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A privataria petista 

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         Eleito presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo do Campo e Diadema, em 1975, Lula mostrou a que veio, ao se posicionar contra a intervenção estatal na economia e manifestar aversão por discussões teóricas, afirmando que o socialismo estaria na cabeça dos trabalhadores e não nos livros. Com uma visão utilitária da atividade sindical, Lula aproveita-se das circunstâncias da greve que parou o ABC paulista, em 1979, para criar o Partido dos Trabalhadores, iniciativa do agrado dos militares, que já contavam com um sindicalismo de resultados, à americana, e, agora, passariam a contar com um falso partido de trabalhadores para engambelar a massa operária, afastando-a da esquerda autêntica, com o fito de criar um ambiente mais propício à transição democrática, planejada pelo coronel Golbery do Couto e Silva, chefe da Casa Civil do presidente Ernesto Geisel. A cooptação de Lula pelo regime militar dificultou a reintegração política dos anistiados que retornavam, em especial Brizola, temido pelos golpistas de 1964.

         Com a criação do PT, no ano de 1979, em São Paulo, surge uma nova organização sindical, cujo objetivo claro era enfraquecer os sindicatos ligados aos trabalhistas e comunistas, conforme o desejo de Golbery. Lula e o PT apresentam-se, então, como algo novo na política brasileira, fato desmentido pelo tempo, uma vez que sindicalista e partido reprisavam a velha política, em nova roupagem, repleta de ambições e oportunismo.

        Legalizado, em 1980, o PT disputa a sua primeira eleição presidencial, em 1989, com a derrota de Lula para Collor. As tentativas seguintes de chegar à Presidência da República também fracassaram, fazendo com que ele impusesse condições para disputar a sua quarta eleição. Aceitas as exigências, expurga-se o caráter socialista do programa petista e busca-se uma aproximação ideológica com os tucanos.

        Na quarta tentativa de Lula chegar à Presidência da República, em 2002, antes mesmo das eleições, o PT já se rendia ao discurso neoliberal, com a “Carta aos Brasileiros”, uma traição ao nosso povo, escrita e confessada sem o menor pudor. A partir daí, criaram-se as condições para alianças espúrias com os setores mais conservadores de nossa sociedade, de modo a garantir a vitória de Lula nas urnas. Eleito presidente da República, Lula diz que recebeu de FHC uma herança maldita, da qual jamais quis se desvencilhar: eram as privatizações de segmentos estratégicos do Estado brasileiro, verdadeiro assalto ao patrimônio público do país, promovido pelos tucanos que pagaram para vender, por exemplo, a Companhia Siderúrgica Nacional.

        No entanto, ao contrário do discurso para a plateia, responsabilizando o antecessor pela destruição da nossa economia, Lula dava continuidade ao Programa Federal de Desestatização, deflagrado por FHC em 1995, privatizando milhares de quilômetros de rodovias federais, concedendo parte da Ferrovia Norte-Sul para a Vale do Rio Doce por trinta anos pelo valor de R$ 1,4 bilhão, o que proporcionou gordas contribuições à campanha de sua sucessora, e licitando e entregando, criminosamente, 30% do Pré-Sal para concessões, com o apoio da, então, ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff.

        Hoje, muito se fala da privataria tucana, mas pouco se fala da privataria petista, talvez, por esta se dar na calada da noite, de fininho. Seguindo os passos do seu mentor, a presidente Dilma dá continuidade à privatização do Estado brasileiro, na contramão do seu discurso de campanha, quando dizia que era necessário manter os setores estratégicos do Brasil em poder do Estado. A privatização dos bens públicos apareceu mais cedo do que se esperava no governo atual. A Copa do Mundo de 2014 e a Olimpíada de 2016 são uma ótima desculpa para privatizar os nossos melhores aeroportos, altamente movimentados e lucrativos. Nesse sentido, outras medidas privatizantes integram o Plano Plurianual (PPA) 2012-2015 do governo Dilma que propõe a privatização de estradas, do petróleo, da previdência pública, por meio da regulamentação da Lei 1.992/07, que cria a Fundação de Previdência Complementar do Servidor Público Federal, dos Correios, de empresas de energia elétrica e dos parques nacionais com grande potencial de visitação. Tudo isso, irrigado com muito dinheiro público do BNDES, como nos tempos de FHC. A fúria privatista e entreguista de Dilma cobre de opróbrio o povo brasileiro. A palavra de ordem é vender tudo que der para vender, desossar o país, deixando-o sem estrutura para soerguer-se. Para isso, conta com a ajuda da grande mídia, passando a ideia do Estado ineficiente para gerir os serviços públicos, como saúde e educação, e da necessidade da venda das estatais para capitalizar o Estado brasileiro. Como era de se esperar, a “queima” das estatais não capitalizou o Estado brasileiro, muito menos reduziu as nossas dívidas interna e externa, isto porque, na negociação, os governos petistas, à semelhança dos governos tucanos, vêm aceitando títulos públicos adquiridos pela metade do valor de face, moedas podres. É esse o legado petista para as futuras gerações: o leilão das nossas riquezas para os interesses estrangeiros.

Thelman Madeira de Souza é médico