ativamente das manifestações. Vêm à minha mente e ao meu coração as lembranças. A luta contra a ditadura, o brado com o refrão Vai acabar, a ditadura militar vai acabar; Anistia ampla, geral e irrestrita, já. Os movimentos dos operários da construção civil, a luta dos estudantes pela redução da mensalidade, meio passe; a greve dos praças da Polícia Militar; donas de casa; a luta das mulheres pela emancipação; combate à homofobia; marcha dos excluídos; a luta anti-manicomial; greves dos professores, bancários, marceneiros, rodoviários; carreatas; comícios; atos políticos; a briga  dos perueiros com a tropa de choque da PM; a correria dos ambulantes e camelôs; e tantos outros acontecimentos  reivindicatórios. 

Participar intensamente, convocar e organizar uma passeata é uma experiência emocionante e enriquecedora. Todo jovem deveria ser estimulado a engajar-se numa causa.  Desenvolver a sensibilidade para combater o poder envelhecido e paralisante de privilégios. Agregar gente de boa vontade, cerrar fileiras, gritando por mais pão, saúde e educação para todos, com qualidade.

Durante uma passeata a gente sente o maior orgulho ao ver a multidão de companheiros e companheiras unidos, a população aplaudindo e aderindo ao cortejo de cidadania. Todo revolucionário precisa de uma boa dose de ideologia, reuniões políticas e uma passeata para encorajar e aferir o apoio que recebe do povo. Quem não tem causa, não sopra esperança. Quem não se compromete em lutas sociais, não sabe o destino dos injustiçados. Quem não batalha por liberdade, ainda não desejou ser emancipado.

*Antônio de Pádua Galvão, economista, é psicanalista e professor.