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Defesa: o decepcionante e o preocupante

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        O ex-ministro da Defesa Nelson Jobim perdeu mais de uma, ou melhor, duas boas oportunidades de ficar calado quando declarou seu voto no candidato de oposição. E quando criticou colegas de Ministério, logo quem  deveria dar o exemplo da disciplina e do respeito. Ora, se foi assim, deveria ter deixado o Ministério. Falhou com o ex-presidente Lula e falhou com a presidente Dilma. Pior, nada lhe acrescentou a declaração em face do candidato derrotado duas vezes ter uma das maiores rejeições entre os políticos brasileiros.

        Configurada a saída do ministro, passamos a ter um problema em potencial, quando o Brasil precisa de paz e união para se defender frente à crise que vem aí. E Nelson Jobim vinha sendo hábil, com personalidade e independência para barrar as provocações aos militares, na ação deletéria de grupos que fazem do revanchismo a bandeira de ação política. A cada dia se percebe que a sociedade brasileira efetivamente não está nessa de perseguir militares.

        E não apenas em respeito à anistia, que arquivou processos de réus confessos em atos de terror com vítimas fatais, fatos registrados em livros, inclusive, mas por querer olhar para a frente neste novo e surpreendente Brasil, que surgiu com a eleição de Lula e cresce no atual governo. Temos é de aperfeiçoar e não regredir no processo de pacificação da família brasileira.

        Nelson Jobim não teve a formação política de um mineiro, mas foi respeitado na Constituinte pelo seu saber jurídico, passou pelo Ministério da Justiça e o Supremo Tribunal Federal. Roberto Campos, cujas opiniões aprendi a endossar sem pestanejar, o apreciava pela moderação e bom-senso evidenciados nos trabalhos constituintes. Agora não teria concordado com as atitudes surpreendentes, inexplicáveis.

        Os setores mais responsáveis da sociedade devem estar atentos para que a substituição do ministro não leve inquietação ao país, que não considera desejável uma crise militar.  Afinal, os tempos são outros, mas uma crise militar desfalca a nação de quadros de excelência.

        O embaixador Celso Amorim é marxista-leninista, e turbinado pela militância de sua mulher. O que não o impediu de ter presidido a Embrafilme no governo João Figueiredo. A mais, é discípulo do senhor Marco Aurélio, que guarda antigos ressentimentos e restrições aos nossos militares.

        A presidente Dilma tem recebido manifestações de apreço, recebeu muitos votos entre a oficialidade das três forças, inclusive pela rejeição ao seu opositor.  E ela mesma tem correspondido a estas manifestações, mostrando que, também da parte dela, as divergências são coisas do passado e que só o olhar para a frente conduz à ordem e ao progresso e a fará cada vez mais respeitada. E tem mostrado um ponto em comum com os militares: exerce autoridade e não admite insubordinação nem corrupção. 

        A força da base política da presidente e o respaldo popular confirmado em pesquisas de opinião idôneas abrem a possibilidade de um amplo acordo nacional para as reformas e a modernização do Estado brasileiro, que anda inchado e perturbado pela interferência política. Nos rumos administrativos e na escolha de prioridades.

        Não podemos ficar na de Terceiro Mundo, onde sobrevivem a burocracia, a corrupção, o corporativismo, a política externa dúbia em relação aos valores da liberdade e da democracia. Os companheiros da presidente não têm o direito de alimentar velhos ressentimentos e antigas crenças em relação a instituições e até mesmo países.

        Todos devem ter cuidado na ação administrativa e controlar eventuais incontinências verbais. O momento é de bom-senso. A emenda não pode sair pior do que o soneto.

Aristóteles Drummond é jornalista