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Chamem os PQDs e os fuzileiros navais 

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Em 1981, a Polícia Militar da Bahia entrou em greve, a primeira de que se tem notícia.  O governador era ACM – Antonio Carlos Magalhães.  Em pleno regime militar, decisões rápidas:  os comandantes regionais das Forças Armadas em Salvador reuniram-se, seguindo ordens dos respectivos ministros militares em Brasília (não existia ainda o Ministério da Defesa). De imediato, soldados do Exército e da FAB (Polícia da Aeronáutica) e os fuzileiros navais (FNs) da Marinha começaram a patrulhar a cidade, que foi dividida em áreas geográficas. 

Coube aos FNs uma área complicada, que abrangia o bairro onde se situa a Escola de Formação de Oficiais da PM, o Colégio da Polícia Militar da Bahia e outros quartéis.  Para realizar o patrulhamento de rua, usaram alguns carros da PM-BA, pois a maioria das viaturas dos FNs são de grande porte para uso urbano.  Salvador era uma cidade bem mais tranquila do que a metrópole de hoje, e não houve maiores problemas.  A PM-BA voltou logo ao serviço, e ACM saiu vitorioso. 

Porém, houve enfrentamento sangrento quando um piquete de grevistas tentou retomar um fusquinha da PM das mãos dos fuzileiros navais, e vieram com armas em punho. Agiu-se em legítima defesa. Fuzileiros navais assim como paraquedistas do Exército são tropas de assalto, sabem defender-se, estão muito bem treinados para missões em áreas hostis, e são destemidos e disciplinados.  Deve-se torcer muito para que não haja confrontos entre os grevistas de hoje da PM-BA e as Forças Armadas, assim como com a Polícia Federal.  Isto pode deixar ranços por muitos anos. 

A PF cresceu tanto nos últimos 30 anos que até avião próprio possui, capaz de transportar seu grupo de elite, treinado para prender ou liquidar  bandidos perigosos.  Mas o problema mesmo é de liderança política, de exemplo.

Em 1997, governava Minas Gerais o senhor Eduardo Azeredo. A PM-MG, a mais antiga do país, entrou em greve pela primeira vez, e houve grande manifestação em frente ao Palácio da Liberdade e ao prédio do Comando-Geral.  Houve confusão, tiros e um morto, um soldado.  Azeredo ficou tido como fraco e elitista; seu governo gastava em outras áreas enquanto estaria insensível aos PMs de seu estado. Acabou perdendo a reeleição no ano seguinte para Itamar Franco.

Por outro ângulo, nos quatro anos de Itamar e nos oito de mandato de Aécio Neves, não houve nenhum problema deste tipo. Com bom exemplo vindo de cima e sensibilidade às necessidades, a PM respeitou e cumpriu. Na maioria são jovens e pais de família honestos e dedicados à causa da segurança pública.  Em 2001, a PM-BA entrou em greve de novo, daquela vez sob um governo dito de direita.  Foi uma primeira versão do caos que agora, em 2012, se repete de forma muito mais acirrada.

É uma coisa abjeta observar a postura cínica de alguns políticos nestas situações: enquanto na oposição, logo apoiam ou apoiavam os grevistas; quando no poder, afirmam na televisão que foram surpreendidos pela greve. Ora, então não se sabia que a greve estaria para eclodir? Interessante... Do jeito que a coisa vai, as populações que rezem e os governadores, por favor, exerçam a boa liderança para a qual foram eleitos pelo povo e transmitam o bom exemplo às suas Polícias Militar e Civil (esta pode querer greve também). 

Se continuar assim, tropas de elite como PQDs (paraquedistas) e FNs, existentes para atuar em missões de defesa externa, conflitos e outras situações de guerra ou em apoio a operações humanitárias como desastres naturais, terão de aumentar em efetivo e equipamentos para atender aos problemas de greves de PMs em mais estados da Federação.  A FAB vai precisar de mais aviões para o transporte. 

Se fosse na Califórnia o que acontece na Bahia hoje, a oposição provavelmente já estaria convocando uma recall election para desalojar do cargo o governador e eleger um outro. Os baianos terão de aguentar mais tempo.  Mas estamos no Brasil: o Carnaval vem chegando, o cardeal-primaz vai mediar e com fé em Deus, ninguém mais sairá machucado.  Com tristeza, ficará o saldo dos homicídios e arrastões, além das imagens na TV e pela internet  de um país que se diz a sétima economia do mundo, mas que tem de botar suas Forças Armadas na rua, sob o comando de um general,  para se proteger da própria PM e da falta do trabalho que esta deveria estar fazendo. Que absurdo!   A greve deixou a população desprotegida e causou pânico e vítimas. Mas o abominável mesmo foi a falta de liderança que levou a isso tudo.

* Antonio Carlos Passos de Carvalho, comandante reformado da Marinha, foi presidente da Prodemge (Companhia de Tecnologia da Informação do Estado de Minas Gerais).