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Acende-se o alerta contra o bioterrorismo

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Recentemente, o mundo se assustou com diversos ataques terroristas nos Estados Unidos. Além das explosões durante a Maratona de Boston, um envelope foi enviado ao presidente Barack Obama contendo uma substância chamada ricina.  No mesmo dia da notificação, cerca de 60 associações de biossegurança espalhadas pelo mundo, entre eles o Brasil, receberam o relatório de análise do FBI sobre essa substância, com o alerta sobre os riscos de contaminação.

Esse caso remete a outros ataques bioterroristas, como, por exemplo, com o Anthrax e o sarín, além do vírus da varíola que ainda é manipulado em laboratórios não oficiais de países que se dedicam à guerra biológica. Mas, e a ricina? Essa substância é um veneno encontrado naturalmente em grãos de mamona durante o processo do óleo de rícino, um conhecido laxante. É feita a partir da sobra do processamento dos grãos, em forma de pó ou pastilha, que pode ser dissolvida em água ou em ácidos mais fracos. Esse material até já foi usado experimentalmente na medicina para matar as células cancerosas.

Atualmente, sua única utilidade tem sido como agente terrorista ou de guerra, e a exposição é feita através do ar, em alimentos ou na água. Na década de 1940, foi testada pela primeira vez pelos militares dos EUA como arma biológica. Relatórios acusam que a ricina foi usada na guerra do Iraque, na década de 1980, e também por um terrorista, em 1978, para assassinar um escritor e jornalista búlgaro em Londres, na Inglaterra.

O envenenamento por ricina não é contagioso. O material não pode ser transmitido de pessoa para pessoa, como acontece com a gripe, por exemplo. No entanto, se entrar em contato com alguém que tem ricina em seu corpo ou roupas, estará exposto a ela. Porém, a ingestão de uma pequena quantidade pode ser letal. Uma criança pode morrer caso coma sementes de mamona, e a ricina pura pode levar um adulto à morte entre 24 horas e 72 horas. Por isso é preciso ter cuidado com o descarte desses materiais, já que a substância pode ser extraída com recursos bem simples, sem a necessidade de um laboratório. Após a extração do óleo, o resíduo da mamona tem de ser incinerado imediatamente.

Esse caso aconteceu nos Estados Unidos, mas, e se fosse aqui, em nosso país? Em um cenário de grandes eventos que serão sediados em breve e com representantes de diversas nações, será que teríamos condições de conter uma contaminação? A resposta é simples: não. O cenário atual do país é muito triste e é preciso agir para não termos de sofrer impactos muito graves e sérios, por exemplo, com a liberação intencional ou acidental de um material biológico fatal. O custo de um acidente como esse é incomensurável.

A partir deste ano, o mundo inteiro estará com suas atenções voltadas para cá. Nossas condições são precárias e faltam recursos. Instituições de pesquisa (que detêm a guarda de material biológico de alto risco), hospitais e serviços de atendimento do SUS, em geral, não estão preparados com tecnologias de ponta para garantir a segurança, o controle, o tratamento e a contenção, no caso da ocorrência de um evento como esse.

Esse é um dos temas que serão abordados no Congresso Brasileiro de Biossegurança, que acontecerá em setembro, em Salvador, Bahia.  O workshop Definição de estratégias para a gestão em biossegurança em grandes eventos focará na Copa do Mundo de 2014 e na Olimpíada de 2016.

O congresso é referência na América Latina, além de ser reconhecido mundialmente. O evento irá reunir estudantes, profissionais e associados da entidade no Brasil e em todo o mundo. O encontro contará ainda com a presença da Organização Mundial de Saúde (OMS), o FBI e a Interpol, além de cientistas renomados de diversos países.

 

* Leila Macedo, doutora, é pesquisadora da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e presidente da Associação Nacional de Biossegurança, além de membro da Federação Internacional de Associações de Biossegurança. - www.anbio.org.br/congresso/