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Dívida e miséria

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            Dois fatos importantes aconteceram na passagem da presidente Dilma Rousseff por Portugal: a desagradável notícia da morte de José Alencar e a declaração à TV-SIC de que não vai conseguir acabar com a miséria no Brasil, mesmo que fique por oito anos na chefia do governo. Dilma estimou ser de 20 milhões o número de brasileiros nessa situação, quando vivem, segundo ela, com uma renda per capita abaixo de R$ 70.

            O engraçado é que seu argumento principal na campanha eleitoral tinha como meta, caso eleita, extirpar de vez essa adversidade na vida dos desprotegidos que não possuem qualquer expectativa de melhoria. Menos de três meses depois de sua posse, a presidente mudou o seu discurso e passou a argumentar que a partir de um determinado contingente de desamparados as políticas têm de ser personalizadas.

            Dilma esclarece que durante os oito anos de Lula saíram da miséria 28 milhões de brasileiros (maioria, nordestinos), e agora essa política deverá atender setorialmente a partir de um determinado número de pessoas. O problema de cada família terá tratamento específico para, de fato, ter uma ação eletiva, pois, política de massa só se consegue em um determinado tempo. Só depois da posse é que viu isso?

            Por outro lado, o governo Dilma estuda alternativas para socorrer Portugal e tenta driblar dificuldades de uma eventual operação de compra de títulos da dívida portuguesa para ajudar o país irmão a sair da grave crise financeira que atravessa. Já viram que o único jeito para o caso é não comprar títulos como garantia ou, então, que o governo português dê a garantia real de um ativo para suprir a deficiência. Para isso, as reservas brasileiras não terão restrições algumas.

            A verdade é que, a presidente do Brasil fará todo o possível para ajudar Portugal porque não se trata de um parceiro qualquer. Tudo deverá ser executado dentro da legislação brasileira. A relação com os vizinhos será mantida a qualquer custo. A ideia dos portugueses é vender ao Brasil títulos de suas dívidas, que estão em meio a uma das maiores crises da economia europeia. Não esquecendo que essa crise já levou vários países daquele continente a recorrerem à ajuda do Fundo Monetário Internacional, e, mesmo assim, sucumbiram

            Todos os economistas brasileiros importantes sabem que a reestruturação de Portugal é questão que requer muito tempo e o Brasil, em vez de assumir esse risco sozinho, poderá demonstrar seu apoio usando sua larga experiência ou contribuindo de maneira eficaz via FMI. Verdadeiramente, o Brasil não está com essa bola tão cheia como Lula pretendeu transparecer no fim de seu governo.                                                             Resolver problemas de dívidas dos portugueses e deixar 20 milhões de brasileiros famintos sem quaisquer expectativas é que não está correto. Como já não temos mais a presença ativa do ex-vice José Alencar para reclamar dos juros altos que são cobrados pelos bancos, bem que Dilma poderia apelar para esses bilionários banqueiros (levaram vantagem demais no governo petista) no sentido de dar uma guarida aos irmãos lusos, até porque não é possível “descobrir um santo para cobrir o outro”. É ou não é.

            Quem dá aos pobres empresta a Deus!

 

* Advogado e cronista político