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2012: um cenário diferente

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O ano de 2011 foi “tenso” por conta da crise financeira internacional. Convocado para solucionar o grave conflito na Zona do Euro, o FMI optou para a sobrevivência, recobrando a confiança, rolando passivos e distribuindo perdas.  A dimensão do problema - a dívida soberana dos países problemáticos a ser rolada em 2012 é o dobro de 2011 - requer um tempo maior para a retomada do crescimento sem inflação.

Com relação à gravidade do quadro atual, a diretora-geral do FMI, Christine Lagarde,  disse que se assemelha em alguns aspectos à década de 30, quando os países se fecharam para sí mesmos e o multilateralismo caiu por terra. Agora, tem-se assistido países aumentarem suas tarifas, criarem obstáculos tarifários e dificultarem os fluxos de capital.

Em 2012, a agitação social deve permear toda a Europa, que vai atravessar seu pior ano de crescimento. Claro que haverá alternâncias nas taxas de crescimento entre os diversos países, melhor para a Alemanha e França, e pior para a Itália e Grécia. Isso porque, a união das moedas que não levou em consideração as enormes diferenças entre os países membros, como a produtividade e o desempenho fiscal, paga agora a conta de anos de fartura e bonança, graças ao crédito farto e barato. 

Nos Estados Unidos o desempenho da economia será um pouco mais animador com um crescimento assegurado de 1% do PIB, conseguindo se afastar das taxas negativas que até então vinham experimentando. Na China, o crescimento também deverá ser ligeiramente menor, entre 7% e 8% a.a, mas a temida inflação se arrefeceu, sem a concretização da expectativa de valorização do yuan, o que poderia agravar a recessão mundial.

Portanto, o cenário para a economia mundial em 2012 levou a uma revisão do crescimento para baixo, diante da gravidade da situação na Europa,  do baixo desempenho da economia norte-americana,  da desaceleração, ainda que positiva, dos países asiáticos e da crítica situação dos países de baixa renda. Será um ano de crédito mais restrito  em todo o mundo.

Com relação ao Brasil, vamos assistir o cenário internacional influenciando o quadro doméstico, e crescer estatisticamente os mesmos 3% de 2011, mas com uma leve sensação de recuperação  de energias, Sem dúvida, vamos experimentar o crescimento da inadimplência e o desemprego poderá até aumentar, mas o reajuste dado de quase 14%  ao salário mínimo, equivalente a uma injeção de recursos da ordem de R$ 60 bi, estimulará o consumo  de bens consumidos pelas classes D e E, como também, nas regiões menos desenvolvidas do país.

A maior seletividade dos bancos na concessão de crédito, dado que encontrarão maiores dificuldades na captação interna e externa, conjugada com a alta inadimplência, repercutirá  na desaceleração do consumo de bens de valor mais elevado. Ainda que os bancos públicos devam atuar de forma mais agressiva no crédito, para amenizar esses impactos,  ele crescerá  menos que o esperado.

Cabe  enfatizar, que o Brasil continua com os velhos problemas estruturais, como um sistema tributário perverso e ultrapassado, que impede a competitividade da economia e não viabiliza o retorno dos bens  públicos  requeridos pelos cidadãos. Tudo isso aliado a uma precária infra-estrutura que eleva os custos logísticos e a uma péssima qualificação da mão de obra, reduz, sobremaneira, a competitividade do produto brasileiro. 

Quanto ao Espírito Santo, o estado  vive um bom momento e outros melhores ainda estarão por vir, se conseguir apropriar melhor os benefícios sociais e econômicos decorrentes dos investimentos que estão aportando em seu território nos últimos anos. Mas esse desenvolvimento ainda é muito desigual nas várias dimensões como renda, emprego  e  acesso a serviços públicos. Essa iniqüidade se materializa concretamente nas diferenças entre níveis de desenvolvimento em seu território, entre regiões e municípios.

É notório que o Governo Estadual terminou 2011 com cerca de R$ 1,7 bilhão de investimentos públicos, mas postergaram-se para 2012 as sérias questões fiscais que envolvem as finanças do estado e dos municípios, decorrentes da reforma do ICMS - que coloca em risco o mecanismo FUNDAP - da distribuição dos royalties do petróleo e da partilha do FPE e FPM. Como é um ano de eleições municipais não é difícil supor o quão difícil será obter o consenso em âmbito nacional. 

Portanto, grandes desafios se antepõem para 2012 e anos subseqüentes. E mais, é crucial pensar urgentemente em uma nova vocação para a economia estadual voltada para a exploração de seu potencial logístico diante do iminente pacto do federalismo fiscal. Com isso, espera-se que ele possa a vir a ser um ator preponderante do cenário nacional. 

* Clóvis Abreu Vieira é economista e sócio da Vieira & Rosenberg Consultoria.