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Precisamos de heróis 

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Quase 100 anos depois do naufrágio do Titanic, o acidente com o Costa Concordia revelou ao mundo o quão importante é, de tempos em tempos, surgirem pessoas boas, corretas, que simplesmente façam o que deve ser feito. E como pessoas assim são raras, quando surgem são tidas como verdadeiras heroínas. Daí a conduta de Gregorio De Falco, que mandou o covarde comandante retornar ao seu posto e fazer o que deveria fazer, ser heroico. Não há provas de que isso tenha salvado vidas, ou mesmo diminuído a tragédia, mas simplesmente era o que deveria ser feito.

Embora isso tenha se passado na Itália, país com qualidade de vida muito superior ao nosso (o Índice de Desenvolvimento Humano italiano é o 24º do mundo, e o brasileiro o 84º), lá há uma crise institucional iminente, pois os políticos são vistos com desconfiança, a Justiça não tem sido tão justa, e uma crise econômica se avizinha. E no Brasil? Bem, recentemente a imprensa divulgou que mais de R$ 80 milhões dos nossos impostos vão pagar auxílio alimentação para alguns magistrados federais (que ganham mais de R$ 20 mil por mês e têm 13º e 14º salários),  e que 29 do TJ-SP (Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo) receberam “pagamentos antecipados” de até R$ 600 mil, enquanto seus colegas da Justiça trabalhista do estado do Rio de Janeiro, também a título de antecipação, até R$ 1,5 milhão. E o jornal O Globo, na edição de 23 de janeiro, diz que são mais de 22 mil os cargos ocupados no governo federal por pessoas cujo único requisito é a identificação com algum partido aliado.

Por isso precisamos também de heróis. Que façam o que seja justo e certo apenas porque é o que deve ser feito. Do contrário, tragédias como as das chuvas, ou da falta delas, vão se repetir, e o dinheiro público, que vem dos nossos impostos, continuará a pagar trabalhadores desqualificados ou alguma vantagem para determinada categoria especial de servidores públicos, supostamente melhores que os demais. Daí que beira o ridículo a insistência de alguns vereadores em manter o aumento do número de cadeiras para a próxima legislatura, o que só aumentaria o gasto com o Legislativo e não, necessariamente, elevaria a qualidade dos trabalhos. Afinal, se tem tanta coisa errada no Brasil, porque não começar a consertar justamente pelas câmaras municipais? Não tenho dúvida de que serão heróis os vereadores que abraçarem esta ideia.

* Vladimir Polízio Júnior é defensor público. -  ([email protected])