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Rio+20 e as respostas à crise 

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A poucos dias do início da Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável, a Rio+20, o questionamento mais recorrente e que gera mais divergências entre participantes, formadores de opinião e a sociedade como um todo é quanto às expectativas sobre os resultados do encontro. Um sinal muito positivo, pois independentemente da condução e dos resultados da conferência, está clara a existência de uma grande disposição para o diálogo em torno das questões que serão visitadas pelo encontro.

Mas o que se espera de fato é que os participantes e os representantes das nações, especialmente as desenvolvidas, cheguem a proposições firmes para a aceitação de uma agenda realmente capaz de promover o desenvolvimento sustentável, calçado em suas três dimensões: econômica, social e ambiental.

A expectativa maior é que a conferência consiga desenhar um plano comum que integre crescimento econômico, combate à pobreza e proteção ao meio ambiente. Segundo o embaixador Luiz Alberto Figueiredo Machado, secretário-executivo da Comissão Nacional da Rio+20, apesar das discordâncias, houve um avanço real durante a penúltima rodada de negociações sobre o documento final da conferência: os governos estão convencidos da necessidade de adoção de metas globais de desenvolvimento sustentável e de se estabelecerem os princípios que as guiarão.

No entanto, apesar das confirmações de mais de 120 chefes de Estado, há uma vertente pessimista que não acredita na força da conferência para mobilizar representantes dos países ricos, que estariam muito envolvidos com outras questões, como a grave crise financeira internacional e as eleições presidenciais, no caso dos EUA.

A exemplo do que houve com o Protocolo de Kyoto, que teve sua efetividade real comprometida devido à falta de ratificação de grandes potências, como os EUA, as deliberações e acordos durante a Rio+20 podem ficar restritos se o mundo desenvolvido se abstiver. É um erro grave considerar a crise um impedimento à participação na conferência. A crise, ao contrário, é mais uma forte razão para que se faça o debate e se busquem alternativas a um modelo em franca derrocada.

Os países em desenvolvimento, em contrapartida, terão força representativa no evento, pois confirmaram presença todos os integrantes do BRICs (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul). A presidenta, Dilma Rousseff, além de presidir a conferência, anunciou que irá despachar a partir de um gabinete no Riocentro.

O Brasil tem todas as condições de exercer protagonismo nas discussões, não só por ser o anfitrião mas também por possuir resultados concretos em questões centrais, como eficiência energética e combate à pobreza. Consolidamos o uso de tecnologias de energias descarbonizadas, como a hidrelétrica e a de biocombustíveis, num total de 90% de energia renovável e 46% de energia limpa. Somos uma nação relevante no cenário internacional e, por meio da ação firme do Estado na indução do desenvolvimento econômico e social, estamos incluindo milhares de cidadãos.

O contexto internacional é realmente sensível e de muita incerteza, sobretudo na União Europeia. Exatamente por isso não se deve renegar a oportunidade que Rio+20 oferece de pensarmos novos caminhos para questões cruciais colocadas a toda a humanidade, sejam elas novos desafios ou velhos problemas. E, nesse esforço, podemos encontrar respostas inovadoras à crise.

* José Dirceu, advogado e ex-ministro da Casa Civil, é membro do Diretório Nacional do PT.