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Desafios para um novo partido

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O partido da ex-senadora Marina Silva, a Rede Sustentabilidade, lançada e festejada como a aposta da "terceira via verde" no Brasil, terá pela frente o desafio próprio das instituições políticas, que é oferecer respostas aos anseios da sociedade, por meio de propostas e iniciativas concretas, capazes de gerar transformações e melhorar a vida das pessoas.

Assim, será muito bem-vindo ao debate nacional e principalmente à democracia brasileira se, como prometido pela ex-ministra, o partido se dedicar à defesa de reformas importantes para o nosso país, como a do sistema político, especialmente de questões relativas ao financiamento público de campanhas eleitorais e à fidelidade partidária.  

Vale lembrar que, ao defender a renovação na política, a nova legenda assume posições históricas do Partido dos Trabalhadores, como o limite à reeleição parlamentar, aprovado no último congresso petista, e a realização de prévias partidárias para a escolha de candidatos que disputarão eleições. 

Porém, enunciando-se com um partido sem posicionamento ideológico definido — nem de direita, nem de esquerda, nem de situação, nem de oposição — a Rede Sustentabilidade coloca-se em um campo de neutralidade que, na prática, se revela insustentável. 

Além disso, o conservadorismo de Marina e seu fundamentalismo em relação a algumas questões ambientais e sociais é um entrave a ser superado por este movimento que se pretende a favor de uma nova política. Afinal, submeter questões já bombardeadas por instituições conservadoras a referendos e plebiscitos não só não tem nada de novo como pode representar um retrocesso nas conquistas relativas aos direitos humanos.

Em vários países do mundo, partidos ditos neutros já formaram alianças com forças conservadoras. Foi assim, por exemplo, no México, onde o Partido Verde Ecologista (PVEM) apoiou o candidato vitorioso da direita, Henrique Peña Nieto, nas últimas eleições presidenciais.     

Independentemente da posição que venha a assumir, o maior desafio que a Rede Sustentabilidade terá pela frente será o de formular uma agenda que explicite como pretende acelerar nosso crescimento e aprofundar as mudanças por que o país vem passando, oferecendo sustentabilidade econômica, social e ambiental ao nosso desenvolvimento.

Os dez anos de governo do PT retiraram 50 milhões de brasileiros da miséria, mas, como tem dito a presidenta Dilma sempre que se refere a este feito, o fim da miséria é só o começo. Ainda há muito por fazer, a fim de que possamos assegurar um processo efetivo de inclusão social, construindo uma sociedade ao mesmo tempo justa e sustentável, onde todos tenham acesso aos seus direitos fundamentais. 

Esta última década também foi de avanços significativos na agenda ambiental brasileira, como as políticas bem sucedidas de combate ao desmatamento, a expansão de reservas indígenas e o estímulo à utilização de fontes renováveis de energia, para ficar em alguns exemplos. Mas também aí é preciso avançar.

O desafio de desenvolver políticas capazes de mitigar os desequilíbrios ambientais e de encontrar estratégias de conciliação entre desenvolvimento, inclusão, democracia e sociedade sustentável é premente e de todos nós. Caso se disponha a buscar essas respostas e a promover o debate consistente sobre esse desafio, a Rede Sustentabilidade será de grande contribuição para o país. 


* José Dirceu, advogado, foi ministro da Casa Civil e é membro do Diretório Nacional do PT.