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Ter razão ou ser feliz

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Passamos muito tempo de nossas vidas tentando provar que temos razão, vezes em uma, vezes em outra situação ou questão, quase todas sem importância nenhuma naquilo que nos é mais caro, passamos a vida tentando convencer nossos familiares, amigos, colegas de trabalho e até mesmo os estranhos de que temos “razão” na discussão que estiver em tela naquele momento. Gastamos nisso desnecessariamente muita energia para que no fim da conversa sejamos no mínimo duas pessoas descontentes, frustradas com o desfecho do embate, que nada ganharam de positivo com o episódio.

Qual a importância tem de fato se seu cônjuge ou filhos deixam roupas penduradas no banheiro, apertam o tubo de creme dental pelo meio, se seu amigo acredita que o insucesso do time de futebol é culpa do técnico ou daquele lateral esquerdo, se aquele outro acredita que sua alma só terá salvação se você adotar os dogmas da religião dele, ou se o colega de trabalho ao lado tem mania de ouvir música no computador, por que estressar-se por causa de uma vaga de estacionamento “roubada”, ou uma preferencial no trânsito que não foi respeitada?

            Se você é do tipo de pessoa que se irrita com estes tipos de incidentes, com certeza tem lá as suas razões, mas se você realmente fica transtornado com estas coisas ao ponto de deixar estragar o seu dia ou pelo menos algumas horas dele, você é do tipo que quer ter razão, independentemente da sua felicidade ou da sua saúde pessoal e social. Contudo, não estou afirmando que você deva abrir mão de sua fé politica, religiosa, sua paixão pelo futebol, nem mesmo deixar de lado seus princípios morais, éticos etc, mas, pode acreditar; ninguém consegue ser feliz, quando quer ter razão.

            Eu, pelo meu lado, decidi que não quero ter razão, prefiro “ser feliz”, como disse o mestre Rubem Alves em seus escritos O tempo e as jabuticabas: ”... Sem muitas abuticabas na bacia, quero viver ao lado de gente humana, muito humana; que sabe rir de seus tropeços, não se encanta com triunfos, não se considera eleita antes da hora, não foge de sua mortalidade, defende a dignidade dos marginalizados, e deseja tão somente andar ao lado do que é justo. Caminhar perto de coisas e pessoas de verdade, desfrutar desse amor absolutamente sem fraudes, nunca será perda de tempo. O essencial faz a vida valer a pena”.

Não preciso que as pessoas concordem comigo, nem eu preciso concordar com elas. Tudo que preciso é respeitar as opiniões diferentes e ser tolerante com aquilo que não me é agradável, para que não passe de desagradável e se torne o objeto de minha infelicidade. Assim, vou seguindo meus dias, tentando em cada um deles ser mais feliz do que ter razão. Para que me servirá a razão quando estiver infartado em um leito de hospital ou sozinho na minha velhice? Eu a levarei  para além do túmulo? Poderei compartilhá-la com outros? O que dirão os amigos que não tive?... "Ele tinha razão, mas, coitado, foi tão infeliz!". 

José Geraldo Pires de Almeida é vice-presidente de Eventos AABB e membro do Conselho Municipal de Cultura de Sumaré (SP)