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Antiga Estudantina, fechada há dez meses, reabre como Nova Gafieira

Primeiro andar vai receber público na última semana de agosto

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O casarão bicentenário, de três andares, erguido no número 79 da Praça Tiradentes, estava fechado desde outubro do ano passado. Nos últimos 40 anos, aquele foi um dos endereços mais procurados da região por quem queria “riscar o salão”, aos pares. Uma ação de despejo por conta da inadimplência no pagamento de aluguéis, no entanto, pôs fim à famosa Gafieira Estudantina, que funcionava ali. Mas, ainda este mês, para comemoração geral dos amantes da boa e velha dança de salão, o espaço será reaberto. Rebatizado de Nova Gafieira, passa por reforma nos primeiro e segundo andares e, segundo seu gestor, terá show de Maria Bethânia e João Bosco.

Ao som de ritmos como mambo, bolero, soltinho, forró e chorinho, o primeiro andar reabrirá ao público ainda na última semana deste mês, com ingressos a R$ 25, segundo o diretor artístico da antiga Gafieira Estudantina e atual sócio da Nova Gafieira, Paulo Roberto dos Santos de Souza, o Paulinho da Estudantina.

Já o segundo andar, cujo acesso se dá pela escadaria batizada com o nome do cantor e compositor João Bosco, só deverá ser reaberto em setembro. Isso porque passa por reforma da cobertura do teto, que ganhará forro de PVC.

“Depois do despejo, não sobrou nem uma mesa nem uma cadeira para contar história. Tive que começar do zero e não pude nem usar a marca, que está penhorada, por conta da dívida de pagamento dos aluguéis passados”, conta Paulinho, que firmou contrato de aluguel de R$ 15 mil mensais com a Ordem Terceira do Carmo, proprietária do sobrado.

A estimativa é de que o valor da dívida de aluguéis deixada pelos antigos donos chegue a R$ 5 milhões. Por isso, a marca continua penhorada.

Mas esse detalhe não desanima Paulinho. Responsável por levar à antiga casa grandes nomes como a atriz e cantora norte-americana Liza Minnelli, o violonista Baden Powell, a cantora Maria Bethânia, entre outros, ele planeja uma volta ao passado, em grande estilo.

“Maria Bethânia, que dá nome ao palco, e João Bosco já confirmaram presença. Só estão esperando eu definir a data de abertura do segundo andar”, diz ele, referindo-se ao piso de localização do palco. “Também teremos aulas de dança de salão para iniciantes”, adianta. 

Aqueles que quiserem dar os primeiros passos de dança de salão contarão com aulas ministradas pela dançarina e professora Stelinha Cardoso, que foi primeira parceira de Carlinhos de Jesus.

Responsável pela apresentação das atrações na nova casa de gafieira da cidade, o dançarino Marlon Guimarães  conta que participar da reabertura  é um sonho que se realiza. “Estar aqui sempre foi emocionante para mim. Já sonho com a  estreia da Nova Gafieira”.

Logo na escadaria de acesso ao segundo andar, o Estatuto da Gafieira foi mantido. Nele constam as regras de comportamento adequadas para o recinto. Como tratava-se de um ambiente de gente simples, a ideia era copiar as regras de etiqueta da alta sociedade. E tudo está mantido: homens de short, bermuda, ou camiseta sem manga,  estão proibidos de entrar. Para as damas, shortinho e chinelo, nem pensar. E, no salão, continuam terminantemente proibidos “beijar demoradamente ou escandalosamente”, “cavalheiros colocarem as damas no colo”, “provocar confusões” e “dançar espalhafatosamente, incomodando os outros bailarinos”.

Dito isto, resta aos dançarinos – profissionais ou amadores –  aguardar um pouco. E, como diz a frase pintada no salão da gafieira, “Lembre-se que enquanto houver dança, haverá esperança”.

Memória

Templo da dança de salão no Rio, a Gafieira Estudantina foi tombada como Patrimônio Cultural da Cidade, em 2012. Seu surgimento, no entanto, deu-se em 1929 por iniciativa de dois entusiastas da “arte de riscar o chão”, Manoel Gomes Matário e Pedro, um estudante de Direito, que inspiraria o nome da casa. Seu primeiro endereço ficava na Rua Paissandu, no Flamengo. De lá, ela foi para o Catete, onde permaneceu até 1942, quando se transferiu para o local onde se imortalizou, no número 79 da Praça Tiradentes, à época principal centro do teatro de revista. Por lá, foram gravadas inúmeras novelas, além de 42 filmes nacionais e internacionais. Na década de 30, o Rio tinha 450 gafieiras. Hoje, conta apenas com uma em pleno funcionamento - a Gafieira Elite, na Rua Frei Caneca.