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Um ninho tucano cheio de negócios

O ex-genro de FHC foi quem levou a Varig a entrar em recuperação judicial e negociou os ativos dela

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Nos embates eleitorais do 2º turno está faltando uma palavra: genro. Parece ter sido ela extirpada do dicionário do candidato do PSDB. Em dois casos, a palavra pode ter efeito nefasto. José Serra acusa o atual governo de aparelhar as agências reguladoras e esquece de dizer que foi o então genro do presidente Fernando Henrique Cardoso o primeiro escolhido para presidir a Agência Nacional de Petróleo (ANP). David Zylbersztajn foi o interlocutor do setor do petróleo no governo FHC e depois se transformou no grande broker da área petrolífera, promovendo a quebra do monopólio da Petrobras e planejando o esquartejamento da empresa, que recebeu um X para que se tornasse menos dolorosa a partilha. A Petrobras só não migrou para grupos empresariais ligados a Zylbersztajn porque houve um acidente de percurso: a derrota do candidato da situação, Serra, na disputa da Presidência com Lula em 2002.

Zylbersztajn deixou de ser genro de FHC, mas continuou ligado no indissolúvel vínculo de pai dos netos do ex-presidente tucano. Foi o protagonista da segunda tentativa de tomar de assalto o comando da Varig. A primeira tentativa ocorreu exatamente seis meses antes da eleição de 2002, quando os credores oficiais (Banco do Brasil, Petrobras e Infraero) deram uma pane seca na companhia aérea, cortando todos os créditos e o fornecimento de combustível e proibindo o pouso nos aeroportos. Acuados, os acionistas da Varig não tiveram solução e foram obrigados a nomear dirigentes para o conselho gestor. Sabem quem foi nomeado para dirigir a Varig? O ex-chefe da Casa Civil do presidente Fernando Henrique, Clóvis Carvalho, que pousou no comando da companhia ao lado do economista Mendonça de Barros. Encastelados no comando da companhia aérea, os políticos liquidaram todo o passivo que o Unibanco possuía: quase US$ 150 milhões. Carvalho e Barros queriam que os acionistas assinassem um documento que transferia o controle acionário para eles.

A operação que trocaria o Ícaro da Varig por um tucano foi abortada por um fato que eles não esperavam: a derrota do Serra nas urnas. A ligação é tão estreita que Clóvis Carvalho foi futuramente nomeado pelo próprio prefeito José Serra como o seu secretário de governo, o equivalente à Casa Civil na prefeitura de São Paulo. Anos depois, foi o ex-genro de FHC que conseguiu assumir o Conselho de Administração da Varig. David Zylbersztajn tentou a mesma coisa. Ao lado de outros tucanos, forçou ser o fiel depositário das ações de controle da Varig, utilizando como argumento a pressão de um ex-tucano encastelado no governo petista, o Murilo Portugal. O plano naufragou. É bom lembrar que foi o ex-genro de FHC que levou a Varig a entrar em recuperação judicial e negociou o esquartejamento dos ativos da empresa. Se Serra tivesse sido eleito, o então genro de FHC teria promovido a divisão da Petrobras e o ex-chefe da Casa Civil teria encampado a Varig, utilizando a pressão orquestrada pelo Palácio do Planalto.

Na chapa de José Serra, um ex-genro também é o fio condutor de outros escândalos do governo tucano e que seriam abafados com a eleição do sucessor de FHC em 2002. Trata-se de Indio da Costa que viveu com a filha de Salvatore Cacciola, hoje na cadeia, que conseguiu da segunda maior autoridade  monetaria do país, o presidente do Banco Central, Francisco Lopes, uma compensação das perdas que teve com a desvalorização do real. Cacciola é o ex-sogro de Índio da Costa, o jovem candidato a vice-presidente da República de Serra. Um sogrão que foi protagonista de uma potente bomba relógio. A presença dele acaba trazendo de forma involuntária a lembrança de um dos maiores escândalos nunca explicado e que teve o Palácio do Planalto tapando o sol com a peneira.

Cacciola está preso, porém o presidente do Banco Central do Fernando Henrique – o verdadeiro agente deste escândalo – continua solto. Foram os gestores do Banco Central do governo FHC que autorizaram a operação que lesou os cofres da nação em milhões. Ele abriu, junto com os seus diretores, o cofre do Banco Central e entregou uma montanha de dinheiro ao ex-sogro do Indio da Costa. Um escândalo que é detalhado no livro que Cacciola escreveu, mostrando como operavam os bastidores do governo tucano.

A eleição de Serra, em 2002, colocaria uma pedra neste assunto e dificilmente alguém estaria preso, inclusive o ex-sogro de Indio da Costa não seria trazido da Europa. Por outro lado, a operação do ex-chefe da Casa Civil para tomar a Varig decolaria, e o ex-genro de Fernando Henrique estaria garantindo o futuro da família com negócios na área de petróleo e o esquartejamento da Petrobras, que já havia sido aprovado pelo conselho tucano.

Claudio Magnavita* 

Presidente da Abrajet (Associação Brasileira de Jornalistas de Turismo), e diretor do Jornal de Turismo e da Aviação em Revista.