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Uma missão para os adidos agrícolas 

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Em março de 2010, o setor agrícola comemorou a criação da figura do adido agrícola na estrutura do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Hoje são oito adidos alocados nas embaixadas brasileiras de Buenos Aires, Washington, Genebra, Bruxelas, Rússia, Pretória, Pequim e Tóquio, trabalhando para defender os nossos interesses comerciais no setor agropecuário. Um antigo pleito que o setor viu finalmente ser atendido.

Dois anos se passaram, prazo estabelecido inicialmente para a duração da missão designada a esses profissionais, e é chegada a hora de refletirmos sobre sua atuação. Defender nosso país é um grande desafio, sem dúvida, afinal as fortes economias mundiais são pródigas em criar barreiras e regras que impedem a comercialização de nossos produtos. Um clássico exemplo é a restrição imposta pelo mercado europeu para compra da nossa carne, alegando a contaminação por aftosa, sendo que o Brasil, dada sua dimensão, contempla áreas livres certificadas. Ou ainda o questionamento sobre o subsídio agrícola brasileiro, que na última safra ultrapassou os U$ 900 milhões, ignorando o fato de que o subsídio oferecido pelo governo americano aos produtores passou de U$ 20 bilhões e pela Comunidade Econômica Europeia a cifra foi ainda maior.

A despeito dessas manobras protecionistas, nossa economia cresceu, sendo o agronegócio  responsável pela iniciativa de alavancar o superávit da balança comercial brasileira. As exportações do agronegócio brasileiro cresceram 24% em relação a 2010, chegando a US$ 94,59 bilhões, o que correspondeu a 36,95% do total das exportações brasileiras em 2011. A meta anunciada pelo Ministério da Agricultura para 2012 é ultrapassar US$ 100 bilhões, com estimativa de 5,7% de crescimento.

Mas esse resultado positivo esconde uma realidade que em nada favorece nosso país. Nossa pauta de exportação está baseada em commodities, produtos de baixo valor agregado que pouco contribuem para o nosso desejado desenvolvimento sustentável. Com as commodities, exportamos emprego, riqueza e toda possibilidade de desenvolvimento tecnológico para processamento da produção brasileira.

Reverter esse processo é fundamental, e o adido agrícola tem muito a contribuir, focando seus esforços em derrubar as barreiras tarifárias impostas à entrada de produtos processados — muito mais pesadas do que para as commodities. O óleo de soja, por exemplo, tem seu valor tarifado pelos Estados Unidos em 45%, enquanto o grão da soja em 0% para entrada do produto brasileiro.

O mundo tem hoje 7 bilhões de pessoas; a projeção para 2025 é de que serão 9 bilhões. Aliando esse crescimento ao aumento do poder aquisitivo, é certo que haverá substancial incremento da demanda por alimentos. Quem tem vocação para alimentar o mundo é o Brasil, e precisamos fazer isso de forma inteligente. Não nos interessa vender mais do mesmo, mas comercializar produtos de maior valor agregado, criando novas oportunidades de negócio. Em vez de soja, queremos exportar o óleo processado e a carne advinda do gado por ela alimentado; em vez de frango, cortes diferenciados; no lugar do café em grão, seu blend mais precioso. Só assim, nosso país conseguirá crescer sob todos os aspectos, aperfeiçoando tecnologias, criando mais e melhores empregos, aprimorando nossa logística e a qualidade de nossa mão de obra.

Está então colocado o grande desafio para nossos adidos agrícolas.

* Edivaldo Del Grande é presidente da Organização das Cooperativas do Estado de São Paulo e do Serviço Nacional de Aprendizagem do Cooperativismo no Estado de São Paulo.