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Políticas para o AVC

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O Acidente Vascular Cerebral (AVC como é conhecido popularmente), é a principal doença primária, em números absolutos, que atinge o sistema nervoso central em nosso país, só perdendo para os traumatismos, que são consideradas causas secundárias de lesão. Trata-se de uma doença de alta prevalência, que atualmente deixou de ser uma enfermidade preferencial da população idosa e vem acometendo em maior número também indivíduos jovens, que anteriormente estavam fora da faixa de riscos para essa condição.

Primeira causa de morte e incapacidade por doença crônica no Brasil, o AVC constitui ainda hoje um problema de saúde pública nacional porque vem atingindo, sobretudo, uma parcela economicamente ativa da sociedade. Devido à sua magnitude de acometimento em todas as classes sociais e com uma incidência crescente com o passar dos anos, a doença também é uma questão econômica importante, pois contribui com um enorme déficit da previdência social, que tem que custear proventos para essa classe laboralmente acometida.

Em recente divulgação do Ministério da Saúde para o tratamento do AVC, foi instituído que será ampliada a distribuição de medicamentos e o atendimento a pacientes que se tratam pelo Sistema Único de Saúde, o SUS. Essas políticas foram divulgados durante as atividades do Dia Mundial do AVC, lembrado sempre no dia 29 de outubro em todo o mundo, e com previsão de ocorrer a partir desse ano, cujo objetivo é amenizar o impacto e os danos da doença em nossa população.

A proposta do governo para abordar esse dilema é aumentar os leitos hospitalares, sobretudo os de UTIs, criar novos centros de referência e amplificar a distribuição de medicamentos específicos, os chamados trombolíticos, que “dissolvem” o coágulo, quando a causa é por uma isquemia cerebral; esse medicamento quando utilizado a tempo, pode evitar sequelas e a até a morte do paciente.

Essas iniciativas, apesar de muito importantes, não serão suficientes para barrar o avanço da doença, que vem seqüelando pessoas de uma ampla faixa etária e em todas as regiões do país, em uma curva ascendente de progressão. Novos leitos hospitalares, fornecimento de recursos diagnósticos e medicamentos e atendimento domiciliar, que devem custar 440 milhões de reais aos cofres públicos, como prevêem as novas propostas, são importantes para implementar as esferas secundária e terciária do atendimento público e essenciais para o diagnóstico complementar e tratamento, mas de lesões já instaladas e para o seguimento de indivíduos já doentes.

Mas é preciso mais. Deve-se investir também, e prioritariamente, no processo de prevenção primária: no controle da hipertensão arterial, do diabetes, no combate à obesidade, ao tabagismo e implementar programas de alimentação saudável e atividade física, daí a importância dos programas de saúde da família e das ações de prevenção e promoção de saúde. Essas políticas são essenciais haja vista o poder de destruição da hipertensão arterial e do diabetes, por exemplo, doenças silenciosas, muito comuns, que são muitas vezes mal diagnosticadas e que nesse caso, fornecem subsídios para complicações secundárias, como o próprio AVC ou outras doenças tão graves como o infarto do miocárdio. O envelhecimento saudável também deve passar por essas ações, já que nossa sociedade envelhece a passos largos e isso é um fator agravante e, se não for bem conduzido, contribui para a amplificação dos efeitos da doença.

Educar e orientar a população parece ser a via mais fácil e barata para combater essa epidemia de pacientes “sequelados” pelo AVC. Para reduzir de fato o impacto da doença em nossa sociedade é preciso ter em mente que prevenir ainda é melhor do que paliar ou remediar.

 

Vanderson Carvalho Neri é médico neurologista