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Projeto Olmos: irrigação e desafio nos Andes

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Em plena Cordilheira dos Andes, no Peru, se inicia o Projeto Trasvase (Transposição) Olmos.

Os leitores podem perguntar: qual a importância desse projeto? Explico. Ele está situado a 900 quilômetros ao norte da capital Lima, na região de Olmos, estado de Lambayeque (14.231 km2), historicamente muito seca, com uma precipitação anual abaixo de 100 mm. No entanto, como observado na região de Juazeiro e Petrolina, no Brasil, as terras são muito férteis e com boa insolação. Ou seja, o que faltava para essa região era levar as águas do Rio Huancabamba, situado nos Andes para as terras baixas.

Mas, como executar esse empreendimento pensado pela primeira vez, em 1924, pelo presidente Augusto Bernardino Leguía (1863-1932) – nascido na região –, visto que o Rio Huancabamba, não obstante estar em plena Cordilheira dos Andes, pertence à vertente do Atlântico (oriental) e, para levar a água para o outro lado, ou seja, para a vertente do Pacífico (ocidental), seria necessário construir um túnel? Esse sempre foi o grande desafio... Mas, ele está sendo vencido.

Para tal, o governo peruano contratou o Concesionário del Proyecto Irrigación Olmos, que constituiu a empresa H2Olmos S.A. (www.h2olmos.com), subsidiária da Odebrecht Perú, responsável pela execução do projeto, buscar financiamento, construir as obras, fazer a operação e manutenção de todo o sistema de irrigação por um período de 25 anos (contrato tipo EPC lump sum turnkey, LSTK).

O conjunto de obras é grande: 1) a barragem Limón no Rio Huancabamba, com 43 metros de altura e 332 metros de comprimento (cota máxima1.123 msnm); 2) o Túnel Transandino, o segundo mais profundo do mundo, com 19,3 km de extensão e 4,80 metros de diâmetro (saída na cota 1.070 msnm. As águas vão correr desde os Andes, através de um canal natural chamado Quebrada Lajas; assunto de um texto específico); e 3) uma grande estrutura de concreto na parte baixa em Miraflores, cota 142 msnm, de onde sairão as águas para o perímetro irrigado.

Soma-se ao desafio de construir o Túnel Transandino – as demais obras não ofereciam maiores problemas –, os caprichos que a natureza, às vezes, nos reserva. E o inesperado aconteceu. À medida que se avançava a escavação, a rocha ia tornando-se cada vez mais resistente a ponto de o equipamento Tunnel Boring Machine (TBM) – conhecido no Brasil como “tatuzão” –, já não mais conseguia avançar. Mas, com a criatividade e empenho dos Colaboradores peruanos e brasileiros e após o reparo do TBM (o equipamento sofreu danos), a escavação, agora com detonações prévias, foi adiante, e logo o túnel estará totalmente concluído.

Assim, o grande sonho de quase um século terá sido realizado e poderemos afirmar que, em alguns meses mais, a região de Olmos, fértil mas sem chuvas, estará recebendo a água do Rio Huancabamba. Esse precioso líquido será transportado por um canal de 15,6 km de extensão com capacidade de 22 m³/s (revestido de concreto) e por tubulações que atingirão 44,6 km. Serão irrigadas duas áreas, uma das quais com 38 mil hectares de Tierras Nuevas, de propriedade do governo regional de Lambayeque, que serão leiloadas, e outra com 5.500 hectares do Valle Viejo e a Comunidad Campesina Santo Domingo de Olmos.

Tanto os ofertantes ganhadores (38 mil hectares), como os atuais proprietários (5.500 hectares) terão a garantia de oferta firme da água contratada para cada área, acesso à rede de rodovias nacionais para o transporte de sua produção e fornecimento de energia elétrica.

A seu favor está a proximidade com o Porto de Paíta (200 km) e os modernos aeroportos de Piura e Chiclayo, ligados através de boas rodovias.Não resta a menor dúvida que a região de Lambayeque, assim como aconteceu na região do Rio São Francisco, se converterá num promissor polo de desenvolvimento no norte do Peru, já que terá um potencial de US$ 660 milhões em exportações agrícolas e agropecuárias, com uma enorme melhoria na qualidade de vida da população.

De acordo com o diretor da Odebrecht Perú Jorge Simões Barata, quando o projeto estiver totalmente implantado, “haverá uma geração potencial de 40 mil empregos, o que permitirá consolidar as bases para o desenvolvimento agroindustrial e o incremento das atividades econômicas em Lambayeque, como comércio, indústria, transporte, educação, moradias e turismo”, entre tantos benefícios que traz um projeto dessa magnitude.

Humberto Viana Guimarães, engenheiro civil e consultor, é formado pela Fundação Mineira de Educação e Cultura, com especialização em materiais explosivos, estruturas de concreto, geração de energia e saneamento