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Artigo - O Rio está nu

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A greve dos bombeiros desnudou a situação macroeconômica do estado e do município do Rio de Janeiro. Como é notório, o Rio realizará os maiores eventos mundiais e, para tal, revitalizará sua área portuária, fatores que em qualquer economia ensejariam mudanças auspiciosas quanto ao desenvolvimento socioeconômico, cultural e ambiental da sociedade, constituindo-se numa oportunidade única de reinvenção do Rio num ambiente no qual o futuro se delineará pleno de oportunidades, qualidade de vida e onde todos se sentirão incluídos.

Contudo, qualquer análise dessa economia que vem sofrendo há mais de meio século de uma incúria administrativa, e que culminou com a falência dos serviços públicos e privados, não enxergará motivos para comemorar, mesmo com a tão badalada união entre os três poderes e as enormes despesas oficiais em propaganda para anunciar que o Rio finalmente está mudando.

O que o estado arrecada não é suficiente para fazer frente às suas necessidades, como ficou expresso no uso de dinheiro carimbado para reequipar bombeiros na construção de pontes e num aumento escalonado de 1% ao mês até 2014, entre outros arranjos “necessários” para que a máquina pública não desande. Só para melhorar o salário da PM será necessário disponibilizar R$ 4,6 bilhões, que, além de não existirem, não há no horizonte perspectivas de aumento de arrecadação para viabilizar. Para reverter isto será preciso investir em qualidade de vida, o que é impensável porque a prioridade é a segurança. Só que o secretário Beltrame já afirmou que “nada sobrevive só com segurança”, ou, como se diz popularmente, “se ficar o bicho come e se correr o bicho pega”.

 Na prefeitura a situação é igual ou pior, porque até agora não foi sinalizada nenhuma política pública que minore o atual abismo social que mantém a cidade partida há décadas. Em todo o mundo a revitalização da área portuária serviu para revitalizar economias que tinham problemas iguais ou piores do que os nossos, através de um Master Plan que sinalizava uma âncora clara – a indústria do turismo – pelo seu potencial de unir toda a sociedade, já que ela é a única que movimenta todos os setores simultaneamente. Onde foi empregada como instrumento de transformação, ela apresentou resultados admiráveis e, em curto prazo, com o retorno de dez vezes do capital investido em dois anos, como, por exemplo, em Bilbau.

Só que, no nosso caso, o tal “Porto Maravilha”, cujo “maestro” já foi defenestrado, até agora só serviu para acentuar a partilha ao definir que para o Rio “virtual”, o do falacioso “ciclo virtuoso”, há uma coleta de lixo e uma manutenção urbana privada, pasmem, já que, por tabela, estão admitindo que o serviço municipal é falho e que deve ser feito desta forma (precária) só no Rio que não é “Maravilha”. Como você se sente, meu caro leitor?

 A literatura sobre os benefícios de sediar tais eventos midiáticos é negativa quanto a resultados em revitalizar economias, a não ser quando associados à indústria turística, que por acaso é a vocação natural do Rio, sendo que ela é apontada de forma unânime como a de maior potencial do mundo, podendo multiplicar por trinta o número de visitantes de hoje, desde que um bom trabalho seja realizado.

 A melhor forma de reivindicar melhorias salariais são as greves, o que prejudica a coletividade e desta forma sensibiliza as autoridades que detestam índices negativos de popularidade. Só que estes movimentos ficam esvaziados pela demonstração clara de que não há verba para atender a esses pleitos, por mais justos que sejam, e deixam os grevistas mal vistos.

Chegou a hora de esses movimentos pressionarem por aumentos salariais apresentando opções claras para políticas públicas de resultados, como em outras economias em que as autoridades, pressionadas, agiram e conseguiram mudar paradigmas. A solução está aí, só não enxerga quem não quer ver. Acorda, Rio! E vamos nos unir para revitalizar a economia, priorizando o social, o cultural e o ambiental através de um mecanismo que eternizará o Rio com qualidade de vida, mostrando ao morador sua inserção num futuro digno, como fizeram outras cidades ao redor do mundo.

* José Paulo Grasso é engenheiro e coordenador do Acorda Rio